A produção responsável pode ser um instrumento para aproximar o setor das novas gerações
Que imagem o brasileiro tem do agronegócio? A pergunta tem sido feita constantemente, mas talvez nem sempre o setor tenha se aprofundado no entendimento das respostas.
Temos, agora, uma nova oportunidade. Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Movimento Todos a Uma Só Voz – que reúne quase 50 associações, entidades e empresas ligadas direta ou indiretamente ao setor – trouxe mais elementos para essa reflexão.
Vamos, primeiro, aos dados da pesquisa “Percepções sobre o Agro – O que Pensa o Brasileiro”. A amostra é ampla, com mais de 4 mil pessoas entrevistadas em todo o País. E o perfil dos pesquisados também é abrangente, com diferentes espectros de idade, escolaridade, localização, o que, a princípio, permite visualizar diferentes cenários e orientar decisões.
Os primeiros resultados anunciados já revelam a “produtividade” do trabalho realizado. A conclusão geral – comemorada por grande parte dos envolvidos com o Movimento – foi a de que o agro está entre os setores mais admirados pelos brasileiros.
Com 68% de respostas positivas, ficou atrás apenas dos setores de alimentos de alimentos e bebidas (71%) e tecnologia (70%). E está na frente de áreas como saúde (67%), saneamento (66%) e energia (64%).
Para muitos, foi um dado surpreendente. “Entrei nesse projeto achando que iríamos nos deparar com o caos e olha que boa notícia”, afirmou um dos organizadores do estudo, Ricardo Nicodemos, vice-presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural (ABMRA), segundo citação do site da Forbes.
Essa percepção positiva, no entanto, parece consolidada e pode estar, eventualmente, em risco. Como não há uma série histórica seguindo a mesma metodologia, a comparação com outros levantamentos feitos em anos anteriores fica comprometida.
O mesmo cenário de aprovação, porém, já havia sido captado – com números até mais expressivos – em pesquisas realizadas por outros institutos. Há cinco anos, por exemplo, a revista Plant Project, em parceria com a JH/B2F e a Bridge Research, realizou a pesquisa “A Percepção do Campo na Cidade”, que buscou identificar de que forma o meio urbano entende, avaliava e se sentia conectado ao Agronegócio. A resposta “orgulho” foi apontada por 96% dos entrevistados quando questionados sobre qual seria o seu sentimento no caso de o Brasil assumir internacionalmente sua vocação de País do Agronegócio.
O grupo do contra
Há outros cortes interessantes vislumbrados no trabalho atual. A pesquisa procurou entender o “envolvimento” dos brasileiros com o agro. Nesse quesito, há pontos que merecem atenção por indicarem focos de rejeição. Enquanto 43% dos entrevistados afirmaram possuir grande envolvimento e outros 24%, médio conhecimento e médio envolvimento com o agro, um terço deles se declararam arredios ao setor.
Um dos coordenadores do estudo, o consultor e professor da ESPM Paulo Rovai, consultor e um dos coordenadores da pesquisa, destacou a necessidade de se dar um olhar mais cuidadoso com este último grupo, que, segundo ele, representa um grande desafio pelas opiniões desfavoráveis com relação à agropecuária.
Nesse caso, a questão etária surge como um agravante. Na sua maioria, os arredios ao agro são jovens entre 15 e 29 anos, mais distantes geograficamente e socialmente do agronegócio, e que se dizem dispostos até a boicotar o setor.
“Essa é uma parcela muito relevante e serve como um super sinal de alerta. Quando olhamos esse grupo, estamos falando do consumidor futuro”, disse Rovai na Forbes. Pode-se dizer que seja um consumidor já do presente e que se tornará cada vez mais influente. É também o profissional do futuro, que será cada vez mais necessário ao agro. E, por que não, um potencial produtor do futuro.
Um caminho responsável
Consenso entre os apoiadores do estudo é a necessidade de atuar de forma ativa para reverter opiniões no grupo dos contrários. O uso de mais informações e de campanhas educativas foi apontado como o caminho a ser seguido e o Movimento deve atuar nesse sentido.
Há outro caminho importante e complementar a esse. Construir uma boa imagem do agro junto a novas gerações passa por oferecer aos jovens – que demonstram ainda mais preocupações ambientais e contarão, cada vez mais, com instrumentos tecnológicos para monitorar o desempenho do setor nessa área – a possibilidade de acompanhar, com transparência, o que acontece no campo.
Por isso, tão relevante quanto pinçar boas histórias a contar para fora do agro é transformar essas histórias em commodities. Ou seja, atuar de forma a buscar a universalização da produção responsável, levando conhecimento e campanha educativas para quem vive o agronegócio.
Nesse sentido, entidades e associações que reúnem produtores podem ter papel fundamental. É importante que elas apoiem bandeiras que aproximem o agro da sociedade, como o incentivo à produção responsável e à punição de ilegalidades no campo, a valorização das ações de fiscalização e o apoio à legislação ambiental em vigor, considerada exemplar.
A produção responsável já é uma realidade em grandes áreas brasileiras, mas o médio e o pequeno produtores ainda carecem de estímulo financeiros para fazerem a transição de práticas convencionais para outras mais modernas, e ambientalmente eficientes. O produtor do futuro precisará da valorização do consumidor do futuro. Mas ela começa ainda nas cadeias do agronegócio, com a percepção de que o bom trabalho precisa ser reconhecido.