Esse vocabulário on-line criado pela FAO já conta com mais de 988 mil termos de 41 mil conceitos ligados ao agronegócio em até 42 idiomas. Mais de 23 mil palavras em português do Brasil fazem parte dessa coletânea
Se a comunicação é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento das cadeias produtivas agropecuárias, conhecer e usar as palavras certas é como utilizar os melhores insumos em busca do máximo rendimento no campo. Este é um dos objetivos do Agrovoc, um vocabulário criado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no começo da década de 1980.
Trata-se de um banco de dados abertos e interligados com termos relacionados à agricultura e à pecuária que facilita o acesso e a visibilidade dessas informações em vários domínios e idiomas. Até o mês de julho, o Agrovoc já contava com 988.512 termos relacionados a 41.016 conceitos e originários de até 42 línguas.
Os catálogos impressos desenvolvidos no início foram transformados em documentos on-line, ampliando o alcance dos dados e a democratização desse conhecimento. De maneira prática, esse vocabulário multilíngue gera uma uniformização que pode ajudar – e muito – na elaboração de pesquisas e documentos com o uso dos termos corretos para cada idioma, assegurando mais precisão no entendimento dessa comunicação.
Tomando-se como exemplo apenas as diferenças entre a língua portuguesa usada no Brasil e a utilizada em Portugal, já há muito do que se alinhar. Aqui utilizamos o termo “creche” para definir instalações para filhotes, enquanto os portugueses chamam de “infantário” esse espaço da criação animal. Há também distinções apenas ortográficas, como “extrato”, usado no Brasil, e “extracto”, como escrevem os portugueses.
Se já temos um grande número de variações de termos em nosso País por conta de tantos sotaques e diversas maneiras diferentes de se dizer a mesma coisa, em nível global a bússola da comunicação precisa estar mais do que bem calibrada. Essa é uma das razões pelas quais o desenvolvimento do Agrovoc é um trabalho coletivo, envolvendo várias nações, e conta com a participação de uma equipe brasileira.
A pesquisa do agro na comunicação
A principal colaboração brasileira no Agrovoc vem da Embrapa, representada por três pesquisadoras de diferentes unidades da empresa. Bibiana Almeida (Embrapa Territorial / Campinas-SP), Maria de Cléofas Alencar (Embrapa Meio Ambiente / Jaguariúna-SP) e Milena Telles, da sede (Brasília-DF) são as analistas responsáveis pela tradução de 23 mil termos para o português do Brasil no vocabulário.
Até 2021, os termos na língua portuguesa referiam-se apenas a seu país de origem. A meta das pesquisadoras da Embrapa é incorporar com a linguagem brasileira todos os 35 mil termos já disponíveis em português de Portugal. Para manter a sintonia na evolução da linguagem, a equipe também têm traduzido os principais novos termos incorporados ao vocabulário periodicamente, e que estão relacionados ao cenário atual de produção rural e de pesquisas nacionais.
Para Milena Telles, que integra a Diretoria de Pesquisa e Inovação da Embrapa, é essencial que se tenha uma boa padronização de dados terminológicos, sobretudo hoje em dia. “Vivemos na era em que o excesso de materiais disponíveis no mundo digital é o maior desafio para recuperação, organização e sistematização de informações e geração de novos conhecimentos”, afirma a pesquisadora.
Essa padronização tem grande impacto inclusive – e talvez principalmente – sobre tecnologias e processos que vêm ganhando mais notoriedade. “Todos os processos de que ouvimos falar hoje em dia, tais como inteligência artificial, gestão de dados, interoperabilidade, web semântica, têm em sua raiz um trabalho terminológico de organização de termos, conceito e suas relações de base”, comenta Milena.
Se quiser saber mais sobre o Agrovoc, conhecer os termos disponíveis e as novas inserções, ver quais são os países participantes e conferir as notícias desse vocabulário global, basta acessar o site www.fao.org/agrovoc/.