Nos últimos anos, a busca por alternativas mais sustentáveis aos combustíveis fósseis tem se intensificado, levando ao desenvolvimento de novos tipos de combustíveis que prometem revolucionar o setor energético.
No Brasil, a aprovação do projeto de lei dos “combustíveis do futuro” (PL 528/2020) pela Câmara dos Deputados, em março deste ano, marcou um avanço significativo nessa direção. Vale destacar que o país já é um dos maiores produtores mundiais de biocombustíveis.
O texto, que aguarda agora votação no Senado Federal, visa incentivar a produção e o uso de combustíveis renováveis, promovendo a inovação tecnológica e a sustentabilidade no setor energético.
Na prática, o projeto prevê a criação de programas nacionais de diesel verde, de combustível sustentável para aviação e de biometano, além de aumentar a mistura de etanol e de biodiesel à gasolina e ao diesel, respectivamente.
Além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, a iniciativa abre novas oportunidades para o agronegócio, integrando-o de maneira decisiva à cadeia produtiva de energias limpas.
O setor é um importante fornecedor de matérias-primas essenciais para a produção desses combustíveis. Resíduos agrícolas, dejetos animais e outros subprodutos são insumos valiosos na produção de biogás, biometano e etanol de segunda geração, por exemplo.
Além disso, é um mercado com potencial para gerar novas fontes de receita e promover uma agricultura mais sustentável e alinhada com as necessidades energéticas do país e do mundo.
A transição para esses novos combustíveis exigirá investimentos em pesquisa, infraestrutura e políticas públicas favoráveis, mas os benefícios ambientais e econômicos são inegáveis.
Conheça a seguir seis alternativas sustentáveis em combustíveis
Biometano e Biogás
Tanto o Biometano quanto o Biogás são produzidos a partir da decomposição anaeróbica de resíduos orgânicos, como restos de alimentos, esterco animal e resíduos agrícolas. O Biogás pode ser utilizado diretamente para geração de energia, enquanto o Biometano, gerado a partir da purificação do biogás, pode substituir o gás natural em diversas aplicações. Dados da Associação Brasileira de Biogás (ABiogás) indicam que a produção nacional de biometano está em aproximadamente 400 mil metros cúbicos/dia e deve chegar a 30 milhões de metros cúbicos/dia até 2030.
Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF)
Os Combustíveis Sustentáveis de Aviação, conhecidos como SAF, são uma alternativa emergente para reduzir as emissões de carbono pelos aviões. Derivados de matérias-primas renováveis, como óleos vegetais e resíduos agrícolas, os SAFs podem reduzir as emissões de CO₂ em até 80% comparados aos combustíveis tradicionais. Empresas como a Neste e a World Energy estão na vanguarda da produção de SAF, e grandes companhias aéreas já começaram a adotar essa tecnologia. Aqui no Brasil, especialistas veem grande oportunidade para o país liderar a transição global para uma aviação mais sustentável através do uso de SAF. E o primeiro passo, segundo eles, é a aprovação do projeto de lei dos “combustíveis do futuro”, que cria o Programa Nacional de Combustível Sustentável de Aviação.
Diesel verde
O diesel verde, também conhecido como HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), é um dos biocombustíveis mais consumidos no mundo. Ele é 100% renovável, produzido a partir do processamento de óleos vegetais – como soja e palma – ou gorduras animais. Se destaca por reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa e poluentes quando comparado ao diesel convencional. O diesel verde é quimicamente semelhante ao diesel fóssil, o que possibilita o seu uso em motores existentes sem modificações. Além disso, pode ser fabricado por diferentes rotas tecnológicas como: hidrotratamento, síntese de gás proveniente de biomassa, fermentação ou oligomerização de álcoois. No Brasil, o uso do biocombustível ainda divide opiniões e é discutido em diversos projetos de lei. Mas já há testes em andamento e um projeto prevê iniciar a produção no país a partir de 2025.
Etanol de Segunda Geração (E2G)
O Etanol de Segunda Geração, ou E2G, representa um avanço significativo em relação ao etanol de primeira geração, pois utiliza resíduos agrícolas e biomassa lignocelulósica como matéria-prima. Essa tecnologia não compete com a produção de alimentos e apresenta um balanço energético mais favorável. No Brasil, a Raízen é um exemplo de empresa que tem investido pesadamente no desenvolvimento do E2G, utilizando bagaço de cana-de-açúcar para a produção do biocombustível.
Hidrogênio Verde
O Hidrogênio Verde é produzido através da eletrólise da água utilizando energia renovável, como solar ou eólica. Este combustível é considerado um dos mais promissores para a descarbonização, especialmente em setores difíceis de eletrificar, como o transporte pesado e a indústria siderúrgica. Empresas como a Siemens e a Nel Hydrogen estão investindo significativamente na tecnologia de produção de hidrogênio verde, visando tornar o processo mais eficiente e economicamente viável.