“O preço da liberdade é a eterna vigilância”.
A autoria da frase é controversa – uns a atribuem ao ex-presidente americano Thomas Jefferson, que a proferiu em um discurso em 1790; outros, ao pensador irlandês John Philpot Curran, de quem Jefferson a teria emprestado e, então, transformado em um mandamento das discussões em torno dos direitos individuais.
Em tempos de mercado cada vez mais regulados e das mais diferentes imposições de barreiras ao livre comércio entre os países, é possível aplicá-la em novos contextos. Precisamos ficar vigilantes para não cairmos na armadilha do protecionismo, que tem muitas caras.
Exigências ambientais e sanitárias, por exemplo, têm sido cada vez mais frequentes e customizadas para servir como instrumentos para criar reservas de mercado e impedir que produtos vindos de países mais competitivos tomem espaço de similares locais.
O jogo não é novo, mas as regras mudam ao sabor dos ventos geopolíticos. A atenção irrestrita a elas é mandatória, seja para adaptar-se, seja para contestá-las.
O agro brasileiro, é sabido, é peça-chave nesse jogo, alvo frequente, pela sua competitividade, de atenções especiais por parte de concorrentes que, por diferentes questões, são incapazes de produzir na mesma escala e custo.
Sem o argumento econômico – e a limitação orçamentária para subsídios – muitas vezes resta a outros países buscar vulnerabilidades no modelo de produção brasileiro. Nós sabemos quais elas são. Eles, também.
Também sabemos que somos capazes, quando determinados a tal, de superá-las, com vigilância e disciplina. Tome-se como exemplo o magnífico trabalho feito no campo de defesa sanitária por sucessivos governos brasileiros, que nos garante, hoje, a capacidade de se declarar, no campo da pecuária, país livre da incidência de febre aftosa sem vacinação.
Conquista recente, esse status derruba barreiras e abre mercados, assim como, na avicultura, somos vistos como exportadores confiáveis pelo rígido e eficiente controle realizado pelas autoridades no surgimento de casos de gripe aviária.
A vigilância nos garante a sanidade, coisa que nem mesmo os Estados Unidos conseguiram assegurar – o país luta agora para evitar um alastramento da doença, que já atingiu rebanhos bovinos e provocou mortes até entre trabalhadores em propriedades rurais.
Se replicado na área ambiental, o exemplo de sucesso do âmbito sanitário poderia libertar nossos exportadores de tantas outras amarras que dificultam acesso a consumidores estrangeiros e rasuram a imagem dos produtos brasileiros no exterior.
Regras claras, políticas de interesse nacional mantidas independentemente de quem exerce o poder, aplicação das leis. Produtores rurais já sabem que é possível ganhar com isso e, uma vez que estejam convencidos de que haverá uma coesão em torno desses objetivos, certamente não se furtará a se engajar em mais essa frente.
Ele sabe que o preço da sustentabilidade é a eterna vigilância. E está disposto a pagá-lo.