Bem-vindas e bem-vindos ao Notícias Responsáveis, informativo quinzenal da PRODUZINDO CERTO com uma curadoria de alguns dos melhores conteúdos sobre o universo do #agroresponsável no Brasil e no mundo.
A cada edição traremos um resumo comentado do que você precisa saber, dentro e fora da porteira para plantar, colher, criar e pensar com respeito à terra, ao produtor, ao meio ambiente e ao consumidor, formando uma cadeia de conhecimento produtiva e positiva.
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O ANO DAS FINANÇAS VERDES
Uma antiga reivindicação do #agroresponsável foi finalmente atendida: o pagamento por serviços ambientais (PSA). O governo federal publicou no Diário Oficial da União na quinta-feira, 14 de janeiro, a sanção presidencial à lei 14.119, de 2021, que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais e estabelece remuneração e incentivos a donos de terra para a manutenção da cobertura vegetal nessas áreas.
A lei abre caminho para a definitiva implementação de uma série de instrumentos para a operacionalização desses pagamentos, seja em recursos públicos ou em títulos verdes emitidos por empresas para captação de recursos destinados a financiamento de projetos com impacto ambiental positivo em diversas áreas. As Finanças Verdes ganham, assim, um novo impulso.
Carbono, a nova moeda do campo
Outra antiga promessa que torna cada vez mais real em 2021 é o da consolidação do mercado de créditos de carbono, também com grande potencial para gerar recursos extras para produtores rurais comprometidos com as melhores práticas socioambientais.
A previsão é de alguns dos maiores especialistas em investimentos em tecnologias para o agronegócio, segundo enquete feita pelo World Agritech Innovation Summit, maior evento do setor agtech no mundo.
“A oportunidade de medir e gerenciar de forma eficaz as compensações de carbono representa um oceano azul para os agricultores, sabendo do grande impacto positivo que o solo pode ter como repositório de carbono e do simples fato de que até mesmo o milho sequestra algo em torno de 8 toneladas de carbono. Esses mercados de crédito emergentes têm potencial de valor imediato e de longo prazo” – Paimun Amini, diretor de Venture Investments da o programa LEAP da Bayer.
Quando mantêm reservas nativas ou utilizam boas práticas conservacionistas em suas áreas, agricultores e pecuaristas contribuem para a manutenção do regime de chuvas, manutenção da qualidade do solo e aumento de produtividade de suas áreas, além de prestar um serviço ambiental para a sociedade como um todo.
Durante um bom tempo muita gente boa dizia que essa contribuição só seria crescente se resultasse em benefício econômico para os produtores, mas que era impossível dimensionar claramente qual a contribuição de cada propriedade e, assim, definir essa remuneração.
É justamente com o uso de novas tecnologias que está desatando o nó que amarrava o mercado de carbono. Tem muito dinheiro em jogo e, quando isso fica claro aos empreendedores, as soluções rapidamente chegam ao mercado.
E elas estão mudando o jogo em duas frentes:
Vejamos, em uma rápida olhada em conteúdos disponíveis, como a colheita dos créditos de carbono pode estar mais próxima de acontecer:
Wall Street está falando disso
O The Wall Street Journal, bíblia do mercado de capitais, destacou o carbono como a nova aposta para gerar caixa aos produtores (texto em inglês, para assinantes). Resumo do artigo, em 6 pílulas:
– Investidores estão aportando milhões no desenvolvimento de tecnologias confiáveis de mensuração de carbono;
– O mercado privado de carbono já modifica hábitos e práticas de fazendeiros nos Estados Unidos;
– Eles chegam a receber até US$ 100 por hectare em créditos de carbono;
– Startups movimentam milhões de dólares com ambientes para comercialização desses créditos;
– Marketplaces permitem a utilização do carbono para pagamento de insumos, máquinas e até mesmo na compra de terras;
– Grandes empresas como Bayer e Corteva, atentas a esse movimento, já desenvolvem projetos e ferramentas de gestão de créditos de carbono, visando a fidelizar seus clientes e, claro, conquistar uma fatia desse mercado bilionário.
O Brasil entra na corrida
Por aqui, créditos de descarbonização ainda são parte de um mercado restrito e extraregulado. Em 2020, esse mercado ganhou impulso com o início da comercialização dos CBios, dentro do Programa Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), beneficiando sobretudo o setor sucroenergético. As negociações são feitas na Bolsa de Valores (B3).
Mas o desenvolvimento de um mercado livre, privado e menos regulado para os créditos de carbono é questão de tempo e o Ministério do Meio Ambiente abriu espaço para que empresas apresentem propostas nesse sentido, criando um banco de projetos para incentivar o pagamento por serviços ambientais prestados pelos produtores rurais.
O projeto Floresta+ Carbono “prevê a geração de créditos de carbono por meio da conservação e recuperação da vegetação nativa”, seja pelo sequestro do carbono já emitido ou do que for mantido no solo, por parte de comunidades tradicionais, populações indígenas, proprietários rurais e indústrias regionais.
2021 – A primeira safra
Alguns desses projetos já começam a ser testados em campo. Um dos pioneiros reúne Embrapa e Bayer em um piloto com cerca de 500 produtores brasileiros, visando a validar a ferramenta de mensuração desenvolvida pela multinacional.
Os primeiros resultados serão colhidos este ano e devem permitir que os recursos obtidos em créditos de carbono pelos agricultores sejam usados para a aquisição de insumos no Orbia, marketplace da empresa.
O diretor de sustentabilidade da Bayer, Eduardo Bastos, falou sobre a Iniciativa Carbono Bayer na live da série Vozes Responsáveis. Leia o texto ou veja o vídeo.
Quanto $$ está em jogo?
Em 2019, o pagamento por serviços ambientais movimentou US$ 50 bilhões em projetos que envolvem alguma forma de controle e aquisição compulsória de créditos reguladas por governos.
O mercado livre e desregulado dobrou de tamanho entre 2017 e 2018, mas ainda é bem pequeno se comparado ao controlado pelos governos. Foram apenas US$ 300 milhões no ano de 2018.
Dinheiro que dá em árvores
As perspectivas são muito boas, mas ainda deve levar algum tempo para que o mercado de créditos de carbono ganhe a escala necessária.
Antes dele, outros instrumentos financeiros atrelados à performance socioambiental das propriedades rurais já começam a trazer benefícios aos produtores responsáveis. Vivemos a década das Finanças Verdes no agronegócio?
Uma estimativa da Climate Bonds Initiative (CBI), ONG britânica que sistematiza as normas de práticas sustentáveis em diversos setores da economia, aponta que projetos de agricultura sustentável no Brasil podem receber até R$ 700 bilhões (para assinantes do Estadão) por meio da emissão de títulos verdes (green bonds) até 2030. Iniciativa da Produzindo Certo é destacada na reportagem.
Exemplo recente da disponibilidade de recursos em condições favoráveis para os títulos verdes: a Klabin levantou US$ 500 milhões em uma emissão de sustainability-linked bonds, obtendo taxas históricas. Os recursos são de uso livre, mas a empresa assumiu três metas: reduzir o consumo de água por tonelada de produto, reduzir o nível de resíduos sólidos de suas operações e reintroduzir duas espécies animais extintas no bioma onde estão localizadas as florestas da companhia.