Produzindo Certo participa de estudo inédito que precifica serviços ambientais no cultivo da soja
Quanto vale a contribuição do produtor rural no armazenamento de carbono no solo, na disponibilidade hídrica e na conservação biodiversidade? Para dar uma resposta objetiva e, principalmente, ajudar o produtor rural a comprovar os serviços ambientais prestados pela atividade agrícola baseada nas melhores práticas, um grupo que envolve empresas e organizações do Brasil e internacionais está testando metodologias e tecnologias inéditas de precificação.
O foco desse estudo está no cultivo da soja e é feito com cinco propriedades do município de Campos de Júlio, no leste do Mato Grosso. O trabalho é financiado pela Aliança pela Floresta Tropical (TFA, na sua sigla em inglês), plataforma do Fórum Econômico Mundial, e conta também com parceria do PSA (Programa de Serviços Ambientais) Soja Brasil.
Duas empresas brasileiras que desenvolvem soluções de precisão integram o projeto: a Solinftec, agtech especializada em automatização de processos agrícolas, instalou softwares nas máquinas agrícolas para calcular as emissões de carbono e a fabricante de máquinas Jacto disponibilizou o espectrômetro, um sensor desenvolvido para a medição eletrônica do estoque de carbono no solo. O cálculo automático otimiza o processo, que no modo convencional demanda análises laboratoriais das amostras do solo que encarecem e aumentam o tempo para levantamento das informações.
As cinco propriedades fazem parte da Plataforma Produzindo Certo, contratada para fazer a seleção, a articulação com os produtores e o levantamento de dados iniciais das áreas.
A Sumitomo Chemical completa a coalizão. Uma das principais empresas químicas do mundo que oferece produtos de nutrição animal e saúde ambiental, ela se comprometeu a pagar pelos créditos gerados pelo estudo, compensando os produtores participantes pelos serviços ambientais comprovados.
Serão calculados serviços adicionais gerados por produtores pela manutenção da vegetação acima do mínimo exigido por legislação, a disponibilidade de água e o pelo incremento de carbono no solo gerado pela atividade agrícola.
“É um formato mais justo com o produtor rural brasileiro, adicionar outros serviços ambientais prestados em sua propriedade, como disponibilidade hídrica e manutenção da biodiversidade, à precificação do carbono no solo. As práticas agrícolas que desenvolvemos no Brasil são de alto valor ambiental agregado, na média, há muito mais carbono estocado numa fazenda no Brasil do que nos Estados Unidos. Temos muito mais biodiversidade protegida por arroba de carne produzida aqui do que, por exemplo, na Austrália”, argumenta Charton Locks, COO da Produzindo Certo.
Eduardo Caldas, coordenador da TFA Brasil, chama a atenção para a produção da soja, cultura que tem no Brasil um dos maiores produtores mundiais. “Apesar de haver mais de 300 iniciativas de PSA inventariados no mundo, não há um único mecanismo que possa ser usado pelo setor de soja para incentivar os produtores a conservar uma parte da sua propriedade”, afirma.
No início do ano, um estudo similar foi realizado em áreas do Maranhão. A iniciativa do Mato Grosso busca ampliar as informações e testar as novas tecnologias para baratear o valor do processo de cálculo e, assim, facilitar a comprovação dos resultados pelos produtores.
O agrônomo e consultor Marco Fujihara coordena o estudo e destaca a possibilidade de criar um modelo econômico viável para estimular proprietários rurais a adotarem as melhores práticas agrícolas. “O aumento da produtividade agrícola está ligado necessariamente à maior quantidade de carbono no solo. E o incremento de carbono é dado por práticas agrícolas, como a incorporação da palhada e o plantio direto”, explica Fujihara relacionando benefício ambiental à rentabilidade.
Ele também aponta a necessidade de ferramentas que deem segurança para a precificação desses serviços associados à produção no campo e para a redução de emissões, além de contribuir para ganhos de reputação para o agronegócio brasileiro.
As análises nas propriedades já foram realizadas e o estudo encontra-se na fase de avaliação. Seus resultados devem ser conhecidos ainda este ano. As unidades que participam do projeto piloto de Mato Grosso somam mais de 19 mil hectares, sendo 12.323 hectares de área produtiva e 7.414 hectares de vegetação nativa. Se qualificável, o agricultor terá como benefícios um reconhecimento financeiro pelos serviços ambientais prestados, um relatório do talhão da propriedade fornecido por uma plataforma digital e a certificação de participação.
Outro benefício da iniciativa é a geração de recomendações para subsidiar a formulação de políticas públicas para o pagamento por serviços ecossistêmicos associados à produção sustentável no Brasil.
“É um desafio muito grande e que precisa do apoio de grandes instituições para que possamos passar de um piloto e para ser algo operacional”, finaliza Charton Locks.
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