Tradição, tecnologia e sustentabilidade na produção de carne de alta qualidade - Produzindo Certo
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Tradição, tecnologia e sustentabilidade na produção de carne de alta qualidade

A propriedade mantém hoje um rebanho de cerca de 20 mil cabeças

A Fazenda Jarinã, localizada em Peixoto de Azevedo, no Norte do Mato Grosso, possui uma rica história de mais de 50 anos na criação e seleção genética da raça Nelore. Desde 2020, sob a liderança de Gustavo Amorim, neto do fundador, seu Ubirajara Amorim, a fazenda tem intensificado o uso de tecnologias e boas práticas de manejo para produzir carne de alta qualidade.

Este ano, a propriedade iniciou uma parceria com a Produzindo Certo com foco no aprimoramento de suas práticas socioambientais e no fornecimento de carne para a Celeiro, uma das primeiras empresas a conquistar o Selo Produzindo Certo, que comprova a rastreabilidade e a sustentabilidade no processo de produção de linhas premium da marca.

A parceria teve forte incentivo do proprietário da Celeiro, Marco Túlio Soares, amigo pessoal de Gustavo, além de parceiro de negócios, e veio para coroar o trabalho da fazenda, que já implementa há anos uma série de melhorias no manejo do gado.

“Nós conhecemos o pessoal da Produzindo Certo através da Celeiro. O Marco Túlio sempre me falava para contratá-los, até que decidimos que era o momento certo,” disse Gustavo, diretor financeiro da Jarinã.

A partir de agora, a carne fornecida pela Fazenda Jarinã para a Celeiro também está apta a receber o selo, afinal a propriedade passou a ser monitorada pela Produzindo Certo. A certificação traz o reconhecimento do mercado, além de agregar valor à carne produzida pela fazenda.

“Esse ano, por exemplo, a gente conseguiu uma coisa que eu nunca podia imaginar que eu ia conseguir em 2024. Nós abastecemos a Celeiro todos os meses. De abril a dezembro, entregamos um lote por mês, ou seja, 40 novilhas por mês”, comemorou Gustavo.

Primeiras adequações

Na primeira visita técnica da Produzindo Certo a Fazenda Jarinã já alcançou um score socioambiental de mais de 60%, em um índice que pode chegar a 100%. “Foi uma visita muito gratificante. Claro que sempre tem alguma coisa para resolver, mas já traçamos um plano para fazer os ajustes necessários,” contou Gustavo.

O plano de ação inclusive já está em prática e foi estabelecido em diferentes níveis, de acordo com o impacto financeiro. A estratégia adota uma abordagem prática, onde problemas de baixo custo são resolvidos com maior prioridade e rapidez, enquanto questões mais complexas e onerosas são programadas para o médio e longo prazos.

No primeiro nível, que abrange as soluções mais simples e acessíveis, a fazenda já avançou consideravelmente. Um exemplo foi a substituição de extintores de incêndio, além da criação de um plano de verificação e substituição periódica dos equipamentos em parceria com o novo técnico de segurança do trabalho.

Além disso, detalhes relacionados à oficina também foram resolvidos, como o armazenamento correto de óleo queimado e combustível, garantindo a conformidade com as normas ambientais.

O segundo nível do plano de ação engloba questões que, apesar de já contarem com estruturas funcionais, precisam de ajustes mais complexos e que demandam maior investimento.

Tradição familiar e inovação tecnológica

Seu Ubirajara Amorim (no centro) em visita recente à Fazenda Jarinã

A história da Fazenda Jarinã está profundamente ligada à família Amorim. Adquirida há cerca de 50 anos por seu Ubirajara Amorim, hoje com 97 anos, a propriedade passou por diversas transformações ao longo das décadas, adaptando-se às mudanças do mercado e incorporando novas tecnologias.

Gustavo Amorim, que começou a trabalhar na fazenda em 2019 e foi eleito diretor financeiro no ano seguinte, lidera essa fase de modernização. “A paixão do meu avô é o gado. Faz isso com muito amor faz muitos anos, muitos anos, desde o princípio”, conta ele com orgulho.

No começo, seu Ubirajara investiu em gado de leite, em Botucatu, no interior de São Paulo. Após mudanças no mercado, ele decidiu trabalhar com gado de corte e a raça escolhida foi a Nelore. Foi quando iniciou o novo projeto na Fazenda Jarinã, aberta nos anos 70. “Na época se falava de Nelore de pista. Era aquele gado bonito, alto, ossatura larga, um gado pesado”, lembrou o neto.

A grande virada na gestão da propriedade foi a chegada de novos especialistas, como o zootecnista Marco Gambale, que quando conheceu seu Ubirajara dava consultoria de pastagem e confinamento.

“Quando meu avô trouxe o Marco Gambale para dentro do negócio, ele trouxe muita tecnologia, muita informação nova. Ele implementou um confinamento aqui na Jarinã. Inicialmente era um confinamento para 1.500 cabeças. Hoje nós estamos confinando cerca de 4 mil animais por ano e a idade média de abate é 24 meses”, contou Gustavo.

Uma das inovações mais marcantes na fazenda foi a adoção da ultrassonografia de carcaça, tecnologia trazida pela zootecnista Liliane Suguizawa, esposa de Marco e uma das maiores autoridades do Brasil em avaliação de carcaça.

Desde que começou a usar a ferramenta, em meados de 2010, a Jarinã passou a selecionar com precisão os animais para abate, otimizando o processo e aumentando a eficiência.

“E aí você tira essa decisão do olho do gerente, uma sacada incrível. Você simplesmente toma essa decisão olhando números, olhando relatórios. E aí a gente começou a usar essa ferramenta também para seleção genética do gado”, explicou o diretor financeiro.

“A gente seleciona as melhores matrizes e os melhores touros para serem sempre os reprodutores da próxima safra. E assim, vamos fazendo a seleção do gado para a característica de carcaça”, completou.

A tecnologia também se tornou uma grande aliada na seleção dos animais com os melhores índices de marmoreio, característica fundamental para a produção de carne de qualidade.

“Quando a gente passou o ultrassom em todo o gado, foi uma surpresa muito grande, porque a gente identificou animais com mais de 3, 4, 5% de marmoreio. Lógico, não muitos, poucos animais, mas identificamos. E a partir dali, a gente começou a usar aqueles animais para fazer a base do nosso plantel”.

Atualmente, grande parte do rebanho da fazenda apresenta índice superior a 3% de marmoreio, o dobro do padrão do Nelore comum. Vale destacar ainda que a Jarinã faz parte da Associação Confraria da Carcaça Nelore, um grupo de criadores e selecionadores que busca o melhoramento genético da raça para a carne de qualidade.

Expansão e foco na carne de qualidade

Sempre utilizando inseminação artificial e priorizando o ganho de peso, a Fazenda Jarinã mantém hoje um rebanho de cerca de 20 mil cabeças e o foco principal é a produção de carne de alta qualidade.

Além do gado puro de origem (PO), a propriedade também investe no cruzamento industrial. Em 2023, foram inseminadas aproximadamente 2 mil vacas com sêmen de touro Angus, buscando produzir bezerros precoces e com excelente desempenho no coxo.

A meta da fazenda é cada vez mais focar na produção de carne de qualidade, um mercado que, segundo Gustavo, está em ascensão no Brasil.

“A gente vê o seguinte, o que hoje é um nicho de mercado, amanhã vai ser vai ser premissa. Daqui uns anos, o consumidor, não vai querer mais aquela carne que ele compra no açougue do bairro ali, que não tem marmoreio. Ele provou uma carne boa, ele gostou daquilo e ele viu que dá pra comer bem de uma forma acessível, ele vai começar a refugar outros tipos de carne”, projeta ele.

Práticas socioambientais

A parceria com a Produzindo Certo também reforça o compromisso da fazenda com a sustentabilidade. Assim como o avô, Gustavo acredita que as práticas socioambientais são fundamentais não apenas para garantir a saúde e o bem-estar dos animais, mas sobretudo dos colaboradores.

“Meu avô sempre preconizou isso e, desde os seus princípios, sempre implantamos facilidade para os funcionários, transporte pra cidade, assistência médica, assistência odontológica, área de lazer com campo de futebol, quadra de vôlei pra distrair a turma”, destacou ele.

A fazenda também conta com uma escola e, por meio de uma parceria com a prefeitura, tem um professor e oferece aulas para cerca de 30 alunos, inclusive crianças das propriedades vizinhas.

Além disso, o diretor ainda reforça a preocupação de sempre oferecer cursos de atualização aos funcionários. “Não adianta a gente querer que façam bem o trabalho se a gente não capacitá-los para isso. Então, sempre temos cursos de tudo que é tipo de manejo, de manejo de maternidade, de manejo de curral, de manejo de vacina, inseminação, tudo que é tipo de curso a gente tem na fazenda”.

Projeto de intensificação

Gustavo Amorim, diretor financeiro da fazenda

A fazenda, que atualmente conta com 13.500 hectares de pastagem e opera um modelo de pecuária extensiva, está prestes a implementar um projeto piloto inovador voltado para o aumento da eficiência no manejo da pastagem.

Segundo Gustavo, o sucesso na pecuária não depende exclusivamente do gado, mas sim da eficiência no manejo do solo e na colheita do capim. A partir dessa compreensão, ele criou um projeto que vai testar o sistema intensivo de recria em uma área específica da fazenda.

A iniciativa será implementada em 400 hectares e consiste em um sistema de piqueteamento. Cada módulo de 50 hectares será subdividido em quatro piquetes de 12,5 hectares, garantindo um melhor manejo do pasto.

Para viabilizar o projeto, será construído um reservatório de água com capacidade para até 3 milhões de litros, que será abastecido pela represa da própria fazenda. A ideia é que o reservatório garanta o abastecimento necessário para os piquetes e resolva um dos maiores desafios: o acesso do gado à água.

Gustavo está confiante no resultado da iniciativa e já planeja a expansão. “Eu tenho certeza absoluta que vai ser um sucesso, e aí a minha ideia é replicar esse modelo”.

Além disso, ele destaca a importância de se investir em tecnologia na pecuária, observando que a agricultura tem avançado ano após ano em produtividade e inovação.

“Se a pecuária não acompanha esse avanço tecnológico, ela vai ser ‘engolida’ pela agricultura e a operação pecuária deixa de ser viável. Então, estamos sempre buscando tecnologias e inovações no mercado para poder ser competitivo com a agricultura”, finalizou.