Na live Vozes Responsáveis – Movimento #EuProduzoCerto, três produtores trouxeram as dores e as conquistas de quem planta, cria e respeita o ambiente e as pessoas
Foi cerca de uma hora e meia de conversa. Quase nada diante das décadas de experiência em produção responsável resumidas na noite de terça-feira, dia 23 de novembro passado, durante a quarta edição da série Vozes Responsáveis Ao Vivo. O evento virtual, realizado pela Produzindo Certo, reuniu três produtores de regiões e trajetórias diferentes, mas um mesmo olhar moderno para o agronegócio. “A gente faz tanta coisa boa, respeitamos a questão ambiental e social. Mas poucas pessoas falam sobre isso”, sintetizou o pecuarista Marco Túlio Soares, dono do Grupo Celeiro (de Rondonópolis, no Mato Grosso).
Marco Túlio dividiu o protagonismo da live com a pedagoga e gestora do Grupo Família Stock, Tábata Stock (de Guarapuava, no Paraná) e o agrônomo e sócio do Grupo Condessa, Felipe Matzenbacher, de Mostardas (RS), em uma noite cheia de significados. O evento marcou o lançamento do Movimento #EuProduzoCerto, que tem como proposta justamente valorizar todos aqueles que atuam de forma responsável, buscando eficiência e produtividade, sem abrir mão do respeito aos recursos naturais e humanos.
“O que queremos com o movimento é reunir os esforços de toda a cadeia do agronegócio do campo à mesa do consumidor, para ampliar a divulgação dos bons exemplos, dos números e das iniciativas que demonstram a força da produção responsável no Brasil”, afirmou Aline Locks, CEO da Produzindo Certo.
Assista abaixo à íntegra da live Vozes Responsáveis.
Os participantes da live Vozes Responsáveis contaram seus desafios, conquistas e, sobretudo, seus conceitos e ensinamentos sobre o que é produzir certo. Tábata Stock, de apenas 33 anos, contou que a adoção de boas práticas nas propriedades do grupo vieram de família. Quando eu entrei nos negócios da família, meu pai e meu avô já tinham esses hábitos, principalmente um cuidado muito grande com o meio ambiente, enraizados nas normas, leis e regulamentos.”
Restou a ela, segundo disse, conectar os pontos e dar mais foco nos aspectos questões sociais para levar a empresa a obter inúmeras certificações e bonificações. “Quem trabalha com sustentabilidade sabe que são três palavras (envolvidas nessa questão): social, econômica e ambiental. Eu divido a questão ambiental em duas: a parte agrícola e as questões de segurança, vinculando à questão social.”
Integrante da Plataforma Produzindo Certo, o Grupo Família Stock praticamente gabaritou os itens que fazem parte do protocolo que dá origem ao score socioambiental. Formada em Pedagogia, Tábata trouxe um novo olhar para a gestão da empresa e superou desconfianças de um ambiente predominante masculino. Para ela, a maior aceitação dos conceitos de produção responsável por mais agricultores e pecuaristas passa pela divulgação de exemplos bem sucedidos, assim como fez para implantar suas ideias nas fazendas.
“A melhor forma de convencer os produtores a seguir essa pegada de responsabilidade social e ambiental dentro do agronegócio, é apresentar resultados”, afirmou.
O gaúcho Grupo Condessa tem feito isso de forma exemplar. Há doze anos iniciou o processo de quantificar a sustentabilidade da empresa. “Participamos de um projeto que mensura o ciclo de vida de uma saca de arroz. Fizemos então, a análise de vida com 50 mil indicadores que avaliaram um saco de arroz produzido na propriedade, contra a média do Rio Grande do Sul”, explicou Felipe Matzenbacher, que representou na live o sócio Geraldo Condessa Azevedo.
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“Verificamos que para cada saca de arroz produzido na fazenda nós gastamos 14% menos energia. Se todo o estado produzisse da mesma forma que nós, isso representaria o consumo de 330 mil casas abastecidas em Porto Alegre por ano”, afirmou. “Utilizamos 16% menos água bombeada para cada saco produzido, que seria suficiente para abastecer a cidade de Porto Alegre por dois anos. E emitimos 13,2% menos CO2 equivalente. Isso, em dimensão estadual, pouparia em torno de 11,5 milhões de árvores”.
Os números refletem como a produção sustentável está associada à melhoria da gestão das propriedades.
“O que eu aprendi nesses anos mensurando sustentabilidade é que você é mais sustentável à medida que você é mais eficiente”, resumiu Matzenbacher.
Atualmente, o grupo busca a certificação RTRS para a soja produzida na propriedade, o que o tornaria o primeiro no Estado com esse selo. A Produzindo Certo é parceira da Condessa nesse projeto. Mas, mais do que isso, ele enxerga na empresa uma aliada importante na identificação de oportunidades para gerar mais valor à produção responsável.
Os números representam, não apenas o compromisso do Grupo Condessa em relação ao meio ambiente, mas em entregar um produto sustentável ao consumidor. Da mesma forma, o Grupo Celeiro também investe em colocar o consumidor em primeiro lugar. “A Linha Reserva carrega a certificação da CNB e da Produzindo Certo e, com o QR code, o consumidor tem todo o histórico de produção da carne”, conta o pecuarista Marco Túlio. Para ele, é de extrema importância que o consumidor entenda de onde veio o produto e quais procedimentos fizeram parte da produção. Há alguns anos, o grupo investiu em lojas próprias no Mato Grosso para ter uma comunicação mais efetiva com o cliente e entender as prioridades dele.
“Quando começamos a ter contato com as pessoas, aprendemos o que o cliente queria da carne Celeiro. E mais: o que era mais importante para essas pessoas? A segurança alimentar, a rastreabilidade da carne, e um produto que entrega valores como o respeito ao bem-estar animal, às pessoas que produzem, à propriedade”, conta.
“Nós cuidamos de todo o processo. Desde as pessoas que estão ali na fazenda até o processamento da carne. Com isso, agregamos valor e quebramos paradigmas.”
No entanto, nem tudo são flores quando se fala de sustentabilidade. Os desafios são vários: a começar pelo investimento que deve ser feito para adequar a propriedade aos critérios desejados. “O produtor que está no vermelho não consegue investir no verde”, afirmou Matzenbacher na live Vozes Responsáveis.
Outro desafio enfrentado por quem quer produzir certo é o preconceito sobre o ramo no Brasil e mundo afora. Tábata, porém, tem uma visão otimista sobre a valorização do produtor que produz certo. “Manifestamos pouco e nos calamos diante de críticas ‘sem pé nem cabeça’ e isso acaba deixando uma má impressão do nosso sistema. Mas me sinto responsável como uma pessoa que vai abrir portas. Existem sim, muitas dificuldades e infinitas barreiras. Mas quanto mais produtores tiverem essa responsabilidade com a terra, com a sua atividade, cliente e com o planeta, as coisas vão começando a melhorar.”
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