Há cerca de três anos, a Produzindo Certo desembarcou na Argentina e começou o processo de internacionalização do seu modelo de negócio.
O objetivo? Levar sua metodologia de assistência técnica socioambiental aos produtores do país vizinho e prepará-los para a obtenção da certificação RTRS. De quebra, a iniciativa também representa um novo impulso para a produção agrícola responsável em outras nações.
A empreitada, que conta com a parceria da Associação Proforest e com o apoio de traders locais e de indústrias de alimentos, deu tão certo que este ano a equipe da Produzindo Certo voltou ao país vizinho com duas missões: visitar novas fazendas e revisitar propriedades que já estão em processo de adequação.
As novas visitas foram realizadas em junho, nas províncias de Santa Fé e Salta. Nos anos anteriores, a empresa também levou o projeto para propriedades do Chaco, Santiago del Estero, Cordoba e Formosa.
Em geral, as fazendas têm porte médio e produzem soja, milho e feijão, além de ter uma parte dedicada à pecuária. Como nas primeiras vezes, os produtores foram bem receptivos e demonstraram grande interesse em conquistar a certificação.
“Eu senti que eles foram muito abertos. Eles estavam muito empolgados, principalmente a primeira fazenda que a gente visitou em Santa Fe. Eles foram muito ativos, estavam interessados em saber como ia ser. Lá no Norte, por ser revisita e ser um feriado. Mesmo assim, eles atenderam a gente, até adiaram uma viagem”, contou João Victor, especialista em sustentabilidade, que esteve em todas as visitas realizadas no mês passado.
“Foram muito receptivos, gostaram da conversa, querem que a gente volte e pediram pra gente levar guaraná na próxima vez, porque eles gostam muito, muito do Brasil. Todos eles, de todas as fazendas, conhecem o Brasil”, reforçou Ariel Godinho, também especialista em sustentabilidade.
Nas fazendas que foram revisitadas, eles puderam constatar que as adequações sugeridas no plano de ação elaborado pela Produzindo Certo estão sendo colocadas em prática. As principais mudanças são em infraestrutura, com a construção de novos galpões, por exemplo.
“Eles até contaram o que não estava pronto, mostraram os projetos que tinham para as melhorias, tudo já está planejado. Falaram que quando a gente voltar já estará melhor também. Então eles já estavam bem avançados nessa revisita”, disse João Victor.
Avaliação socioambiental
O foco principal nas visitas iniciais é incluir as fazendas na Plataforma Produzindo Certo e realizar a avaliação socioambiental com base na aplicação do protocolo da empresa, totalmente adaptado à realidade da Argentina, além de considerar os critérios avaliados nos protocolos para a certificação RTRS, tanto para a soja quanto para o milho.
Foram meses de estudo para adequar o Protocolo Produzindo Certo às normas que regem as questões ambientais e trabalhistas na Argentina.
“Então a gente tem o nosso protocolo Produzindo Certo Brasil, que é aplicado aqui dentro, e esse foi um protocolo Produzindo Certo Argentina, que é todo voltado para lá. Então a gente teve um trabalho de uns dois, três meses, já de antecedência para avaliar toda a legislação, entender tudo como é que funciona lá, e para criar esse protocolo e aí sim aplicar lá nessas propriedades”, explicou a coordenadora de projetos, Monalisa Muhl.
“E aí, juntamente com esse protocolo Produzindo Certo Argentina, foi aplicado também o protocolo RTRS, que é o grande objetivo, certificar essas fazendas para soja e milho”, complementou.
As principais diferenças entre os critérios utilizados no Brasil e na Argentina estão no âmbito social. “Lá você tem mais permissividade. Você pode trabalhar por mais horas, lá você não tem um Código Florestal igual o nosso, que contempla, assim, essa parte de reserva legal. Então, acaba que lá é um pouquinho mais aberto”, destacou Monalisa.
Próximos passos
Entre o final de julho e o começo de agosto estão previstas novas visitas a propriedades argentinas para inclusão no projeto. A meta é chegar a dez fazendas este ano.
Além disso, a equipe já iniciou a fase de processamento de dados para a elaboração dos primeiros diagnósticos socioambientais e planos de ação que serão entregues neste ano.
Entre outubro e novembro, as propriedades selecionadas como aptas a alcançar a certificação RTRS passarão por auditoria externa, umas das fases finais do processo.
“A gente fez a primeira visita, que chamamos de auditoria interna. E aí a gente faz o processamento dos dados, devolvemos o resultado [diagnóstico, plano de ação e relatório de certificação] e o produtor tem que fazer as adequações até a auditoria”.
A Produzindo Certo acompanha e dá suporte aos produtores em todas as etapas. “Esse segundo momento na fazenda é uma força-tarefa. Uma semana antes a nossa equipe vai lá, organiza toda a fazenda, organiza a documentação, explica como é que vai ser o processo e na semana seguinte tem a auditoria externa, que é uma empresa de terceira parte que faz”.
Após a auditoria externa, os agricultores terão um prazo de 30 dias para corrigir eventuais não conformidades para finalmente conquistar a certificação.