Diretor de Sustentabilidade da Bayer, Eduardo Bastos tratou na série Live Vozes Responsáveis Ao Vivo de alternativas para fazer deslanchar de vez o mercado de carbono para a agricultura
Vindo da Alemanha em novembro do ano passado, o diretor de Sustentabilidade da Divisão Agro da Bayer no Brasil, Eduardo Bastos, pegou o carro e percorreu Campinas, Jaguariúna, São Carlos e Rio de Janeiro para conversar com especialistas em diferentes unidades da Embrapa: Informática Agropecuária, Meio Ambiente, Instrumentação e Solos. Sua missão era executar um plano no nível do campo, junto com produtores rurais, para melhorar as ferramentas e construir uma referência adequada para quantificar o sequestro de carbono pelo solo em condições tropicais de cultivo. Dessas conversas, surgiu uma cooperação técnica entre a Bayer e a Embrapa para apoiar a consolidação de um mercado específico de carbono para a agricultura no País.
Muito já se falou sobre o potencial do carbono em viabilizar fluxos adicionais de receita aos produtores, e a precificação dos serviços ambientais prestados pela agricultura. E muitos produtores rurais se decepcionaram com a oportunidade frustrada de acessar novos meios de remuneração relacionados à redução ou à captura de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Para Eduardo, a agropecuária ainda não conseguiu decolar nesse mercado por conta de dificuldades de monitoramento e verificação dos volumes de carbono capturados e estocados no solo a partir das boas práticas de manejo adotadas. No ano passado, o mercado de carbono movimentou US$ 214 bilhões, boa parte destinada a projetos de energia e transporte. Das 80 bilhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera globalmente, 14 bilhões se originaram no campo.
Eduardo Bastos detalhou a Iniciativa Carbono Bayer no segundo episódio da série Vozes Responsáveis Ao Vivo, com bate-papos realizados no perfil da Produzindo Certo no Instagram. O projeto em parceria com a Embrapa envolve 500 agricultores de 14 estados. As propriedades somam 60 mil hectares, de portes variados. Todos eles dispuseram pelo menos 120 hectares de lavoura para participar da análise de métodos e técnicas inovadores e de baixo custo para monitoramento e verificação dos estoques de GEE no solo.
O trabalho foi estruturado em três frentes: disseminação das melhores práticas agrícolas para captação de carbono e armazenamento no solo; desenvolvimento de ferramentas para medir, reportar e verificar esses estoques com tecnologias mais eficientes e de menor custo; e o fomento do mercado de carbono na agropecuária, auxiliando sua regulamentação no Brasil e conectando o produtor rural ao mercado interessado em créditos de carbono.
“Não estamos falando de nenhuma tecnologia da Nasa”, ressalta Eduardo. “O Brasil é um dos pioneiros em transformar Agricultura de Baixo Carbono (ABC) em política pública. Por exemplo o plantio direto, a integração Lavoura-Pecuária, fixação biológica de nitrogênio no solo. O Brasil é reconhecido como potência ambiental e agrícola. E a gente pode trabalhar os dois. O Brasil pode ser essa potência agroambiental. Como a gente traz essas ferramentas para provar que a gente é?”, explica.
Inicialmente, o projeto da Bayer está em desenvolvimento com um grupo piloto de agricultores de milho e soja no Brasil e nos EUA. Mas ele deve ser expandido a outros países e cultura a partir de 2021. A iniciativa faz parte do compromisso da empresa de ajudar a reduzir em 30% as emissões globais de GEE da agricultura, algo em torno de 14 bilhões de toneladas de carbono retiradas da atmosfera. Parte dos resultados devem ser apresentados durante a Conferência do Clima (COP 21), em dezembro do ano que vem, em Glasgow, na Escócia.
Além dos efeitos positivos no clima, o armazenamento do carbono que iria parar na atmosfera também significa mais matéria orgânica no solo. A terra mais fértil aumenta a produtividade e reduz custos com agroquímicos. Tudo isso aumenta o rendimento do produtor rural e diminui os riscos de quebra de safra, além de outros prejuízos. “Essa estratégia tem um nome chique, de-risking, que é tirar risco. O dinheiro está diretamente associado a risco, se eu reduzo o risco, deveria reduzir o custo do dinheiro. É por isso que hoje tem uma agenda enorme de green bonds”, finaliza.
Uso de agroquímicos
Eduardo Bastos também abordou o uso de defensivos, fertilizantes e outros agroquímicos, tema que suscita cada vez mais interesse dos consumidores. E como a Bayer vem trabalhando o tema. Outro compromisso da empresa é melhorar a vida de 100 milhões de pequenos agricultores familiares no mundo. “Parte disso é substituir por soluções biológicas, mas não só. Estou falando de melhoramento convencional, edição gênica e de agricultura digital. A gente consegue acompanhar, o produtor consegue saber o momento exato da aplicação. Ele não aplica nem mais nem menos”.
E ressalta a importância da assistência técnica aos produtores para a obtenção dos melhores resultados – a extensão rural, o apoio para a adequação de técnicas e a adaptação dessas práticas para as características de cada região. E é preciso muito conhecimento do campo e proximidade com os agricultores para atender às suas necessidades. Eduardo ainda reconhece a necessidade do comprometimento das empresas no apoio aos agricultores.
“Vejo com muita clareza um papel preponderante do setor de insumos, defensivos, sementes, tecnologias digitais, tratores. Uma capacidade enorme para ajudar o produtor brasileiro a fazer melhor. Ele já é mais sustentável comparado com outros do mundo. Mas sempre dá pra fazer melhor”.
Assista à íntegra da live
Algumas opiniões de Eduardo Bastos
- “Por enquanto, o dinheiro verde é só mais barato. No futuro esse vai ser o único dinheiro”.
- “Toda empresa listada em bolsa, cerca de 90% delas, têm compromisso de zerar carbono. Muito vai vir de redução, mas elas também terão que ir para o mercado comprar (créditos). A gente quer que pelo menos R$ 1 bilhão saia da mão dessas empresas e vá para as mãos dos produtores. A estrada é boa”.
- “Essa é a estrada que a gente quer caminhar com os produtores. De chegar lá na frente com ganhos financeiros diretos, produtividade, pagamento de carbono, finanças verdes e lá no final, mercado”.
- “Queremos que o produtor entenda, na verdade o produtor entende claramente isso, ele não planta soja, ele tem uma propriedade, por acaso lá tem soja, milho, cana, pecuária. Mas ele tem floresta. Então, se ele tiver excedente de floresta porque ele não pode receber?”
- “O Brasil é reconhecido no mundo como potência ambiental e agrícola. E a gente pode trabalhar os dois. O Brasil pode ser essa potência agroambiental. A gente tem todo espaço pra isso”.
- “O que muda o mundo é o produtor que tá com a butina lá no chão. Fazendo todo o dia o trabalho dele. E cada vez mais precisa desse apoio, nosso como insumo, mas também da academia, da Embrapa. Por isso a gente criou essa rede”.
- “O que a gente quer é mostrar ao mundo de carbono que o agro pode ser uma fonte de sequestro, de captura de carbono”.