O conhecimento do dia a dia na lavoura e a proximidade com os produtores rurais são os principais diferenciais da equipe de campo da Produzindo Certo
Em um dia de visita a fazendas no interior do Mato Grosso para apresentar o trabalho de avaliação socioambiental e assistência técnica realizado pela Aliança da Terra, hoje Produzindo Certo, o engenheiro ambiental Fábio Coelho se deparou com um produtor desconfiado. O agricultor chegou a colocar um revólver em cima da mesa durante a conversa. O técnico de campo que trabalha há mais tempo na Produzindo Certo ri ao relembrar a história. A tática de intimidação tinha uma dose de piada. Além de contornar a situação, Coelho o convenceu a se engajar na plataforma.
“Era uma brincadeira. Quem não se assustava acabava ganhando a confiança dele. E ele faz parte da plataforma até hoje. É uma fazenda com produção de soja certificada atualmente”, conta Coelho.
Situações como essa, felizmente, são raras. Por outro lado, a desconfiança dos agricultores com quem chega à fazenda perguntando sobre processos produtivos, práticas ambientais e de segurança é uma das barreiras que o time de campo da Produzindo Certo sabe contornar para ganhar a confiança e o respeito dos produtores rurais. O reconhecimento do trabalho de mais de 16 anos em várias regiões do Brasil e 1.500 propriedades verificadas também ajudam a quebrar resistências.
“Nossa ideia nunca foi fiscalizar ou excluir os produtores com alguma não conformidade. Nossa metodologia parte do propósito de ajudar o homem do campo a compreender as exigências legais e de incentivá-lo a ir além, orientando sobre as boas práticas agrícolas e a importância da conservação ambiental e do respeito às pessoas com as quais ele se relaciona. É assim que será possível promover transformação na ponta”, explica a CEO da Produzindo Certo, Aline Locks.
É a proximidade com o campo que faz o trabalho da Produzindo Certo diferenciado. Com o contato direto com os produtores, eles capturam as percepções críticas e desafios enfrentados por quem vive da terra. Para as empresas que contratam os serviços da plataforma, esse conhecimento aumenta a transparência e melhora o conhecimento sobre a sua cadeia de fornecimento de insumos naturais. Já os produtores rurais contam com planos de ação mais adequados a sua realidade e sabem que podem contar com a assistência técnica da Produzindo Certo na sua execução.
Além de Coelho, o time de campo tem uma composição multidisciplinar, composto por profissionais formados em agronomia, medicina veterinária, segurança do trabalho e agroecologia. Só em 2019, eles percorreram mais de 85.500 quilômetros para visitar fazendas e manter contato direto, olho no olho, com os produtores. É quilometragem suficiente para ir do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS) 15 vezes. E esse número deve crescer. A empresa está contratando mais nove técnicos para reforçar sua equipe e dar conta do crescimento no número de propriedades rurais que adotam os serviços de diagnóstico e verificação socioambiental.
Além de sólido conhecimento e formação ligada ao agro, eles têm habilidades como comunicação, negociação e empatia para escutar as críticas e os desafios dos produtores rurais. E como faz para quebrar o gelo? “Geralmente é na conversa. Muita conversa”, responde Coelho. “Quando falo com um produtor, peço a indicação de outros. Costumo procurar o contato e agendar uma visita de apresentação. Mas quando estamos iniciando em uma região, é pegar a estrada e ir de fazenda em fazenda mesmo. Em geral eles entendem, gostam do trabalho”, completa.
A recomendação de outros produtores, um reconhecimento da confiança conquistada pelo trabalho prévio da Produzindo Certo, abre muitas portas. Antes da pandemia, a abordagem incluía a sensibilização de líderes locais e reuniões com entidades de produtores. Essa prática também ajuda a chamar a atenção de agricultores e pecuaristas para as principais tendências, e despertar o interesse deles para as boas práticas do agro e a redução de riscos como perda de mercado, multas e embargos.
“Hoje há outras organizações oferecendo diferentes tipo de apoio aos produtores. Muitos se inspiraram na gente, inclusive. Nosso diferencial, além da experiência e da confiança que conquistamos, é o retorno que conseguimos oferecer aos produtores”.
Coelho se refere aos benefícios adicionais à assistência técnica. A maioria dos projetos da Produzindo Certo conta com a parceria de grandes empresas compradoras de grãos e carne, que além de custear a assistência técnica fornecida também consegue associar algum outro incentivo. Seja um valor adicional na hora da venda da produção, um apoio para os investimentos em infraestrutura necessários nas fazendas ou uma bonificação anual para aqueles que comprovam evolução.
A equipe está ganhando agora um reforço tecnológico importante. Hoje, Coelho não precisa mais consultar os bancos de registros um a um para acessar informações como a situação do CAR (Cadastro Ambiental Rural), áreas embargadas, casos de desmatamentos recentes ou áreas sobrepostas a terras indígenas e unidades de conservação. Ele insere as coordenadas da área que está verificando na nova Plataforma Produzindo Certo e o cruzamento com as fontes oficiais de monitoramento é feita de forma automática. A tecnologia começou a ser implantada no meio do ano e alguns recursos já facilitam o trabalho de campo. Assim, além de aumentar a capacidade de fazendas atendidas, a plataforma privilegia o tempo dos técnicos para a escuta e a orientação aos produtores rurais.
A tecnologia também é aliada para lidar com os efeitos da pandemia, que restringiu a locomoção. Nos meses mais críticos, as visitas às propriedades foram interrompidas para proteger os profissionais da Produzindo Certo e as comunidades rurais. Nesse período, a proximidade foi assegurada por contatos via telefone e redes sociais.
Para se ter ideia, as equipes realizaram mais de 300 visitas técnicas em 2019. Esse volume varia bastante ano a ano, vinculado aos projetos e iniciativas em desenvolvimento. Fazem parte da plataforma fazendas das cinco regiões do país, num total de mais de 5,6 milhões de hectares. As culturas também são variadas, incluindo pecuária, soja, milho, tabaco e cítricos.
Em muitos casos, eles fazem a visita técnica para construir o diagnóstico socioambiental e retornam à propriedade anualmente para verificar as evoluções. As visitas foram retomadas em setembro, com novos protocolos de saúde e máscaras e álcool em gel viraram equipamentos de proteção obrigatórios. Também foram reforçadas as orientações sobre lavagem das mãos e distanciamento adequado.
Neste mês de novembro, Fábio Coelho estava no oeste de Mato Grosso, em Campos de Júlio, recrutando produtores de soja interessados em integrar uma iniciativa para receberem gratuitamente a avaliação das condições da fazenda e assistência técnica para garantir uma produção de soja responsável. Trata-se de uma parceria internacional liderada pelo Instituto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), e que inclui a ONG EDF e o Soft Commodities Forum (SCF), coalizão das seis principais traders globais do agro. Essas organizações trabalham juntas para criar um sistema alimentar mais seguro e sustentável. A Produzindo Certo foi escolhida para fazer essa aproximação com o campo por sua experiência no relacionamento com os produtores rurais. Coelho visitou mais de 30 fazendas em um mês, feliz de estar de volta de mãos dadas com o produtor.