Com o avanço em pesquisa e inovação e um manejo integrado, que combina as melhores práticas de proteção das lavouras, os defensivos biológicos mostram que podem ir muito além da produção orgânica
A agricultura regenerativa é um dos termos mais atuais para falar sobre os benefícios de uma produção mais responsável, que cuida do solo, da água e da biodiversidade, mantendo os ciclos dos recursos naturais. O conceito é a tradução de um manejo que produz alimentos e repõe os nutrientes ao solo ou até mesmo sequestra carbono, gerando benefício para a gestão de gases de efeito estufa (GEE).
A adoção de defensivos biológicos é um dos aliados na prática da agricultura regenerativa. São ferramentas que usam recursos da própria natureza para combater a propagação de pragas e doenças nas plantações. Entre elas, inimigos naturais, como insetos e microorganismos, como fungos, podem reduzir a incidência de diferentes males que acometem as plantas, e inoculantes podem tornar as culturas mais resistentes.
O controle biológico começa por um olhar mais holístico da lavoura, para aumentar a resistência natural e desenvolver as melhores estratégias de prevenção e combate a pragas, como explica o agroecólogo e técnico de campo da Produzindo Certo, Jaime Dias. No manejo integrado de pragas (MIP), os biológicos são usados de forma combinada com os químicos, buscando uma eficiência maior da estratégia, com um menor impacto ambientral.
“O manejo integrado começa com um estudo de viabilidade para utilização de defensivos, avaliando como está a infestação de pragas e doenças. Vale já partir para um agroquímico ou talvez ele possa começar com um agente natural? O produtor deve entender que tem mais ferramentas. E que pode reduzir o seu custo e fazer um controle mais saudável e seguro para ele, seus trabalhadores e o meio ambiente”, ensina Jaime.
Além de reduzir o uso de produtos químicos, o controle biológico não deixa resíduos tóxicos em alimentos, água e solo, não contribui com o surgimento de populações de pragas resistentes e não afeta outras táticas de controle. A redução da aplicação de químicos nas lavouras ainda é requisito para certificações, como o RTRS da soja, sendo essa também uma solução que irá ampliar ajudar como diferencial competitivo e abrir mercados para a produção agrícola.
A evolução dos biológicos já permite seu uso em escala, não ficando mais restrito a produções orgânicas, e complementa as demais técnicas para proteção das plantas. Jaqueline Antonio, gerente de Comunicação e Marketing da Koppert Biological Systems, uma das líderes globais no mercado de defensivos biológicos, destaca que o desenvolvimento tecnológico do segmento tornou viável sua aplicação nas principais culturas produzidas no país, e ajuda a aumentar a resistência natural, desenvolver estratégias de gestão de pragas e otimizar o rendimento das plantações.
“O ponto principal é encontrar o equilíbrio, fazendo uso dos melhores recursos a disposição para uma produção de qualidade e rentável”, afirma Jaqueline.
Para a soja, por exemplo, a gama de produtos vai do plantio à colheita, incluindo o tratamento de sementes para criação de um ambiente com o máximo de raiz e proteção possível combinados, para que a planta possa expressar seu máximo potencial genético. No período de desenvolvimento da lavoura, fungos podem ser utilizados como inseticida microbiológico para combater a mosca-branca e microvespas localizam ovos hospedeiros do percevejo-marrom e depositam neles seus próprios ovos, interrompendo seu desenvolvimento, por exemplo.
“Mas é importante manter um bom monitoramento da lavoura, identificar os focos de infestação de forma cada vez mais precisa e antecipada para permitir que ele aja de maneira localizada e tenha mais eficácia no combate”, lembra Jaime Dias.
Mercado deve triplicar em uma década
Embora ainda pequeno se comparado ao uso dos defensivos convencionais, o mercado de proteção biológico cresce em ritmo acelerado e a expectativa é que ele triplique de valor no Brasil até 2030, alcançando R$ 3,7 bilhões. O estudo é da Consultoria Blink Projetos Estratégicos com a CropLife, organização que reúne as empresas fabricantes de defensivos agrícolas. Na safra 2020/2021 a expansão do uso desses produtos deve crescer 20%, segundo a organização. A soja e a cana-de-açúcar lideram essa adoção.
Esse é um mercado em consolidação no Brasil, o número de registros de produtos também cresce junto com desenvolvimento de pesquisas e inovação de novos agentes biológicos, sob medida para agricultura tropical, destaca Jaqueline.
De origem holandesa, a Koppert é líder em controle biológico no país com duas fábricas em operação e um departamento próprio de Pesquisa & Desenvolvimento para aperfeiçoamento de tecnologias de controle biológico para a agricultura tropical. No ano passado, a empresa lançou um centro internacional de pesquisa e inovação pesquisa em parceria com a Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo) e a Fapesp.
O objetivo do São Paulo Advanced Research Center for Biological Control (SPARCBio) é desenvolver um novo modelo de manejo integrado de pragas e de doenças que afetam a agricultura tropical, de modo a tornar o setor mais moderno e sustentável, envolvendo cerca de 50 pesquisadores, de diversas universidades e instituições de pesquisa do Brasil e do exterior. Uma das linhas de pesquisa é voltada à prospecção de novos agentes de controle biológico, englobando tanto macro (insetos e ácaros, por exemplo) quanto microrganismos (vírus, bactérias e fungos).
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