O projeto da produtora Carolina Barretto para criar uma força feminina na produção de carne bovina
“A presença da mulher na gestão da pecuária impacta de forma positiva a produtividade”. Quem diz a frase é Carolina Barretto, profissional com uma vida dentro de fazendas – vem de uma família de produtores rurais – e mais de quinze anos de experiência em programas de relacionamento entre a indústria da carne e criadores de gado. A afirmação é apoiada em indicadores coletados por anos e que agora são base para uma iniciativa que ela acaba de lançar: o movimento Pecuária Feita Por Mulheres.
Na próxima quarta-feira, dia 16, a ideia de Carolina sai definitivamente do papel e ganha forma em seu primeiro evento público, um encontro virtual com especialistas para tratar do mercado de carbono. “É o assunto do momento, mas pouca gente realmente entende”, afirma. O debate vai contar com a presença de Mariane Crespolini, diretora de Produção Sustentável e Irrigação do MAPA, Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade para a América Latina na Bayer, Fernando Sampaio, diretor do Instituto PCI (MT) e Rodrigo Paniago, sócio da Boviplan Consultoria. (O evento é gratuito e as inscrições podem ser feitas clicando aqui.)
Será apenas uma amostra das ambições do Pecuária Feita por Mulheres. Nas próximas semanas Carolina pretende dar o próximo passo, realizando o primeiro curso voltado para levar às mulheres do mundo da pecuária conceitos da prática dentro das fazendas a partir de uma ótica exclusiva. Durante anos, ela se dedicou a avaliar a presença feminina na atividade e, em parceria com a Boviplan, identificou uma série de indicadores que podem servir como referência para o aprimoramento da gestão do setor.
“Nos últimos anos vimos muitas mulheres entrando no setor, eufóricas, mas sem saber qual o melhor caminho”, diz Carolina. “Durante muito tempo, dizia-se que elas ingressavam na pecuária pelo amor ou pela dor, ou seja, quando casavam ou ficavam viúvas e se viam diante da necessidade de tocar o negócio. Hoje, profissionais das ciências agrárias entraram no mercado e estão subindo a régua da produção animal. Quero justamente reunir mulheres que estão iniciando na pecuária e promover o conhecimento, levar indicadores para que elas utilizem seu potencial ao máximo”.
O curso presencial ainda não tem data confirmada, mas deve reunir em torno de 20 mulheres em Piracicaba durante três dias. Lá, elas serão expostas a uma dinâmica em que analisarão casos reais de fazendas e tentarão encontrar soluções a partir dos indicadores apresentados. “A vida prática na fazenda não tem manual, não tem escola”, reflete Carolina. “Muitas delas tentaram buscar conhecimento on line, mas o excesso de informação as deixou perdidas”. No curso, elas também participarão de um workshop sobre qualidade da carne e até um passeio de balão.
“Não queremos que seja um simples evento, mas fazer com que a visão panorâmica que elas terão sirva de analogia sobre um olhar diferente que elas podem ter do negócio: como podem fazer melhor, regenerar o ambiente que já foi tão degradado e que já foi visto como vilão. E que elas possam falar que produzir carne no Brasil é legal, sou uma mulher que faço isso e mereço ser reconhecida”.
Olhar feminino
A pecuária feita por mulheres, garante Carolina, é naturalmente influenciada pela vivência feminina. Elas são mais atentas a indicadores como o escore corporal para emprenharem, o nascimento de bezerros e peso ao desmame, por exemplo, que são regularmente melhores nas fazendas geridas por elas. “A mulher tem um foco maior na cria, vive isso no próprio corpo. Tem o ciclo, entende a reprodução na própria pele. Por isso, cuida mais das vacas”.
Segundo Carolina, também os indicadores socioambientais costumam ser diferenciados graças ao olhar feminino na atividade. “Elas prestam atenção a coisas pequenas que fazem o trabalho render muito mais. Cuidam mais da família dos peões, se preocupam com a moradia, a escolaridade dos filhos, a conectividade. A mulher tem uma energia natural de cuidar, nutrir, proteger. E o empregado que se sente acolhido relaxa e trabalha melhor, com mais fidelidade”.
A confiança nesses indicadores faz Carolina já pensar nas próximas fases do seu projeto. A primeira é criar um grupo de mulheres que se identificam com os mesmos conceitos e difundi-los. Uma segunda etapa seria identificar a oferta de animais produzidos de acordo com esses indicadores e oferecer para o mercado como um diferencial de manejo responsável e de qualidade. “Queremos construir oportunidades de negócios, já temos indústrias interessadas” afirma. E no futuro, por que não, criar uma marca própria, certificada. “O sonho é ter um selo como o Produzindo Certo no rótulo”, afirma.
Contatos com o Pecuária Feita por Mulheres devem ser feitos pelo perfil no Instagram: @pecuariafeitapormulheres.
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