O que são as Climate Techs e por que o agro brasileiro deve tirar proveito do apetite dos investidores por essas empresas
Enquanto os líderes globais se reuniam, virtualmente, em busca de compromissos que levem a ações mais concretas para mitigar os riscos das mudanças climáticas, um estudo divulgado há dez dias pela consultoria PWC aponta sinais positivos vindos do fervilhante universo da inovação empresarial. Trata-se do primeiro levantamento a respeito dos investimentos feitos em startups e jovens empresas voltadas ao desenvolvimento de soluções tecnológicas que tragam impacto positivo em questões relacionadas a esse problema.
O primeiro achado do trabalho está no título: “The State of Climate Techs 2020” (O Estado das Climate Techs em 2020, em tradução livre). Nele, a PWC cria uma embalagem única para reunir um amplo espectro de negócios que podem atuar de forma benéfica para a criação de uma economia de baixo carbono em diferentes setores. Assim, a primeira parte do estudo é dedicado a explicar o que são as Climate Techs e como a consultoria chegou a essa classificação.
Criar rótulos e reunir empresas em categorias é uma fórmula que o mercado (sobretudo o financeiro) costuma usar para tornar mas fácil a compreensão de potenciais clientes e investidores sobre o que essas empresas fazem e por que destinar recursos a elas. A embalagem falando de clima é mais do que oportuna, como aponta o subtítulo do levantamento: “A nova fronteira para o capital de risco”.
Novas fronteiras são algo que o agronegócio brasileiro conhece bem. É para elas que os empreendedores mais ousados do setor seguem em busca de novas oportunidades, sabendo que enfrentarão grandes riscos, mas que, em contrapartida, os ganhos futuros podem ser recompensadores. As novas fronteiras das Climate Techs estão em muitos lugares e englobam atividades muto diferentes. Vão dos carros elétricos a energias limpas, da construção civil à indústria pesada. E, é claro, a produção de alimentos, no campo e nas indústrias.
Uma vez definido o rótulo, a PWC seguiu o dinheiro destinado às Climate Techs. E descobriu que elas têm mesmo cativado os investidores. Entre 2013 e 2019, período estudado pela consultoria, essas jovens empresas receberam mais de US$ 60 bilhões em investimentos. É um número impressionante, mas pode ser apenas a ponta de um iceberg. Afinal, segundo o estudo, os recursos disponíveis para elas aumentam numa taxa de 84% ao ano.
Quando dezenas de líderes globais se reúnem e prometem antecipar suas metas de descarbonização, por exemplo, isso indica que vem muito mais dinheiro para quem ajudar a cumprir esses compromissos.
A urgência pode impulsionar negócios positivos e soluções de impacto. Da mesma forma como não se pode falar de clima sem falar do agro, fica claro que, se há recursos para boas ideias em favor do clima é preciso falar de mais investimentos em soluções tecnológicas que ajudem a semear um agronegócio ainda mais responsável.
O estudo da PWC reforça essa ideia. Um capítulo inteiro do estudo é destinado justamente ao setor de Agricultura, Alimentos e Uso da Terra, conforme a empresa usou na sua divisão das Climate Techs por categorias. O segmento foi um dos destaques da publicação, seja no total de dólares recebidos (US$ 8,1 bilhões, ou seja, 13,1% do total), seja no crescimento dos aportes (cerca de 75% ao ano). Entre as sete categorias avaliadas, ficou em segundo lugar em ambos os quesitos, atrás apenas de Mobilidade e Transporte.
É verdade, porém, que grande parte dos recursos catalogados nessa categoria ficaram concentrados na produção de alimentos alternativos, como as proteínas à base de plantas, e no desenvolvimento de sistemas de agricultura de precisão, que, juntos, ficaram com cerca de dois terços dos investimentos.
Mas é sempre importante olhar o copo cheio. A produção responsável de alimentos, no campo ou no laboratório, está na mira do grande capital. Precisamos dar mais visibilidade a quem desenvolve as ferramentas tecnológicas voltadas a reduzir o impacto socioambiental da produção agropecuária. Devemos reforçar os exemplos positivos que já possuímos e dar mais voz a quem pratica o verdadeiro modelo agroambiental.
A tecnologia tem sido aliada fundamental de agricultores e pecuaristas responsáveis – e a nova Plataforma Produzindo Certo, que incorporou ferramentas digitais nos diagnósticos socioambientais das propriedades rurais, trazendo mais agilidade e transparência aos processos, é apenas um exemplo disso. O Brasil é fértil em agtechs e instituições de pesquisa de ponta, como a Embrapa, por exemplo, que ampliaram o espectro de possibilidades para o uso da terra em equilíbrio com a preservação ambiental. Nossa tecnologia de biocombustíveis é um modelo que o mundo precisa conhecer melhor.
Somos milhares de Climate Techs, embora não utilizemos devidamente esse rótulo. Precisamos mostrar que ele nos cabe bem e entender como aproveitar o enorme interesse dos investidores pelo agro responsável e como acessar esses recursos. Estamos no centro do debate do clima e não podemos nos esconder dele. Ao contrário, devemos enxergar as oportunidades de estar nessa posição. Somos grandes na questão ambiental, grandes no agro, grandes em conhecimento.