Gerente regional para América Latina do P4F, Felipe Faria aponta potencial de novos negócios ligados à produção responsável como agente de uma transformação na agricultura
A consolidação da Plataforma Produzindo Certo, criada para compilar e tornar acessível as informações sobre o perfil e desempenho das fazendas baseadas em critérios sociais, ambientais e produtivos, abre agora novos caminhos de atuação. Lançada em 2020, a nova plataforma da empresa automatizou processos, melhorou interfaces e a conexão com satélites para apoiar o monitoramento. Também permitiu a expansão das propriedades verificadas e do número de empresas, tradings e mecanismos financeiros que buscam apoio e transparência para a gestão de suas cadeias de fornecimento e tomadores de crédito
O objetivo, agora, é tornar a plataforma um local onde negócios sustentáveis aconteçam, um hub de oportunidades verdes. De um lado, ela dá visibilidade e transparência aos produtores que adotam boas práticas em suas fazendas, com indicadores de desempenho verificados e atualizados e traduzidos no score Produzindo Certo, e na outra ponta, empresas de serviços e insumos que o produtor necessita ou mesmo compradores em busca de commodities.
Um apoio fundamental nesse sentido vem do Partnerships for Forests (P4F), programa financiado pelo governo do Reino Unido como parte de seu apoio internacional à adaptação e mitigação em função dos impactos das mudanças climáticas, acelerando iniciativas de uso sustentável da terra, redução do desmatamento e valorização da floresta. A organização foi parceira e financiadora na primeira fase de desenvolvimento da Produzindo Certo como um negócio, um componente fundamental para acelerar a expansão e a escala das ações de apoio ao produtor rural. Recentemente, renovou seu apoio na empresa, disponibilizando recursos para ampliar a atuação e a geração de valor da plataforma, com vantagens para o produtor.
“Vejo possibilidades no caminho do crédito, de clubes de desconto, de programas de milhagem, de originação preferencial, prêmios, acesso a créditos diferenciado e novos mecanismos financeiros. O produtor poderá ter acesso a melhores insumos, parceiros, assistência técnica e melhor tecnologia”, avalia o gerente regional para América Latina do P4F (Partnerships for Forests), Felipe Faria.
O investimento conquistado pelo apoio do P4F vai viabilizar as melhorias na plataforma da Produzindo Certo para que o hub seja efetivo e viabilize a conexão de produtores, empresas e serviços na web, incluindo ainda medidas de segurança e privacidade dos dados dos usuários, em acordo com a Lei de Proteção Geral de Dados (LGPD). O projeto também inclui a expansão das competências internas da empresa, com a contratação de um consultor em novos negócios e business innovation para ajudar a pensar os novos serviços e negócios que a plataforma pode viabilizar para o produtor rural. Além disso, a comunicação com e para o produtor rural está sendo reforçada.
O P4F (Partnerships for Forests) é implementado por dois parceiros internacionais de excelência no apoio técnico para o crescimento inclusivo e em incubação de soluções em sistemas econômicos regenerativos, a Palladium e a Systemiq.
“Vejo uma capacidade incrível de transformação para o produtor”
Confira a seguir a entrevista de Felipe Faria ao blog da Produzindo Certo:
1. Na sua avaliação, quais são os diferenciais da Produzindo Certo?
Felipe Faria: A assistência técnica tem muito valor, envolve conhecer bem o planejamento da propriedade e da produção, os mercados, a legislação ambiental, trabalhista. Oferece apoio a partir de um diagnóstico e de um plano de melhoria.
Vejo uma capacidade incrível de transformação para o produtor. Ele passa a olhar e valorizar coisas que ele não fazia. Entender como ele pode estar mais bem conectado com as empresas que valorizam isso também. E como adicionar valor para propriedade dele, não só econômico, mas também valor ambiental e social. É o grande diferencial que a Produzindo Certo oferece.
2. O que atraiu o P4F para renovar a parceria?
Felipe Faria: Quando conseguimos ter um produto (a plataforma de dados) que adiciona valor para o produtor, o varejista e o processador de alimentos, começamos a vislumbrar uma série de oportunidades para inserir novos serviços. Você tem de um lado o fornecimento e do outro o comprador. O produtor não precisa só de assistência técnica. Gosto de pensar em três blocos: acesso a crédito, assistência técnica e acesso a mercado. Para cada um existem possibilidades de adicionar serviços que possam agregar valor e criar esse hub de sustentabilidade agro.
Vejo possibilidades no caminho do crédito, de clubes de desconto, de programas de milhagem, de originação preferencial, prêmios, acesso a créditos diferenciados e novos mecanismos financeiros. O produtor poderá ter acesso a melhores insumos, parceiros, assistência técnica e melhor tecnologia.
A gente acredita muito no modelo. A Produzindo Certo sempre foi um parceiro muito competente, aberto a ouvir e fazer conexões. Em sustentabilidade ninguém faz nada sozinho – e o Partnerships for Forests tem na formação de parcerias a sua visão de mudança.
3. Quão inovador é esse modelo?
Felipe Faria: A agricultura está passando por uma transformação gigante. Diferentes atores de uma mesma cadeia de valor terão que trocar muito mais informação. O produtor que produz sustentavelmente vai ter que comprovar isso – e terá que abrir seus dados. Quem vende para o consumidor tem a mesma responsabilidade e também terá que abrir informações.
Para avançar na sustentabilidade, os diferentes players da cadeia precisam trabalhar de forma mais cooperativa, dividir seus dados, os riscos e os custos. Um ator como a Produzindo Certo traz a inovação necessária para fazer isso acontecer. E consegue conectar essas pontas de uma forma muito interessante. A Produzindo Certo pode ser um parceiro de todo o produtor rural.
4. Como você avalia os desafios para quem produz no país?
Felipe Faria: É um momento crítico. Por um lado, tem um setor do agro claramente posicionado e comprometido com o avanço da agenda, que quer implantar projetos de carbono na sua propriedade, que reconhece a importância do código florestal. Por outro lado, uma porção menor, mas que faz um barulho imenso, atrelado ao enfraquecimento das políticas de comando e controle. É muito preocupante. E infelizmente a gente não tem tempo. A quebra da safra do milho para muitos já é um sinal claro de como as coisas estão mudando. A geada que ocorreu este ano também. Esses eventos, que estão chamando de excepcionais, não serão mais excepcionais.
5. Como melhorar a conexão entre o produtor, as empresas e o mercado?
Felipe Faria F: Quem é o protetor da floresta? É o produtor que está ali no dia a dia, com os desafios de pagar a sua conta, dos riscos climáticos, de perder uma safra inteira. E hoje esse produtor ainda não é recompensado pela proteção da floresta. Ele está gerando um serviço global e, de certa forma, está perdendo. Ainda não existe uma remuneração estabelecida, uma política e estrutura que permita que isso seja feito em escala.
Como a gente vai impedir o produtor que legalmente pode desmatar e ter receitas imediatas em lavoura e pecuária e incentivá-lo a manter a floresta? Por outro lado, se todo mundo desmata, acaba a água, a chuva já está diminuindo, e isso prejudica a agricultura.
Estamos exatamente nesse momento de transição, muito crítico. Não é simples a comunicação porque existe muita notícia falsa, falta de entendimento sobre a ciência. Temos que nos preocupar em saber comunicar. E eu acho que isso também pode ser um papel da Produzindo Certo, que fala muito bem com o produtor. A ciência não consegue dialogar com o produtor, são línguas tão diferentes. Acho que a Produzindo Certo está super bem-posicionada para ser um ator que vai acelerar isso.