Mais de quatro décadas depois da introdução do plantio direto, técnica agrícola que ajuda a conservar o solo e a umidade ainda é pouco utilizada no Brasil
Nas últimas décadas, uma prática agrícola revolucionou a produção de alimentos ao ajudar a manter a saúde do solo, além de proteger e permitir um uso mais equilibrado dos recursos hídrico – algo que ganha ainda mais relevância em momentos como o atual, de crise hídrica: os sistemas de plantio direto (SPD). Segundo estudos da Embrapa Soja, fazer o plantio direto na palha da colheita anterior pode aumentar em até 30% a produtividade das lavouras – em anos de maior estiagem, o incremento pode chegar a 50% em relação ao modelo convencional.
O conceito é simples: o agricultor não precisa revolver a terra e nem fazer o gradeamento nas áreas de cultivo, aproveitando a palha de outras culturas e adotando práticas ambientalmente corretas. Apesar de não se tratar de uma tecnologia nova – foi adotada pela primeira vez na década de 70 que um grupo de agricultores do Paraná – e seus benefícios serem conhecidos, ainda é preciso aprimorar sua adoção em larga escala para que isso se traduza em vantagens para o produtor rural e para o meio ambiente.
O Brasil é hoje um dos países com a maior área de plantio direto do mundo, com 32 milhões de hectares. Mas o pesquisador da Embrapa, Henrique Debiasi, estima que apenas cerca de 10% das lavouras adotam a rotação de culturas. E o resultado disso é uma baixa produtividade e problemas de erosão até mesmo em áreas planas.
A diversificação de plantas na rotação de cultivos é um dos três pilares do modelo, conforme a Federação do Sistema de Plantio Direto, que ainda promove a integração de práticas para obter a melhor qualidade, produtividade, rentabilidade e benefícios ambientais. Os outros dois pilares são o não revolvimento do solo (restrito à linha de semeadura ou covas para mudas) e a cobertura permanente do solo (plantas vivas ou palhadas).
A rotação entre os cultivos é um dos pontos-chave para um sistema eficiente. Realizar a nova semeadura sobre os restos vegetais de culturas anteriores sem revolver o solo retém e mantém por mais tempo a umidade no solo. Essa condição também ajuda a permeabilidade das terras, com maior aproveitamento das chuvas e redução da temperatura do solo.
Assim, o produtor deve ficar atento ao manejo adequado e ao planejamento da sequência de culturas para executar a rotação de fato e não apenas a sucessão de lavouras em uma mesma área em um mesmo ano agrícola. A ideia é revezar espécies na mesma estação, como soja e milho no verão, e trigo e aveia no inverno.
A rotação de culturas ainda vai garantir uma boa cobertura do solo e acúmulo de matéria orgânica com efeitos benéficos para a saúde do solo. A produção de palhada mantém o solo macio e poroso. É essa condição que vai permitir que água, oxigênio, calcário, fertilizantes e novas raízes consigam se aprofundar no solo e gerar uma produção eficiente. Isso também vai fixar mais carbono no solo, um dos drivers da agricultura de baixo carbono.
São outros benefícios do plantio direto a economia de insumos importantes como combustível para máquinas agrícolas, uso de fertilizantes e corretivos, evitando gastos e aumentando a rentabilidade da lavoura.
O sistema de plantio direto é mais comum para soja, milho e trigo e é viável para qualquer produtor, embora se recomende a busca por assistência técnica para que a integração das práticas ocorra de maneira efetiva e possa resultar nos melhores benefícios para a produção e para o meio ambiente.