Responsável por cerca de 50% do PIB agrícola e com grande capilaridade, as cooperativas são parceiras estratégicas na difusão das boas práticas socioambientais
A produtora Clarice Bouwman consegue citar rapidamente dados técnicos como as dimensões necessárias de armazéns para o depósito de defensivos agrícolas, a distância mínima desse espaço para os alojamentos, o limite de diesel que pode armazenar na propriedade sem necessidade de licença especial, os treinamentos de segurança necessários para os funcionários, entre outras informações. O aprendizado é parte do processo de certificação para obtenção do selo RTRS, da Associação Internacional de Soja Responsável, um padrão adotado globalmente e que assegura a produção de soja sob rigorosos protocolos socioambientais, incluindo o compromisso de desmatamento zero.
Clarice é uma das gestoras da Stella Alba Agropecuária, sediada no município de Castro (PR), e aguarda com ansiedade a finalização do processo de certificação após dois anos de preparação sob orientação dos técnicos da Produzindo Certo. Ela integra o programa VALORE, da Bayer, desenvolvido pela empresa para levar apoio em assistência técnica para cooperativas parceiras. Através dele, os clientes da Bayer podem trocar pontos acumulados na aquisição de produtos por serviços ou produtos diferenciados.
Com a Produzindo Certo como parceira, a adequação das propriedades e sua preparação para as certificações socioambientais também passou a fazer parte do programa em cooperativas como a Castrolanda, de Castro, a Integrada, de Londrina (PR), e a Comigo, sediada em Rio Verde (GO). Nelas, dezenas de produtores já aderiram e caminham os passos da evolução contínua rumo à produção responsável.
“O processo é um pouco demorado e amplo, com muitos detalhes, mas vale a pena. A gente sabe que o mercado está mudando, que no futuro será preciso ter rastreabilidade do produto para acessar mercados como europeu e asiático”, comenta Clarice, associada à cooperativa Castrolanda, de Castro (PR), e que já pensa em iniciar o processo para outras duas propriedades.
As cooperativas têm um papel fundamental na difusão de conhecimento junto aos produtores rurais. O país possui mais de 1,2 mil cooperativas agrícolas, que reúnem quase 1 milhão de associados. Sabrina Calixto, gerente de estratégia de cooperativas da Bayer, lembra que as essas entidades são responsáveis por cerca de 50% do PIB agrícola no Brasil, estão presentes em todo o território nacional, com alta capilaridade, e são estratégicas ao reunir grupos de produtores de menor porte e dar a eles condições similares para negociações e consequente competitividade. “E elas estão se transformando, modernizando a gestão, adotando tecnologia. Formam um público estratégico para a Bayer”, afirma.
Ao levar a Produzindo Certo para essas propriedades, o programa VALORE proporciona aos pequenos e médios produtores uma nova visão de seu negócio. “Em geral, eles nunca passaram por um processo de análise e verificação socioambiental assim. A gente facilita o entendimento sobre as exigências e construímos os planos de melhoria conforme a capacidade de ação de cada um. O processo pode levar mais tempo por conta disso, mas todas as propriedades passam a atender os mesmos padrões de qualidade e rastreabilidade exigidos pela RTRS”, explica Cristhiane Simioli, gerente operacional da Produzindo Certo
Na propriedade da Clarice, por exemplo, essas medidas incluíram investimentos como a instalação de um container com parâmetros adequados para manter os produtos químicos utilizados e uma nova estrutura para armazenagem de diesel, observando todos os cuidados para proteger o solo e a segurança dos trabalhadores.
Além disso, o cooperativismo é um modelo de negócio baseado em princípios como justiça social, igualdade e bem-estar coletivo. São valores perfeitamente alinhados à produção responsável, de equilíbrio com os recursos naturais e respeito às pessoas.
Rudinei Bogorni, coordenador de assistência técnica da Castrolanda, destaca que o processo da RTRS despertou a cooperativa para buscar outros sistemas de rastreabilidade, que inclua as demais culturas presentes no sistema. A Castrolanda conta com mais de mil cooperados e 3,6 mil colaboradores, e negócios agrícola e pecuária, além de atividade industrial nas cadeias de carnes, leite e batatas. “Quanto tempo uma seguradora vai assegurar uma propriedade que não comprove alguma certificação, sem saber que a parte ambiental está adequada? Quanto tempo outros compradores vão comprar sem rastreabilidade? É nossa responsabilidade com os nossos produtores de estarmos à frente das transformações para proteger o produtor”, explica Rudinei, reforçando o papel da cooperativa de apoio às associadas na manutenção do olhar para a gestão de riscos e atento a tendências.
Na Castrolanda, 12 produtores de soja se preparam para obter o selo RTRS – dois deles estão em fase final de certificação, aguardando a auditoria final, realizada por organização independente para confirmar seu ingresso no mercado de soja com rastreabilidade. A pandemia atrapalhou um pouco e o processo precisou ser postergado. Daí, a ansiedade de Clarice após dois anos de investimentos nas adequações da fazenda e de acompanhamento dos técnicos da Produzindo Certo. A última verificação na propriedade foi realizada em novembro.
RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
A Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo) tem mais experiência na certificação, com seis produtores que já alcançaram o selo. O foco, porém, é certificar todos os 20 cooperados que integram o programa de relacionamento com a Bayer. “Isso é muito importante, especialmente para aqueles que estão voltados ao mercado externo. O comprador quer saber a origem do produto, ter certeza de que ele cumpre todos os requisitos legais e sustentáveis”, afirma Francimar Marques, coordenadora do Sistema de Gestão Integrada da Comigo.
A Comigo está no programa desde 2017 e foi destaque na conferência anual da RTRS, em 2018 em Lille, na França, tendo alcançado as primeiras certificações no primeiro ano da iniciativa. “Cada uma das propriedades selecionadas é visitada por uma equipe da Produzindo Certo. As visitas duram 8 horas, o que dá a dimensão da seriedade da iniciativa. Avançamos na adequação das propriedades e notamos cada vez o comprometimento do produtor, que deseja ser reconhecido como um aliado do meio ambiente. Ser sustentável, afinal, só traz benefícios”, completa Francimar.
Contratada pela Bayer para oferecer a assistência técnica aos produtores, a Produzindo Certo acompanha toda a preparação para obtenção do selo. O primeiro passo é a aplicação de um diagnóstico para detalhar a situação das fazendas e apontar as necessidades de adequações. Esse trabalho conta com a visita dos técnicos nas propriedades para conferir in loco todos os itens de um cuidadoso questionário dos aspectos produtivos, social e ambiental.
Com o diagnóstico em mãos, a próxima etapa é a construção dos planos de ação para melhorias feito em conjunto com os produtores e a cooperativa. O plano considera as características específicas e capacidade do produtor, que muitas vezes precisam realizar investimentos para melhoria de infraestrutura, treinamentos dos funcionários ou melhoria de processos. Verificações periódicas nas fazendas participantes completam o pacote de assistência até a finalização do processo de cerificação.
