Tecnologia e agricultura regenerativa: O futuro do agro em destaque no Vozes Responsáveis - Produzindo Certo
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Tecnologia e agricultura regenerativa: O futuro do agro em destaque no Vozes Responsáveis

A décima edição do Vozes Responsáveis trouxe à tona um dos temas mais relevantes para o futuro do agronegócio: a união entre tecnologia e agricultura regenerativa. Com o objetivo de promover um bate-papo esclarecedor e inspirador sobre esses assuntos, a Produzindo Certo recebeu Renata Ferguson, produtora rural e conselheira administrativa da Cooperativa Comigo, e Rodrigo Franco Dias, CEO da ConnectFarm.

Mediado por Charton Locks, cofundador e diretor de operações da Produzindo Certo, a edição destacou exemplos práticos e visões estratégicas para impulsionar um agro mais responsável e inovador.

Logo no começo da conversa, ficou claro que a inovação no agronegócio não é uma busca recente dos produtores. Práticas como o plantio direto e o cultivo consorciado têm sido adotadas há anos por agricultores que buscam aumentar a eficiência e a sustentabilidade no campo. Essas técnicas, que ajudam a conservar o solo e otimizar o uso de recursos naturais, são exemplos de como a agricultura já incorpora soluções inteligentes para equilibrar produtividade e respeito ao meio ambiente.

Por outro lado, o avanço tecnológico tem levado o setor a novos patamares. Hoje, softwares especializados permitem o monitoramento detalhado do plantio, oferecendo dados em tempo real que auxiliam na tomada de decisão. “Se for falar de tecnologia digital, a gente tem as plataformas hoje que conseguimos acompanhar o plantio; você tem o mapa de plantio, consegue acompanhar a sua colheita e o projeto de adubação,” destacou Renata Ferguson.

Durante o bate-papo, ela compartilhou sua experiência prática com o uso de tecnologias na agricultura regenerativa e, principalmente, como isso tem ajudado a potencializar o seu negócio. “Depois que comecei a assumir os negócios, sempre tive essa pegada de sustentabilidade, pensar em um planeta melhor, que a gente possa deixar alguma coisa. Hoje a gente trabalha bastante com agricultura regenerativa e estamos aqui tentando produzir para alimentar o mundo,” disse.

Não basta ter tecnologia

A tecnologia, por si só, não resolve os desafios do campo. Essa foi uma das constatações do CEO da ConnectFarm, Rodrigo Franco Dias. Segundo ele, a verdadeira transformação acontece quando os dados gerados pelas ferramentas tecnológicas são bem interpretados e aplicados de forma estratégica. “Por isso que a tecnologia nunca vai substituir as pessoas. Porque é necessário ter habilidade para interpretar essas informações. Alguém que vai olhar e dizer: é por aqui o caminho,” destacou.

Essa perspectiva reforça a importância do fator humano no processo de inovação agrícola. O sucesso das tecnologias no agro depende da habilidade dos produtores e gestores em utilizar os dados para impulsionar a eficiência, reduzir desperdícios e adotar práticas mais regenerativas.

Tanto Rodrigo quanto Renata concordaram em um ponto central: possuir tecnologia não é garantia de resultados. Durante a conversa, ambos destacaram que, embora as ferramentas tecnológicas sejam indispensáveis para a modernização do agro, é a forma como elas são aplicadas no dia a dia das operações que define seu impacto real. “Não é tão fácil assim. A gente tem que agregar a tecnologia, ir devagar e ver o que realmente dá certo. Às vezes, a gente quer colocar tanta tecnologia que não consegue acompanhar,” pontuou Renata, ressaltando a importância do acompanhamento contínuo do impacto de cada tecnologia.

Segundo eles, apenas com uma abordagem integrada é possível transformar inovação em resultados concretos, que vão além da produtividade e alcançam também ganhos ambientais e sociais. “Usar tecnologia não significa ter mais resultado. A tecnologia reúne um pacote de informações muitas vezes diferentes do que o produtor está acostumado. Isso pode depender de investimentos, como ter uma máquina com sensores que coletam essas informações. Mas a informação por si só não ajuda muito,” disse Rodrigo.

Solo e resiliência

A agricultura regenerativa foi outro tema central do debate. Trata-se de um modelo de produção que vai além da sustentabilidade, buscando não apenas preservar, mas também regenerar os recursos naturais utilizados na atividade agropecuária. Entre os pilares desse conceito estão o aumento da biodiversidade, a melhoria da saúde do solo e a captura de carbono, promovendo benefícios ambientais enquanto mantém a viabilidade econômica do produtor.

Para Renata e Rodrigo, as práticas de agricultura regenerativa desempenham um papel fundamental na construção de um agro mais resiliente, especialmente frente aos desafios climáticos. Rodrigo destacou, em particular, a relevância dessas iniciativas para a recuperação do Rio Grande do Sul após as enchentes que afetaram o estado entre abril e maio, descrevendo-as como um verdadeiro “motor de reconstrução e resiliência das propriedades.”

Renata, por sua vez, ressaltou a conexão direta entre a saúde do solo e a produtividade agrícola, destacando a importância central da agricultura regenerativa nesse contexto. “A agricultura regenerativa vem para a gente ver uma riqueza maior no solo. Eu acho que esse é o nosso maior bem. Essa é a nossa riqueza. Se eu não cuido, eu não tenho produtividade,” afirmou a produtora rural.

Já Rodrigo reforçou o impacto duradouro da agricultura regenerativa, tanto para os produtores quanto para o meio ambiente. “Fixar carbono e fazer um processo de agricultura regenerativa na fazenda é uma garantia de estabilidade de produção e de durabilidade do processo para o futuro e para as outras gerações,” afirmou.

Segundo ele, adotar práticas que regenerem os recursos naturais não é apenas uma estratégia para enfrentar os desafios atuais, mas também um compromisso com a perenidade do agro. É uma forma de assegurar que as futuras gerações herdem não apenas terras produtivas, mas também um sistema agrícola mais equilibrado e resiliente. “A agricultura regenerativa é a garantia da perpetuidade da agricultura,” afirmou.

Confira na íntegra a 10ª edição do Vozes Responsáveis: