Na COP26 ou no Vozes Responsáveis Ao Vivo, o exemplo de quem produz certo é a melhor resposta à demanda por mais sustentabilidade no agro
Estamos a quatro dias do evento Vozes Responsáveis Ao Vivo, uma iniciativa da Produzindo Certo. Faço aqui o convite para que todos se juntem a nós nesse esforço para valorizar as ações e as palavras daqueles que se empenham em mostrar que a produção responsável é uma realidade necessária e viável – sobretudo se tiver apoio de toda a cadeia do agronegócio. Expor esses exemplos e amplificar essas vozes é um dos propósitos da Produzindo Certo, materializado agora no Movimento #EuProduzoCerto, cujo lançamento será feito justamente no evento da próxima terça-feira, dia 23, às 19h00 (clique aqui para saber mais).
Sozinhos, temos alcance limitado. Juntos, poderemos responder melhor à crescente pressão internacional sobre os produtos do agronegócio brasileiro. A COP26, realizada em Glasgow (Escócia) no início do mês foi um palco importante para que apresentássemos o lado responsável da nossa produção agropecuária. A participação brasileira, com peso importante das delegações privadas, foi relevante. Terá sido suficiente?
Na semana seguinte ao grande evento global, não se encontra uma resposta clara para essa pergunta. Houve avanços claros e pelo menos uma percepção de que a posição oficial do Brasil, antes vista como de entrave, agora volta a ser de contribuição com a criação de um ambiente mais favorável à busca de soluções em conjunto com os demais países. Mas houve também sinalizações de que a pressão internacional continuará. Além da China, que suspendeu a compra de carne bovina brasileira, Estados Unidos e União Europeia – justamente a trinca dos nossos maiores clientes – indicaram que novas restrições à compra de nossos produtos podem ocorrer. A justificativa é quase sempre a mesma: faltam garantias de que os produtos não são oriundos de áreas de desmatamento. Até mesmo áreas abertas dentro dos limites legais estão na mira.
A resposta a essas pressões precisa ser uníssona, pública e privada, de empresas e produtores, baseada nos fatos e nos exemplos. Em Glasgow, houve um ensaio importante nesse sentido, com várias vozes responsáveis articuladas.
– Grandes traders e outras empresas do setor — como ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Golden Agri-Resources, JBS, Louis Dreyfus Company, Olam, Wilmar e Viterra – assinaram um compromisso de tomarem medidas coletivas urgentes para incluir outras partes interessadas em suas cadeias de abastecimento. O objetivo é identificar soluções em escala para progredir ainda mais rápido na eliminação do desmatamento e na redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
– Governos estaduais com forte atividade agropecuária, como o de Mato Grosso, foram bastante ativos na apresentação de propostas subnacionais de ação e na busca de financiamento para projetos de incentivo ao agronegócio responsável.
– Os fundos de investimento do mundo inteiro também ampliaram seus compromissos em concentrar seus aportes apenas em empresas e projetos vinculados a compromissos ambientais.
– Carvão ou metano? As emissões de metano, que envolvem a pecuária, entraram definitivamente na pauta – e o agro mostrou que está disposto a dar mais essa contribuição. Por outro lado, pela primeira vez as emissões de CO2 provenientes da queima de carvão, que coloca na berlinda países como China, Estados Unidos e Rússia. Foi um avanço pequeno ainda nessa área, mas a porteira está aberta…
A melhor notícia da COP26
O consenso em torno da regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata da criação do mercado global de carbono, foi o grande avanço obtido em Glasgow. Ainda há algum chão a se percorrer até que isso comece a funcionar efetivamente, mas alguns pontos que emperraram por muito tempo essa questão foram resolvidos. Mais uma vez, a participação brasileira foi bem ativa, reflexo do potencial que esse mercado representa para vários setores no país, sobretudo a agropecuária. Próximo passo: regulamentar essa questão em nível nacional.
Vozes da COP26
A visão de que o mundo e o Brasil saíram um pouco melhores da conferência está expressa nas declarações de representantes do agronegócio que estiveram em Glasgow. Fizemos uma pequena compilação de algumas dessas vozes responsáveis. Confira:
“O que vimos durante a COP26 é que há um caminho para construirmos um ecossistema de carbono na agricultura brasileira com base em ciência, tecnologia de ponta e colaboração. Acreditamos que há um grande potencial para avançar com as discussões sobre a criação deste mercado a nível global. Dessa forma, queremos viabilizar um modelo economicamente atrativo, no qual a sustentabilidade é indispensável e em que atores — indústrias, bancos, governo, acadêmicos, entre outros — se conectam e criam soluções que vão além da cadeia agrícola.”
Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade da divisão Agro da Bayer no Brasil, participou da primeira edição da série Vozes Responsáveis
“Os resultados da COP ficaram aquém do necessário, mas melhor que o esperado. O Brasil fez um ótimo papel, deixou para traz um seria de visões tortas e ideológicas e se reintroduziu nas negociações de alto nível mundial, de onde nunca deveria ter saído. Precisará dar sequência agora nos diversos compromissos assumidos. Os países ricos deixaram a desejar e não cumpriram seus compromissos no campo do financiamento. O mais importante dessa COP, a meu ver foi o alinhamento do setor privado e da sociedade civil e as centenas de parcerias e compromissos firmados em frentes no tripé Food, Forest and Finance.”
Marcello Brito, presidente da Abag
“Após a COP26, esperamos ver um crescimento da demanda por opções mais sustentáveis em todas as áreas do nosso portfólio, o que deve resultar em mais incentivo para a transição para a agricultura regenerativa.”
Alison Taylor, Chief Sustainability Officer na ADM
“Oportunidades como esta, da COP26, são ótimas para desmistificar algumas imagens que as pessoas costumam ter do agronegócio como um setor destruidor e prejudicial. A realidade é que os produtores são pessoas que estão no dia a dia do campo e entendem e cuidam há tempos das necessidades do negócio e da sustentabilidade. Os produtores brasileiros estão dando um show na evolução dos sistemas sustentáveis e das certificações internacionais. Temos que estar abertos ao diálogo, afinal, e mostrar que somos o país onde os produtores trabalham de forma profissionalizada e estão além das exigências legais ambientais impostas aqui.”
Rodrigo Junqueira, vice-presidente da Massey Ferguson e gerente geral da AGCO América Latina
“Três pontos sobre o contexto de Glasgow com profundas repercussões em Mato Grosso, um estado com grande área florestal mas também o maior produtor de commodities do país: primeiro, nunca a agenda de Florestas esteve tão presente em uma COP. O papel das florestas em mitigar mudanças climáticas está finalmente reconhecido e integrado nas agendas de atores públicos e privados. Segundo: isso implica que a pressão por desvincular a produção de commodities de desmatamento vai cada vez mais estar presente em regulamentações e políticas que estão sendo anunciadas e planejadas. Em terceiro, é preciso reconhecer que a valorização da floresta passa também pela precificação do carbono e a regulamentação desse mercado. O que resultará das discussões sobre o Art. 6 do Acordo de Paris é um ponto crucial da COP 26.”
Fernando Sampaio, diretor executivo da Estratégia PCI-MT, participou da segunda edição da série Vozes Responsáveis
“É inegável que agora temos mecanismos com transparência, segurança e credibilidade para fazer esse processo de aprovação do que é possível monetizar em carbono. Houve uma evolução, mas não estamos na linha de chegada. Glasgow é mais um passo, assim como foi Paris, e outros passos precisam ser dados na direção correta, porque temos o risco de um precipício ambiental. Hoje temos instrumentos tecnológicos e financeiros para fazer acontecer. Agora, vamos colocar a mão na massa.”
Walter Schalka, CEO da Suzano
“A JBS está empenhada em cumprir seu compromisso Net Zero até 2040. Mas não só. Trabalharemos em conjunto com os pequenos produtores para apoiá-los nessa nova revolução verde. Nesta corrida, não há um único vencedor: ou todos perdem ou toda a humanidade vence. Ao unir todos, estamos confiantes em que a empresa pode ser um agente de transformação.”
Gilberto Tomazoni, CEO global da JBS.
O principal ponto sensível ao Brasil nessa agenda é o desmatamento ilegal. Essa questão é a única que traz prejuízos a imagem do país neste contexto. O combate ao desmatamento ilegal é o investimento mais barato que o Brasil pode fazer tendo em vista sua nova meta de reduzir até 2028 a ilegalidade.
João Francisco Adrien Fernandes, diretor de Regularização Ambiental no Serviço Florestal Brasileiro- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
“Convido a todos os empresários que viam a floresta como fonte de pobreza a vê-la como fonte de riqueza. Temos agenda de promover a economia da biodiversidade, qualquer ecossistema faz parte de um sistema econômico.”
Gustavo Montezano, presidente do BNDES