Pará na vanguarda da rastreabilidade: Estado deve liderar a identificação bovina no Brasil - Produzindo Certo
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Pará na vanguarda da rastreabilidade: Estado deve liderar a identificação bovina no Brasil

Ascom/ADEPARÁ

O estado do Pará está revolucionando a pecuária brasileira ao implementar um sistema inédito de rastreabilidade bovina. A iniciativa visa garantir maior controle sanitário, ambiental e comercial da carne produzida no estado, atendendo tanto às exigências do mercado interno quanto internacional.

O programa estadual não só coloca o Pará na vanguarda da rastreabilidade como também serve de referência para o recém-lançado Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB).

A rastreabilidade animal é essencial para acompanhar a origem e o histórico de cada bovino ao longo da cadeia produtiva. No caso do Pará, a identificação individual de cada animal será feita com brincos e bótons eletrônicos, um avanço significativo na forma como o rebanho será monitorado.

O Pará está sendo pioneiro no Brasil em criar o programa específico para a identificação individual do rebanho, e esse programa tem muitos desafios”, explica Jamir Macedo, diretor-geral da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (ADEPARÁ).

A implementação está ocorrendo em fases. Atualmente, o estado já tem um sistema de gestão de informações moderno, que armazena dados com alto nível de segurança. Além disso, foram criadas portarias estaduais que regulamentam a rastreabilidade e já foram iniciados os treinamentos para operadores privados e servidores oficiais da ADEPARÁ.

Nós já estamos colocando a botina no pé e indo a campo para identificar esse rebanho. Já temos mais de 3 mil cabeças registradas e esse número vai crescer nos próximos meses”, afirma Macedo.

A meta é que, a partir de 1º de janeiro de 2026, 100% do trânsito animal dentro do Pará seja rastreado, e até 2027 todo o rebanho do estado esteja identificado individualmente.

A logística para implementar esse sistema é um dos maiores desafios, principalmente devido às dimensões do estado e à diversidade dos sistemas produtivos. “Temos regiões como Marajó e Baixo Amazonas, onde o acesso só é possível por embarcações, o que torna a logística muito mais complexa”, destaca Macedo.

Apesar disso, o setor produtivo tem respondido positivamente à iniciativa. “Tudo que é novo gera preocupação, mas quando o produtor entende os benefícios, a aceitação é muito boa”, complementa.

O plano nacional e sua integração com o Pará

Ascom/ADEPARÁ

O avanço do Pará está diretamente ligado ao Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB), lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) em dezembro de 2024. Fernando Sampaio, diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), participou da formulação do plano nacional e destaca que ele prevê a integração de todos os sistemas estaduais a uma base centralizada no governo federal.

Os sistemas de informação que controlam o trânsito e a identificação nos estados deverão estar integrados a um sistema centralizado no Ministério, isso está previsto já no primeiro e segundo ano de implementação do PNIB. O Pará sabe disso e a Agência estadual, a ADEPARÁ está trabalhando já prevendo que essa integração vai acontecer”, explica Sampaio. No entanto, os estados podem adotar regras mais restritivas e adiantar etapas, como está acontecendo no Pará, se quiserem acelerar o processo.

O plano nacional será implantado em etapas ao longo de oito anos. Diferentemente do que muitos imaginam, a rastreabilidade não será exigida de todo o rebanho de imediato. “Não é do dia para noite que se exige a identificação individual em um rebanho como o nosso. Por isso, foram pensadas etapas graduais, reduzindo custos e escalonando a adesão ao longo dos anos”, esclarece Sampaio.

Inicialmente, a identificação será obrigatória apenas para animais em movimentação entre fazendas para leilões ou frigoríficos, por exemplo. Só no final do oitavo ano é que a identificação será exigida antes de toda a movimentação.

Sampaio ressalta que um dos maiores desafios para a adesão ampla da rastreabilidade é o custo para os produtores, especialmente os pequenos pecuaristas. “É preciso pensar em políticas que ajudem pequenos produtores a cobrir custos de identificação e entrarem no sistema”, afirma.

Ele também destaca que há desafios culturais: “Há uma barreira psicológica a ser vencida. Muitos produtores têm uma memória ruim do Sisbov pelas regras criadas para atender exigências sanitárias europeias. O PNIB tem um regramento bem mais simples. A obrigação do produtor será simplesmente a de identificar animais antes de alguma movimentação e comunicar no sistema as saídas e entradas de animais”.

Portanto, o pecuarista, que está sempre atento às melhores práticas para aumentar a produtividade, deve ficar de olho nesse tema. Mais do que uma exigência, a rastreabilidade pode ser uma grande aliada na gestão da propriedade.

Além de garantir controle sanitário e facilitar o acesso a mercados exigentes, a identificação individual dos bovinos também contribui para uma administração mais eficiente do rebanho e caminha para se consolidar como um caminho sem volta para uma pecuária mais sustentável, transparente e competitiva.

O que é rastreabilidade e por que ela importa?

A rastreabilidade animal é um sistema que permite acompanhar a origem e o histórico de cada bovino ao longo da cadeia produtiva, garantindo segurança sanitária, controle ambiental e conformidade com exigências do mercado internacional. O objetivo é assegurar que a carne brasileira atenda aos padrões de sustentabilidade e sanidade exigidos pelos principais compradores.

O Programa de Rastreabilidade Bovídea do Pará

A iniciativa faz parte do Programa da Pecuária Sustentável do estado, estruturado em três pilares principais:

  • Identificação individual do rebanho: utilizando brincos e bótons eletrônicos;

  • Integridade da cadeia pecuária: promovendo regularização ambiental das propriedades;

  • Agregação de valor: criando incentivos financeiros para produtores que aderirem ao programa.

Benefícios da rastreabilidade bovina

A rastreabilidade trará diversos benefícios para o setor, como:

  • Acesso a mercados internacionais que exigem rastreabilidade para importar carne bovina;

  • Maior controle sanitário, prevenindo a propagação de doenças como febre aftosa;

  • Facilidade de gestão pecuária, permitindo monitoramento individual dos animais;

  • Valoração da carne brasileira, tornando-a mais competitiva globalmente.