A Agricultura Regenerativa é a onda do momento. Uma onda boa, empurrada por ventos positivos, mas que não é tão fácil de surfar como muitos imaginam.
O conceito, como o próprio termo regeneração sugere, propõe a adoção mais intensa das boas práticas agrícolas, visando melhorar a saúde do solo e de outros recursos naturais, além de ajudar a recuperar os ecossistemas e tornar os sistemas produtivos mais resilientes.
Felizmente, entrou na agenda de grandes grupos agrícolas e agroindustriais em todo o mundo, que colocaram a agricultura regenerativa na vitrine de seus projetos ESG, associada a metas de descarbonização.
Do discurso bonito à prática eficiente, porém, há milhares de hectares de distância. Desenhar e, sobretudo, executar programas voltados ao incentivo da agricultura regenerativa são desafios complexos, que envolvem bem mais que a disposição corporativa.
Nenhum desses desafios é maior do que engajar o produtor rural. Em geral, ele entende o conceito e, em muitos casos, já utiliza em suas propriedades pelo menos parte das boas práticas incluídas nos programas propostos pelas empresas. Plantio direto, por exemplo, é quase regra no Brasil – embora em alguns países, como nos Estados Unidos, seja ainda recente e esteja entre as recomendações de alguns desses programas.
O que pode emperrar a adesão de agricultores é a dificuldade de entender como isso resultará em ganhos para ele. As grandes empresas do agronegócio conseguem contabilizar facilmente os benefícios de imagem e de adequação a exigências legais e de consumidores, sobretudo em mercados mais maduros.
E, para otimizar resultados, criam modelos de coalizão, que normalmente reúnem uma empresa de alimentos, uma trading e uma fabricante de insumos. O produtor vislumbra os gigantes reunidos e sente-se pequeno, além de ter dificuldade de enxergar o benefício financeiro de se aliar a eles.
Agricultura regenerativa tem custo e não traz resultado imediato. É possível, ao longo de algumas safras, colher frutos das reduções de uso de insumos e eventuais acessos a linhas de crédito verde, com condições de pagamento mais favoráveis. Mas no primeiro momento há investimento e até mesmo possível quedas de produtividade até a adaptação da propriedade ao novo modelo.
A recuperação do solo e da biodiversidade, também em longo prazo, é um ganho fundamental. Normalmente, é o que baseia o discurso de grandes corporações. Mas, mais uma vez, não resolve o dilema do produtor: ele se engajará à medida em que a conversa for franca e a conta, positiva.
Assim, uma peça importante para fazer essa engrenagem funcionar é a presença de agentes capazes de liderar os projetos e estabelecer pontes entre os interesses dos gigantes e as necessidades dos proprietários de terras. Com capacidade técnica e traduzindo em números – e na linguagem do produtor – os impactos gerados no campo e nas contas das propriedades.
A elaboração de projetos de agricultura regenerativa precisa considerar a realidade de cada região, a conjuntura que envolve os produtores e a definição dos parceiros certos para cada etapa. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maior parte dos projetos envolve remuneração dos produtores com base na geração de créditos de carbono e até incentivos oficiais. Na conta dos créditos, a adoção do plantio direto é considerada como uma adicionalidade que pode gerar recursos ao agricultor. No Brasil, porém, essa mesma prática, por já estar amplamente difundida há décadas, não é vista como adicionalidade.
Além disso, com o mercado de carbono ainda incipiente, modelos de programas de agricultura regenerativa envolvendo esses créditos têm pouca efetividade por aqui. E vários projetos de agricultura regenerativa que chegam ao produtor sequer estipulam remunerações adicionais pela conversão das áreas.
Na Produzindo Certo, temos buscado formatar propostas que oferecem incentivo financeiro real, além de levar conhecimento suficiente para que o produtor sinta-se confortável e confiante na adoção da agricultura regenerativa. Nos programas que coordenamos a remuneração é baseada no score Produzindo Certo e na área em que o produtor aplica as práticas indicadas.
A mensuração de carbono estocado faz parte dos programas, mas como um indicativo da saúde do solo e um comprovante de que essas boas práticas estão sendo aplicadas. Com dados expostos de forma transparente e simples, inclusive no âmbito financeiro, a conversa fica mais fácil. Daí para o engajamento a distância fica mais curta e todo mundo pega a mesma onda.