O que você precisa saber sobre o carbono que domina as discussões e que pode se transformar em uma oportunidade para o agro responsável
O termo está em todo lugar. De líderes globais a executivos de grandes empresas, passando por consumidores e, por que não, produtores rurais, falar em carbono neutro tornou-se corriqueiro – seja em compromissos para redução de gases poluentes, seja na incorporação desse atributo em rótulos de alimentos. Quando se fala da produção agropecuária, então, o tema é ainda mais relevante. O setor é responsável por 11% do total global de emissões de gases de efeito estufa e é visto como um dos que mais pode contribuir para reduzir os efeitos nocivos dessas emissões sobre o clima.
Grandes compradores de commodities agropecuárias, como frigoríficos, tradings e a indústria de alimentos têm assumido metas mais ambiciosas quando o assunto é chegar à neutralidade nas emissões de seus negócios. Isso tem impacto direto nas cadeias de fornecimento, que serão estimuladas a buscar também encontrar o equilíbrio entre emissões e sequestro desses gases. Assim, propriedades rurais são parte importante deste cenário e o tema, que é novo para muitos produtores, poderá ser uma oportunidade para o seu negócio.
Para ajudá-los a entender melhor o assunto, preparamos um guia com alguns conceitos básicos e pontos de atenção para quem é do agro. Confira:
– O que significa neutralização de carbono?
Neutralizar o carbono significa tomar ações para evitar as consequências ambientais do desequilíbrio entre as emissões de gases de efeito estufa (como o dióxido de carbono) e sua captação no solo e nas plantas. Uma fazenda será considerada carbono zero (ou neutra em carbono) quando todas as suas emissões forem quantificadas e, posteriormente, compensadas por ações de retenção de carbono na mesma proporção.
– Como saber se uma propriedade é carbono neutra?
O primeiro passo é fazer um inventário das emissões. Isso é feito a partir da identificação das principais fontes poluentes e a quantificação do impacto de cada uma. Na agropecuária, os índices de emissões de várias atividades já foram estimados e, a partir de tabelas e conversores aceitos internacionalmente (como o elaborado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC), é possível fazer os cálculos para cada atividade desejada. Da mesma forma, pode-se estimar o total de gases retirados da atmosfera e fixados na propriedade, seja no solo ou em plantas. A comparação entre os dois dados indicará a situação da fazenda.
– Quais são as principais causas de emissão no campo?
A maior parte das emissões na produção agropecuária é resultado dos gases derivados da digestão do gado. O metano expelido pelos animais corresponde a 40% do total. Outras fontes de emissão importantes são as adubações nitrogenadas e o manejo inadequado de lavouras, a queima de biomassa (seja pela abertura de novas áreas, seja pelas queimadas) e a manutenção de pastagens degradadas.
– Por que se fala em carbono neutro quando outros gases, como o metano, entram no cálculo das emissões?
São seis os gases de efeito estufa considerados nos cálculos das emissões, segundo o Protocolo de Kyoto: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6). Eles são emitidos em diferentes atividades. Uma vez estimadas as quantidades de cada um deles, os números encontrados serão transformados na mesma base, em CO2 equivalente (CO2 eq.) –, também usando ferramentas de cálculo reconhecidas internacionalmente. Para cada gás, aplica-se um índice de conversão. Isso é necessário para se criar uma só unidade, permitindo que se adote ações de compensação efetivas.
– Quais são os principais instrumentos para sequestro de carbono nas propriedades?
Uma das ações de compensação das emissões é a inserção de árvores nos sistemas produtivos, seja na pecuária, seja na agricultura. As árvores são grandes ferramentas de sequestro de carbono, pois necessitam desse elemento para realizar a fotossíntese, processo que lhes garante energia para o crescimento e a sobrevivência, e o armazenam em suas folhas, troncos e raízes. Uma árvore pode capturar cerca de 15,6 quilos de CO2 por ano nos seus primeiros 20 anos de vida, quando ainda em crescimento. Uma vez madura, ela reduz o índice, mas continua capturando cerca de 4,4 quilos anualmente.
“Pastagens de boa qualidade e bom manejo também são ótimas na captura e retenção do carbono, em alguns casos mais efetiva do que uma área equivalente com mata”, afirma Lucas Luís Faustino, especialista em Sustentabilidade na Produzindo Certo. Segundo estimativas da Embrapa, um hectare de uma pastagem com forragem adequada pode neutralizar as emissões de duas cabeças de gado bovino.
A combinação de árvores, pastagens e lavouras em sistemas integrados são, assim, os meios mais eficientes de neutralização das emissões pela agropecuária. Um estudo realizado pela Embrapa Cerrados comprovou que a produção de animais, árvores e lavouras/pastagens em um mesmo local tem elevado potencial de gerar saldos positivos de carbono nas propriedades. Segundo a pesquisa, o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) implantado em apenas 15% da área de produção já é o suficiente para compensar todas as emissões de gases de efeito estufa gerados pelos animais.
– As plantas das lavouras ajudam na captura de carbono?
As culturas agrícolas, desde que realizadas com manejo adequado, podem ter impacto positivo. As plantas utilizadas na produção de grãos, fibras e energia, assim como as árvores, sequestram carbono na sua fase de crescimento, mas emitem ao serem colhidas. Boas práticas agrícolas, como o plantio direto – com manutenção da palhada – evitam as emissões resultantes da ação de revolver o solo, típica do manejo convencional. Da mesma forma, a utilização de agricultura de precisão, com diminuição no uso de insumos químicos e combustível nas máquinas, reduz a pegada de carbono das lavouras.