A Produzindo Certo integra um consórcio, com outras três instituições, que está desenvolvendo o plano de trabalho de um projeto para sequestro de carbono por meio de restauração ambiental na região oeste de Mato Grosso
Tem gente querendo mudar a paisagem do oeste de Mato Grosso. E esta é uma boa notícia. Essa gente em questão é um consórcio formado por quatro instituições: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Grupo Proforest; Instituto Produzir, Conservar, Incluir (PCI); e Produzindo Certo. E a paisagem, neste caso, é o mosaico do uso das terras, que envolve ecossistema nativo; áreas florestais, de cerrado, de beira de rio, fluviais e matas ciliares; áreas de lavouras (soja e algodão), de pastagem, terras com alguma degradação; e assentamentos.
Ainda entram nessa composição a condição fundiária dessas terras, tanto indígenas quanto Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais e áreas públicas (florestas e de conservação) e privadas. “A paisagem à qual nos referimos é composta por um mosaico de uso do solo e regramentos e condições fundiárias”, afirma o coordenador regional (MT) do IPAM, Richard Smith.
O objetivo é realizar uma transição para uma paisagem climática inteligente e sustentável por meio da restauração. Esse é o nome – na versão em inglês – do projeto, lançado recentemente: Suporting Transition to Climate Smarts and Sustainable Landscapes in Western Mato Grosso Brazil.
“Queremos ver como conseguir integrar ações em uma perspectiva de crédito de carbono e em uma estratégia jurisdicional, ou seja, promover o sequestro de carbono por meio de restauração”, explica Smith. Daí a importância de reunir instituições qualificadas, com experiências tão diferenciadas.
A Produzindo Certo, por exemplo, tem relevância significativa no projeto pelo envolvimento criado junto aos agricultores, pois já tem grande atuação na região, engajando produtores de soja em suas plataformas e nos aplicativos, desenvolvendo um controle de todos os critérios socioambientais e trabalhistas.
A Proforest tem como objetivo engajar outras empresas e propor modelos de monitoramento que possam atender a diversos parceiros. O Instituto PCI traz toda uma bagagem de estrutura de governança junto ao governo estadual de Mato Grosso, definindo estratégias para atuação. Isso porque o instituto surgiu a partir da Estratégia PCI, movimento que nasceu para promover o agro sustentável envolvendo reuniu vários players e diversos representantes da sociedade. O IPAM contribui com a experiência em restauração. “Vamos criar mecanismos de intercâmbio em que a agenda de restauração já está mais avançada”, diz Smith.
A corrida já começou
Neste momento, o consórcio está elaborando o plano de trabalho, que deve ficar pronto ainda no mês de julho. O projeto todo terá duração de dois anos. Segundo Smith, serão quatro linhas de ação no desenvolvimento. A primeira está relacionada à governança, em nível municipal e sempre alinhado com o estadual. A segunda é que vão trabalhar primeiramente com 60 produtores, e aí contando muito com a parceria da Produzindo Certo, promovendo a agricultura regenerativa.
O terceiro item da lista é a cadeia de restauro, com restauração florestal. “Vamos avaliar toda essa cadeia na região, produção de mudas, coleta de sementes, quem já tem viveiros saudáveis, que técnicas funcionam em área de cerrado, entre outros pontos. E documentar isso tudo em uma webserie”, detalha Smith. A quarta linha de ação é a parceria com o governo estadual alinhando para que tudo seja implementado.
Investimentos
Como não poderia deixar de ser, é preciso haver investidores para colocar em prática uma inciativa como essa. É aí que entram valiosas contribuições como a do Land Innovation Fund (LIF), fundo de fomento à inovação criado pela norte-americana Cargill, com gerenciamento da Chemonics International, que visa a buscar soluções para o desmatamento.
Uma das ações principais do LIF é apoiar iniciativas que promovam uma cadeia de suprimento da soja sustentável e livre de desmatamento e conversão da vegetação nativa, e que gerem impacto econômico e socioambiental positivo em três biomas prioritários na América do Sul: Cerrado, Gran Chaco e Amazônia.
Não por acaso, o LIF é o patrocinador do aplicativo Eu Coleto Certo, desenvolvido pela equipe de Tecnologia e Informação da Produzindo Certo. Trata-se da mais moderna e eficiente ferramenta para coleta de dados e evidências no campo para realização de diagnósticos e posterior monitoramento das fazendas.
Boas perspectivas
Tecnologias como o aplicativo da Produzindo Certo serão muito úteis nessa transformação da paisagem no oeste mato-grossense, pois envolverá produtores de seis municípios – Diamantino, Alto Paraguai, Tangará da Serra, Campo Novo do Parecis, Sapezal e Campos de Júlio. A linha que conecta todos eles tem aproximadamente 600 quilômetros. Diamantino é o ponto mais próximo da capital, a cerca de 180 km de Cuiabá, e Campos de Júlio é o que fica mais perto da Bolívia, a 70 km da fronteira.
De acordo com Richard Smith, a aplicação do projeto nessa região servirá também como um piloto para a aplicação dos conceitos do PCI, que depois podem ser expandidos para todo o estado. Isso ajudaria a cumprir a meta do instituto que é completar seus planos até 2030. “Já existem muitos produtores engajados com a agenda da sustentabilidade na região. O próprio IPAM tem atuado ali, inclusive junto a agricultores que têm passivo florestal e remunerando os que deixam de desmatar, ainda que a lei permita que o façam”, comenta.
Smith está bastante satisfeito e esperançoso com o projeto, sobretudo pelo grupo que se formou, por reunirem tais instituições trabalhando por um bem comum que é essa construção de paisagem. “É uma iniciativa bastante promissora. Esse projeto pode realmente apresentar um modelo inovador com resultados concretos na ponta – municípios, fazendas e assentamentos – e vamos canalizar os recursos para fazer isso acontecer.”