O segredo do sucesso no pasto - Produzindo Certo
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O segredo do sucesso no pasto

Foto: Rodrigo Paniago

A base da pecuária brasileira está debaixo dos nossos pés. Literalmente. O solo, muitas vezes negligenciado, é o alicerce da produção agropecuária e determina o sucesso ou o fracasso de qualquer sistema. Para Rodrigo Paniago, engenheiro agrônomo e consultor da Boviplan, a atenção ao solo é o primeiro passo para uma pecuária mais produtiva, rentável e sustentável.

Qualquer projeto de produção agropecuária deve iniciar por um completo diagnóstico do solo para definir as estratégias de instalação de qualquer cultura agrícola, como a pastagem, por exemplo”, afirma o especialista. Segundo ele, não basta observar apenas os aspectos físicos do solo: é essencial avaliar também a fertilidade química, o teor de matéria orgânica e a presença de microrganismos.

O engenheiro agrônomo destaca que a falta de cobertura vegetal, provocada principalmente pelo superpastejo, inicia um ciclo vicioso de degradação que impacta diretamente a sustentabilidade da pecuária. Sem essa proteção natural, o solo fica vulnerável, o que aumenta os riscos de erosão.

Degradação silenciosa e prejuízos evitáveis

A falta de boas práticas leva à degradação da pastagem e com isso o excesso de reformas na área, esse revolvimento excessivo do solo agrava ainda mais a situação. “Isso reduz a presença de matéria orgânica e expõe o solo às ocorrências de erosões, diminuindo sua vida produtiva e trazendo um custo desnecessário à produção”, alerta.

Além disso, ele ressalta que as estratégias de manejo variam conforme a região. Fatores como infraestrutura precária, logística cara e preços baixos da arroba dificultam a adoção de tecnologias adequadas. “Em anos de baixa no valor da arroba, o que ocorre de tempos em tempos por conta do ciclo pecuário, os produtores ficam menos capitalizados e tendem a reduzir ações de manutenção das pastagens, o que compromete sua vida útil”, completa.

Esse cenário mostra que o manejo inadequado gera perdas tanto econômicas quanto ambientais. Evitar que o solo chegue a esse ponto é um passo importante para garantir sistemas produtivos mais duradouros e eficientes.

Intensificar para preservar

Um dos caminhos possíveis para reverter essa situação é a intensificação das pastagens. “Pastagens intensivas significam que a fertilidade do solo está em contínua manutenção ou, muitas vezes, com teores de nutrientes maiores do que a situação original”, destaca Paniago.

Isso leva a um aumento da produção de forragem, com consequente crescimento das raízes e acúmulo de matéria orgânica no solo por meio do sequestro de carbono da atmosfera”, complementa. Esses fatores contribuem para tornar o sistema mais longevo e produtivo.

Além disso, produzir mais em menos área reduz a necessidade de abrir novas fronteiras agrícolas, favorece a preservação ambiental e evita o avanço do desmatamento. A intensificação, portanto, é uma aliada da sustentabilidade.

Recuperar e regenerar

Segundo o especialista, recuperar áreas degradadas é possível, desde que se adote um conjunto de práticas integradas, como o controle de plantas invasoras, a reposição de nutrientes e o manejo racional das pastagens.

De nada adiantará o aporte com tecnologia de insumos se não forem somados a estes a tecnologia de processo, que na maioria esmagadora dos casos é o manejo rotacionado das pastagens — conhecimento que está para completar 70 anos de existência”, afirma.

A agricultura regenerativa também entra nesse contexto. Embora o termo seja recente, muitos de seus princípios já eram ensinados nas faculdades de agronomia e fazem parte das recomendações da Boviplan desde sua fundação, em 1983.

Tecnologia a serviço do solo

Foto: Rodrigo Paniago

Nos últimos anos, novas tecnologias foram incorporadas às práticas de manejo, como a integração lavoura-pecuária, o uso de produtos biológicos e o manejo baseado na altura do capim para definir o momento de entrada e saída dos animais dos piquetes. Tudo isso, segundo Paniago, amplia os benefícios para o solo e fortalece os sistemas produtivos.

Os resultados de quem investe nessas práticas são claros: aumento da produtividade, maior estabilidade na produção e mais rentabilidade. “O produtor rural, por natureza, é um empreendedor. E uma característica intrínseca desse perfil é a busca constante por melhoria no sistema de produção”, afirma.

No entanto, não adianta ter apenas vontade. É preciso dominar as tecnologias. Para isso, ações de transferência de conhecimento são fundamentais”, completa o consultor, ressaltando a importância de suporte técnico contínuo ao produtor.

Diagnóstico é ponto de partida

Antes de qualquer mudança, é fundamental entender o solo. Paniago reforça que o diagnóstico deve considerar relevo, presença de alagamentos, atributos físicos, químicos e, cada vez mais, biológicos. “Hoje já conseguimos medir a qualidade biológica do solo. Isso ajuda muito nas decisões técnicas”, explica.

A coleta precisa ser feita por um profissional capacitado, com técnica adequada. Isso garante que os dados sirvam de base para decisões assertivas, otimizando recursos e aumentando a eficiência dos investimentos.

Sem esse diagnóstico inicial, qualquer plano de manejo se torna um tiro no escuro. Com ele, as chances de sucesso são muito maiores — tanto para o bolso quanto para o meio ambiente.

Dicas para começar

Para quem quer cuidar melhor do solo, Paniago deixa três recomendações práticas. A primeira é buscar apoio técnico para fazer uma coleta de solo bem feita. A segunda é manter o solo sempre coberto, evitando deixá-lo exposto à erosão e à perda de matéria orgânica. A terceira dica é promover a diversidade vegetal, seja por meio da rotação de culturas ou do consórcio de espécies.

Em tempos de desafios ambientais e pressão por produtividade, cuidar do solo deixou de ser apenas uma boa prática: é uma necessidade estratégica para garantir o futuro da pecuária.