A população cresce mais onde se planta, se cria animais, se produz alimentos, fibras e bioenergia. A locomotiva econômica, assim, puxa também os vagões demográficos
Quem circula pelas principais regiões de produção agropecuária do Brasil percebe, no visual, a transformação da última década. O desenvolvimento está nas ruas, nas praças, nas cidades.
As estatísticas, quando chegam, traduzem em números o que antes era sentimento: o Brasil do Agro é o país das oportunidades duradouras, do crescimento sustentável, do equilíbrio socioeconômico.
Quem vive nos grandes centros urbanos nem sempre encontra esse Brasil. E às vezes se espanta, como aconteceu semanas atrás na divulgação, pelo IBGE, dos primeiros dados levantados pelo Censo 2022.
O primeiro destaque, valorizado pela mídia tradicional, foi a redução do ritmo de crescimento da população brasileira. A taxa média anual ficou em apenas 0,52%, menor índice desde que o primeiro censo nacional foi realizado, em 1872.
Somos 206 milhões – e não os mais de 210 milhões que se estimava – por conta de menores taxas de natalidade e, infelizmente, maiores índices de mortalidade (violência e até pandemia pesam aqui).
E estamos mais velhos e podemos ver a população até diminuir na próxima década. A proporção de brasileiros acima dos 60 anos é a maior da história, enquanto as faixas mais jovens encolheram. Soam alertas, relevantes, sobre os riscos desse fenômeno para a oferta futura de mão de obra e seus impactos nas contas da Previdência Pública.
O que poucos enxergaram, logo de início, nos números do Censo é que estamos mais interiorizados. Os fluxos migratórios internos, que até décadas atrás abarrotavam as periferias das capitais e metrópoles, se inverteu.
A população cresce mais onde se planta, se cria animais, se produz alimentos, fibras e bioenergia. A locomotiva econômica, assim, puxa também os vagões demográficos em estados como Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, Tocantins, além de regiões de Maranhão, Bahia e Piauí.
Ao jogar a lupa sobre estados e municípios, esse fenômeno fica explícito. Mato Grosso, por exemplo, teve um crescimento três vezes maior que a média nacional. Isso se reflete em cidades como Sorriso, com acréscimo populacional de 66,73% de 2010 para 2022. Querência, com 105%, saltou de 13 mil moradores, para mais de 26 mil. Oitavo maior produtor de soja do país, o município viu “cerca de 3,4 mil novos empreendimentos se instalarem no local ao longo desse intervalo entre as pesquisas”, segundo informou o site AgFeed.
Dinheiro chama dinheiro, que chama gente em busca de prosperidade e melhores condições de vida. O Censo comprova como a atividade agropecuária, antes vista como insuficiente para garantir a permanência da população no campo, tornou-se chamariz. Os dados demográficos se alinham com os do PIB.
“Em 16 anos, o PIB do Mato Grosso cresceu 121,3%, segundo a MB Associados. Como comparação, a evolução do paulista foi de 41,5%”, afirma trecho de reportagem que faz parte de uma série produzida esta semana pela Folha de S. Paulo.
Os jornalistas do veículo visitaram vários municípios do estado e concluíram que eles “se tornaram polos de atração de investimentos para além do agronegócio, com expansão imobiliária acelerada e criação de empregos para migrantes de outros estados. O setor de serviços também tem boa qualidade e diversidade nessas cidades”.
Superintendente do IBGE em Mato Grosso, Millane da Silva, afirma ao AgFeed: “Nesses 10 anos muita coisa se modificou, com a agricultura tecnificada se especializando cada vez mais. A população da região cresceu 20,5% enquanto o número de domicílios subiu quase 50%. Houve construção civil, atividade imobiliária, e tudo isso atrai a população”.
A riqueza gerada no campo, assim, se multiplica por outras atividades nas cidades do interior brasileiro. E é distribuída de forma mais homogênea, de acordo com levantamento da a FGV Social, também destacado na série da Folha. O estudo mostra que a renda média per capita do trabalho no Centro-Oeste é a maior do país. A região é a segunda menos desigual pelo índice de Gini, com pontuação de 0,57 – pela metodologia, que estabelece uma variação de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo de 0, melhor. O Sudeste, região mais rica, tem escore 0,59.
“Os indicadores do Centro-Oeste e de estados do Norte, como Rondônia e Tocantins, que fazem parte do mesmo processo, têm surpreendido”, disse Marcelo Neri, diretor da FGV Social, ao jornal.
Quem circula por lá não fica tão surpreso. A conta da sustentabilidade do agro, tão cobrada na área ambiental, também está se refletindo no aspecto social. O campo, assim, mostra mais uma vez, que pode e deve ser exemplo para o Brasil.