A cúpula do clima, na próxima semana, é uma oportunidade para se falar das conquistas do agronegócio responsável no Brasil
A pauta ambiental não é exatamente uma novidade nos fóruns diplomáticos. Desde a conferência Rio 92, há quase três décadas, uma série de rodadas, sempre com encontros cercados de pompas e expectativas, as nações têm sentado à mesa em busca de avanços – e, muito mais difícil, de consensos – em torno de ações que ajudem a equacionar a difícil convivência harmoniosa entre atividades econômicas e preservação de recursos naturais. É inegável que houve conquistas, como a assinatura do Acordo de Paris, assim como é imperativo admitir que ainda há muito por discutir e fazer.
Assim, cada vez que a diplomacia ambiental se move, como acontecerá na próxima semana na reunião de cúpula sobre o clima, que reunirá (virtualmente) mais de 40 chefes de estado, é natural que se espere alguma repercussão relevante – positiva, de preferência. Sobretudo para nós, brasileiros. Quem tem a Amazônia, o Pantanal, o Cerrado e tantos outros biomas com tamanha relevância para a biodiversidade e para a vida na Terra, não pode ficar jamais à margem da discussão. Mais que isso, não pode pretender estar fora do foco do debate. A cúpula, não nos enganemos, é para falar do Brasil.
Falando de Brasil e de meio ambiente, fala-se de agronegócio. E isso não precisa, necessariamente, ser ruim. A diplomacia, como arte das relações multilaterais, oferece oportunidades para o diálogo e, através dele, para se expor nossos pontos fortes e admitir nossas fraquezas. Uma semana antes do encontro de líderes, o Brasil se mostrou disposto a defender um ambiente mais favorável à conversa propositiva. Em uma carta ao anfitrião, o presidente americano Joe Biden, o brasileiro Jair Bolsonaro acenou com uma agenda mais alinhada aos anseios externos, prometendo acabar com o desmatamento ilegal até 2030 e em promover políticas que permitam ao país antecipar em 10 anos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática com emissões de carbono.
São temas caros ao agronegócio responsável. O grande contingente de agropecuaristas e empresas do setor comprometidos com a adoção de práticas sustentáveis verificadas na produção de alimentos, fibras e energia tem feito esforços no sentido de se adequar às exigências socioambientais legais e dos mercados consumidores. Seu trabalho é material positivo à disposição do governo e da diplomacia brasileira. São a nossa pauta positiva, um exemplo da potência agroambiental para o mundo. Uma amostra relevante do que é possível fazer.
O AGRO DÁ O TOM
A carta do Palácio do Planalto à Casa Branca foi escrita com contribuições de várias frentes, inclusive do agro. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, participou da discussão e certamente referendou esse novo tom conciliador, fundamental para que se tenha espaço para apresentar iniciativas que comprovam resultados da convivência entre produção agrícolas e conservação. A ciência e a prática no campo são pródigos em estudos e exemplos que demonstram a eficiência produtiva e o impacto ambiental positivo de técnicas como a Integração Lavoura Pecuária (ILP).
O mais recente trabalho nesse sentido, recém-publicado pela Embrapa Agrossilvipastorial, comparou os resultados de três modelos produtivos nos biomas Amazônia e Cerrado: a sucessão agrícola soja-milho, a ILP e a pecuária extensiva. Usando uma metodologia que combina indicadores econômicos e ambientais, demonstrou que a agricultura é mais lucrativa, mas que os sistemas ILP são mais sustentáveis – geram lucro e garantem um maior sequestro de carbono da atmosfera (para conhecer mais detalhes do estudo, clique aqui).
AS EMPRESAS TRAZEM OS NÚMEROS
O documento do governo brasileiro está sintonizado com outra carta, esta assinada por cerca de 30 presidentes de grandes empresas do País, enviada ao Planalto dias antes. Coordenados pelo Conselho empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), eles pedem ao governo justamente a antecipação da meta de neutralidade na emissão de poluentes e demonstram como essa ação pode ser favorável a outro ambiente: o de negócios. Com o título “Neutralidade Climática: Uma grande oportunidade”, eles apontam que a implantação de práticas de baixo carbono poderia gerar uma elevação de R$ 2,8 trilhões no PIB brasileiro até 2030. Para o agro, um ganho adicional de R$ 19 bilhões em produtividade no mesmo período.
“Temos um agronegócio que pode ser um impulsionador da economia no curto e no longo prazos, fazendo com que os outros setores também cresçam”, afirmou Marcello Britto, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), um dos signatários do documento, juntamente com CEOs de empresas como Bayer, BRF, DSM, JBS, Marfrig e Suzano, com fortes laços com a produção agropecuária. Com o clima melhor para a conversa, se conversa melhor sobre o clima.