A oportunidade da sustentabilidade - Produzindo Certo
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A oportunidade da sustentabilidade

No noticiário, o tema é cada vez mais frequente. Grandes empresas e investidores têm anunciado, com direito a esforços de divulgação, a adoção de sustentabilidade para reduzir drasticamente – em alguns casos zerar – os impactos de suas operações em relação a determinados critérios socioambientais. Mudam as estratégias, os objetivos e os prazos para que eles sejam atingidos, mas uma safra de boas notícias nesse sentido tem permitido vislumbrar uma verdadeira transformação em todos os elos das cadeias produtivas em que eles estão inseridos. Na terça-feira, 23, por exemplo, a JBS, maior produtora de proteína animal do mundo, anunciou que pretende neutralizar todas as suas emissões de gases de efeito estufa até 2040. Um desafio tão ambicioso quando o gigantismo da companhia.

Coincidentemente, a mesma terça-feira marcou o início da segunda edição da série VOZES RESPONSÁVEIS AO VIVO, promovida pela Produzindo Certo para debater os temas mais relevantes para o agronegócio sustentável. E, em sintonia com o que acontece no mercado, o tema escolhido para essa temporada foi justamente “As Corporações e o Agro Responsável”. A proposta era (e continua sendo, já que a série continua na próxima semana) mostrar como as intenções dessas grandes empresas se refletem em ações e geram transformações junto aos produtores que estão na ponta inicial das cadeias de fornecimento. E fazer a conversa chegar até o consumidor, na outra extremidade.

A própria JBS esteve representada na primeira semana de conversas, assim como outras corporações como Unilever, McDonald’s, ADM, Philip Morris e Mars. O primeiro encontro, com o tema “A Importância de Construir Cadeias de Fornecimento Responsáveis”, girou em torno da produção agrícola e da responsabilidade compartilhada das empresas na extensa cadeia de produção de alimentos. Entre os convidados, um mix de experiências e de relações, desde quem tem relação direta com o consumidor final, uma das principais traders globais de grãos, que faz a ponte entre o campo e a indústria, e uma companhia que atua diretamente com pequenos agricultores. O encontro foi moderado por Tiago Fischer, especialista em estratégia corporativa em agronegócio e sócio-diretor da Stracta Consultoria.

Assista à integra das lives da série VOZES RESPONSÁVEIS AO VIVO no canal da Produzindo Certo no YouTube[MS1] .

“Um dos maiores desafios das empresas não está apenas no contato com o produtor rural, mas efetivamente desenvolver uma agenda de transformação para um protocolo de produção mais sustentável”, resumiu Fischer. A Philip Morris Brasil encarou esse desafio em larga escala com o programa Responsible Leaf, desenvolvido com apoio da Produzindo Certo para levar melhores práticas a 5 mil agricultores familiares. “Decidimos que seria importante dar condição para que esses produtores também possam trabalhar de forma responsável. Trazer uma solução de sustentabilidade que seja adequada à realidade deles. Um conhecimento que eles não tinham antes. Eles entendem que não é uma questão utópica, que é muito pertinente no dia a dia”, afirmou o head de sustentabilidade da Phillip Morris Brasil, Roberto Schloesser.

A gerente de Suprimentos da Unilever, Marcella Giudice, contou que mesmo para a companhia, que não tem uma relação comercial direta com o campo, o acompanhamento da cadeia assegura não apenas as práticas responsáveis, como ajuda a demonstrar para o produtor rural a relevância do seu esforço e da conexão com o consumidor, que está cada vez mais interessado com a origem dos produtos que escolhe na gôndola do supermercado. “Quando a gente consegue entender quais são os desafios que os produtores estão passando e as dificuldades para estabelecer uma cadeia sustentável para a soja, a gente consegue oferecer o suporte que eles precisam”, disse.

Os participantes foram unânimes em mencionar a comunicação entre campo e cidade como um desafio estratégico, reforçando que grande parte do agro brasileiro é inovador e segue práticas agrícolas modernas, mas precisa demonstrar isso de forma mais clara. E que a relação dos produtores com as empresas pode ser um fio condutor para essa mudança de percepção. Também reconheceram que há pontos de melhoria e a necessidade de ampliar as ações, engajando o produtor que ainda não está convencido dos benefícios de adotar práticas responsáveis na produção.

“Quem entendeu, assimilou, não volta atrás. (Ele) começa a perceber os ganhos de produtividade na fazenda, começa a ter outra mentalidade. O produtor latino-americano, especialmente o brasileiro, é inovador. Ele vai copiar o que o vizinho faz se tiver bem-feito, vai se aprimorar”, analisou Diego Di Martino, gerente de Sustentabilidade para a América Latina da ADM.

PECUÁRIA NO FOCO

A segunda live da temporada, na quarta-feira 24, teve o comando de Fernando Sampaio, diretor executivo do Instituto PCI e foi dedicada à pecuária sustentável. Com o título “Em busca do boi sustentável”, o encontro debateu os desafios e o potencial do setor para transformar sua imagem e se tornar parceiro estratégico no combate aos efeitos das mudanças do clima.

Fábio Dias, diretor de Relações com o Pecuarista na JBS, falou empolgado da ideia. “Quem está retirando o máximo de produtividade da sua fazenda está emitindo muito pouco ou nada de carbono. Temos condições demonstrar que a pecuária tropical não depende de desmatamento para entregar o seu produto”, afirmou, chamando a atenção para o potencial dos sistemas produtivos no sequestro de carbono, armazenando biomassa no solo e gerando uma carne neutra em emissões de gases de efeito estufa. “O carbono pode ser uma moeda para se medir sustentabilidade. Empresas estão colocando o carbono em seus modelos de negócios”, reforçou Sampaio.

No futuro muito próximo, o produtor poderá obter compensação financeira por esse serviço socioambiental. Mas antes mesmo disso, quem já trabalha dessa forma fala com orgulho do seu desempenho. O produtor rural Alcindo Jorge Schinoca apresentou as ações da empresa agropecuária que carrega seu sobrenome, como a produção da energia solar, a alta produtividade do gado criado no modelo de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) e o orgulho que sente ao se denominar um produtor de carne e grãos e também de floresta e água, com as atividades de conservação e proteção em sua fazenda. “Isso tudo é trabalho. Minha maior alegria é meus netos perceberem o que a gente está fazendo para as gerações futuras. E estamos tendo uma remuneração, merecíamos mais, mas já temos um ‘tiquinho’ a mais pelo gado”, brincou ele, que tem propriedades em Jaciara (MT).

Conectar histórias com a de Alcinco Schinoca com o consumidor é muito importante, afirma Sheila Guebara, diretora de Assuntos Corporativos da Mars Petcare. “Somos interdependentes. A base da nossa alimentação vem das commodities. Existe interesse de saber de onde está vindo. A gente sabe os caminhos, as ferramentas, precisamos trabalhar juntos. Acredito muito nessa conexão”.

Resgatando a história da criação da rede McDonald’s, Leonardo Lima, diretor corporativo de Desenvolvimento Sustentável da Arcos Dorados, empresa responsável pela franquia da marca na América Latina, também destacou o trabalho integrado entre a empresa e o campo. “Temos um trabalho grande lado a lado com os nossos fornecedores. Sem eles, a gente não tem negócio.  Nos transformamos em uma grande montadora e representante do agro onde operamos, não temos negócio sem ter o agro conosco”.

No caso da pecuária, o principal desafio é ampliar a produtividade, garantindo a recuperação de pastagens e intensificação da produção em vez da expansão para novas áreas. “Sustentabilidade, para mim, sempre foi igual a eficiência. Em todos os aspectos. Usar melhor todos os recursos que a gente tem”, acrescenta Sheila.

De formas diferentes, o encontro demonstrou que o diálogo e a articulação entre produtores rurais e as empresas é estratégico para os avanços do agro responsável e moderno, que assegura a produção de alimentos do mundo em equilibro com os recursos naturais dos quais depende e com respeito aos trabalhadores e as comunidades de quem é próxima. Os convidados dos dois primeiros dias de debates concordam: sem a ação no campo, as empresas não conseguem cumprir suas metas de sustentabilidade, incluindo redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) ou a certificação de que sua matéria-prima é isenta de desmatamento ilegal.

A Produzindo Centro faz essa ponte entre esses dois importantes atores da cadeia e pretende continuar promovendo essa conexão. A série VOZES RESPONSÁVEIS AO VIVO, que continua na próxima semana com mais dois painéis – “A Era das Finanças Verdes”, na terça 30, e “O Agro Responsável e o Consumo Consciente”, na quarta 31, sempre às 19h00 – é parte desse esforço. Que muitas outras vozes sejam ouvidas e transformadas em ação.

Assista na íntegra os encontros do Vozes Responsáveis

A importância de construir cadeias de fornecimento responsáveis

Em busca do boi sustentável

Não perca a segunda semana de debates, confira a programação.