As principais mudanças na vida da especialista em sustentabilidade foram motivadas por sua curiosidade, pelo interesse contínuo em saber mais. As boas conexões também ajudaram a abrir caminho
No mês de julho, Amanda Morais vai completar um ano de trabalho na Produzindo Certo. A jovem goiana de 25 anos, nascida no município de Minaçu, é especialista em Sustentabilidade, e sua chegada à empresa marca uma importante transição em sua carreira. Até mesmo uma evolução de conceitos e uma expansão de possibilidades.
Nos quase seis anos desde sua mudança para Goiânia, Amanda viveu uma série de mudanças e desafios, algo natural para alguém da sua idade. Mas vale conhecer detalhes de sua trajetória para entender que, no caso dela, o roteiro vai além.
A cidade natal de Amanda fica a mais de 500 quilômetros de Goiânia, ao norte, e tem a mineração como uma de suas principais atividades econômicas, o que desde cedo chamou a atenção. Além disso, o pai da jovem, Generci Malheiro, trabalhava na empresa de segurança de uma grande mineradora instalada por lá.
Assim que terminou o ensino médio, ela entrou para o curso Técnico em Mineração, no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), já com intuito de ingressar na principal companhia da região.
A formação no curso técnico trouxe muito aprendizado para Amanda, inclusive o de que nem sempre as coisas acontecem como planejado. Um dos principais produtos explorados em Minaçu, naquele período, era o amianto, minério envolto em muita polêmica pelos problemas de saúde que pode causar. Tanto que sua exploração chegou a ser proibida por lei. A empresa que Amanda mirou como ponto de partida de sua carreira não estava mais contratando. Outra lição que a vida mostrou: é preciso seguir em frente.
De malas prontas para Goiânia
Em Minaçu, Amanda vivia com o pai; a mãe, Cristiane Morais; e o irmão mais velho, Paulo Henrique Morais, que a exemplo de muita gente foi atrás de oportunidades na capital. Formado em engenharia mecânica pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Paulo se tornou um exemplo para a irmã.
“Pensei em seguir os passos dele”, diz Amanda. “Conversando com alguns professores sobre a carreira, veio a sugestão da geologia, pois também envolve mineração.”
O ajuste na rota colocou Amanda na direção de um novo objetivo: cursar geologia na UFG. Deixou Minaçu para morar com o irmão em Goiânia, onde iniciou uma temporada de mais desafios e aprendizado. “Era tudo novidade, minha família estava sempre preocupada com minha segurança. Além disso, eu era muito tímida”, relata a jovem desbravadora, que aos poucos foi conhecendo a cidade com o irmão e com a ex-cunhada e ainda uma grande amiga, Marta Valeriano.
As amizades do cursinho também contribuíram nessa fase de desvendar a capital goiana, o que inevitavelmente levou Amanda à descoberta da rota de “barzinhos” da cidade. O repertório cultural ajudou a quebrar o gelo para que a jovem explorasse melhor outros universos.
“Gosto muito de música sertaneja, inclusive toco violão. E comecei a cantar também”, diz a fã de Hugo e Guilherme. Quem já a viu dando uma palhinha com a canção “Coração na cama”, da dupla em questão, certamente aposta em seu talento. Entre suas preferências musicais também estão vozes do pop internacional, como Coldplay, Lady Gaga e Beyoncé. “Eu escuto de tudo.”
Da geologia para ciências ambientais
A escolha do roteiro definitivo para a vida acadêmica é sempre um grande desafio. Até porque geralmente é uma tarefa que surge enquanto ainda estamos descobrindo o que queremos e o que realmente gostamos. Bem cedo, Amanda já havia definido em qual direção seguiria, só não contava com os diferentes caminhos que trilharia para chegar onde está.
Com a geologia em mente, tentou o vestibular. Na primeira vez, não deu certo. Poderia ser uma frustração, mas o tempo se encarregaria de mostrar o contrário. A pontuação alcançada naquela oportunidade foi suficiente para entrar em museologia. “Cheguei a estudar um ano, mas não me identifiquei”, comenta Amanda, que manteve a persistência de olho na geologia.
O foco não seguiu, no entanto, a mesma linha da persistência. Quando, enfim, a jovem conquistou a tão esperada vaga, já não era mais apenas uma vestibulanda, pois estava explorando outro terreno. Por meio da amiga Marta, Amanda conheceu o curso de ciências ambientais, que parecia até ser mais amplo. “Uma prima dela, já formada, conversou comigo a respeito, e me contou a amplitude de ciências ambientais, que inclusive envolvia geologia”, lembra.
Amanda não só ingressou no novo curso como passou a desenvolver trabalhos na área. Como o estágio no Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), unidade do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa) da UFG. Um dos projetos realizados naquele período acabou dando origem a seu trabalho de conclusão de curso (TCC): mapeamento e levantamento dos remanescentes dos campos de murundus/covoais de Goiás. Tratava-se de uma parceria do Lapig com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad-GO).
Naquele período, Amanda ainda participou de outros projetos de parcerias do Lapig com o MapBiomas, um sobre uso e ocupação do solo e outro sobre alerta de desmatamentos. Na sequência, surgiu outra instituição. “Fiz o processo seletivo do Ministério Público de Goiás para perícia ambiental”, conta a jovem, que foi aprovada e passou a trabalhar na Unidade Técnico-pericial em Geoprocessamento do MP. E, agora, um estágio remunerado. “Isso tudo me abriu a mente, desde entrar na faculdade e participar desses projetos.” Com a mente aberta e a proximidade dos finais do contrato com o Ministério Público e da graduação, já era hora de garimpar novas oportunidades.
Equilíbrio entre produção e preservação
Entre as conquistas de Amanda após sua chegada à Goiânia certamente estão as conexões, as novas relações que foi estabelecendo com as pessoas. Uma delas é Jaila Raiane de Souza, analista ambiental da Produzindo Certo. “Ela foi minha veterana na UFG”, comenta Ananda. Foi Jaila quem informou, pelo grupo de WhatsApp da faculdade, sobre as vagas na empresa. Amanda se inscreveu, concorrendo com profissionais de diferentes idades e formações, e acabou conquistando a oportunidade. Curiosa e sempre disposta a expandir o conhecimento, o que não faltou foi campo a ser explorado.
Apesar de que, no caso de Amanda, essa exploração ocorre dentro da sede da Produzindo Certo mesmo. Sua atuação acontece no escritório, com o processamento de dados das equipes que vão às fazendas, trabalho primordial para a empresa. Amanda está no cérebro da companhia. “Eu vim de uma área ambiental para o agronegócio, setor que até então não conhecia tão bem. Mas imaginei que poderia agregar conhecimento. E encontrei tudo o que esperava.” A satisfação já alimenta novas perspectivas. “Tenho interesse em fazer uma pós-graduação em gestão de projetos”, diz a jovem especialista em Sustentabilidade.
Amanda vem driblando muita coisa em sua trajetória acadêmica, profissional e pessoal. Por todos os resultados já alcançados, parece estar acertando as jogadas. Mas para quem a acompanhou na faculdade, sua posição era um pouco diferente, menos adepta aos dribles. Torcedora do São Paulo Futebol Clube, por influência do pai, foi jogadora de futsal pela atlética da UEG. E, como ela mesma diz, a parada não era fácil. “Eu era uma zagueira bem no estilo ‘nada passa’.”
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