“O agronegócio brasileiro alimenta 800 milhões de pessoas”. O título de um estudo recém-lançado pelos pesquisadores Elisio Contini e Adalberto Aragão, da Embrapa, é autoexplicativo e indica a contribuição que nossos agricultores, pecuaristas e agroindústria oferecem ao mundo. Segundo eles, somente na última década foram acrescidos cerca de 250 milhões de consumidores para nossos produtos agropecuários. E a previsão é de que, mantido o ritmo de crescimento das exportações nacionais, supere 1 bilhão de pessoas alimentadas em 2030.
Eles utilizaram métodos científicos para validar o discurso de autoridades e de muita gente do setor de que, sem o Brasil, uma expressiva parcela da população mundial sofreria impactos da falta de alimentos. Assim, agora pode-se dizer, sem medo de estar exagerando, que aqui se produz para nós e para mais três países como o nosso, o que está longe de ser pouca coisa.
Seriam 800 milhões de vozes, em dezenas de idiomas, para propagar a eficiência e a qualidade da produção brasileira. Mas para que elas possam fazer isso, é preciso que saibam a origem do que consomem e de que forma toda essa riqueza em forma de alimentos é produzida por aqui. Juntamente com grãos, fibras e carnes, deveríamos exportar informação. E estar abertos a debater com o mundo o que fazemos certo e o que precisa melhorar.
Milhões de nossos consumidores – e possíveis vozes a nosso favor –, por exemplo, estão na União Europeia, que no ano passado anunciou a Farm to Fork Strategy, uma política de sustentabilidade para o setor agrícola. Preocupada em tornar a UE, com seus mais de 450 milhões de habitantes, o primeiro continente neutro em emissões até 2050, a Comissão Europeia lançou diretrizes para os produtores e as indústrias locais, que deve trazer consequências também para fornecedores de outros continentes, América do Sul à frente. O assunto é tão relevante que entidades europeias como a alemã Clear Energy Wire – que tem como foco distribuir a jornalistas subsídios sobre temas ligados à sustentabilidade – promoverá um debate sobre o impacto das medidas junto aos parceiros comerciais do bloco. Falarão muito, com certeza, do Brasil. Teremos voz nessa conversa?
VOZES RESPONSÁVEIS
No ano passado, nós, da Produzindo Certo, mudamos de nome (nos apresentávamos como Aliança da Terra), criamos uma nova marca e soltamos ainda mais a nossa voz. Por conhecer a fundo o agronegócio brasileiro, depois de ter visitado milhares de propriedades rurais e compartilhado os desafios com os produtores, entendemos que tão importante do que fazer direito é mostrar que tem muita gente fazendo a coisa certa, assim como ainda há muito a ser feito.
“Existe sim uma agenda de convergência possível. (…) É muito mais fácil do que muita gente imagina, na verdade. Existe um discurso inflamado por vezes pela falta de informação, pela ignorância de dados literalmente. Os exemplos estão aí. Existem muito mais empreendedores, muito mais comunidades engajadas numa agenda proativa positiva do que aqueles que buscam o conflito.”
Márcio Sztutman, diretor do fundo britânico P4F, na primeira edição da série Vozes Responsáveis
Abrir espaço para que essa gente compartilhe suas experiências e aprendizados e se conecte com a sociedade entrou na nossa pauta, da mesma forma como nos propomos a aproximar produtores e empresas comprometidos com a correta gestão dos recursos naturais e o respeito à sociedade. Nossa primeira ação, nesse sentido, foi desenvolver, em parceria com a AgTalk, a série VOZES RESPONSÁVEIS AO VIVO, com eventos digitais formatados para abrir espaço à difusão das histórias reais e possíveis do agronegócio sustentável. Cases de transformação, de conservação, de convivência harmoniosa entre agricultura, pecuária, ambiente e pessoas. Sem isso, acabaremos falamos sozinhos, mesmo chegando a 800 milhões de pessoas.
“A gente percebeu que não precisava nem ser grande nem ser ONG para fazer o bem. A gente podia usar o nosso negócio como veículo para instituir, para implantar boas ações. E não precisava também ser ações grandiosas. Muitas vezes a gente acha que só é importante se for grande, se for muito divulgado, se for muito caro, se não não é relevante, não é importante”.
Dulce Ciochetta, sócia do Grupo Morena, na primeira edição da série Vozes Responsáveis
Acreditamos na força do exemplo, na relevância da ação para a melhoria contínua, dentro da realidade de cada cidadão, produtor ou empresa. Na primeira edição das VOZES, trouxemos quatro convidados que nos permitiam compartilhar, com suas falas inspiradoras, lições e insights.
“Por enquanto, o dinheiro verde é só mais barato. No futuro esse vai ser o único dinheiro”.
Eduardo Bastos, diretor de Sustentabilidade da Bayer, na primeira edição da série Vozes Responsáveis
A partir do próximo dia 23 de março, novas VOZES RESPONSÁVEIS se somarão a essa iniciativa. A segunda edição da série terá quatro lives, com temas diferentes, percorrendo diversos elos de diferentes cadeias produtivas. Com o tema central “As Corporações e o Agro Responsável”, abordaremos sobretudo as relações de grandes empresas com a produção sustentável e como elas abordam essa questão junto a fornecedores, mercado financeiro e, é claro, consumidores.
Confira aqui a programação e os canais de transmissão.
O VALOR DE PRODUZIR CERTO
As Finanças Verdes estão também em pauta. Foram tema na primeira edição da série e estarão na programação dessa segunda edição, com painel específico sobre o tema no dia 30/03. Será uma oportunidade para discutirmos o novo modelo de crédito agrícola desenvolvido pela Traive Finance, o Grupo Gaia e a Produzindo Certo e concretizado na semana passada com o lançamento do CRA Verde.Tech, primeira operação a fazer uma conexão direta entre um grupo de produtores rurais e o mercado de capitais no Brasil. Antes dela, apenas grandes empresas haviam realizado emissões de CRA verde.
“O CRA Verde.Tech oferece para emprestadores a possibilidade de investir com um risco-retorno bem calibrado aos seus interesses. O modelo de negócios e a tecnologia utilizada nesta operação abrem inúmeras possibilidades de replicarmos esta mesma estrutura com volumes ainda mais expressivos, beneficiando mais produtores e investidores conscientes”
A operação de R$ 63 milhões é vista como um marco na democratização do crédito e do seguro agrícolas, hoje concentrado em poucas instituições. Para isso, foi preciso apresentar aos investidores, cada vez mais ávidos por títulos relacionados a compromissos socioambientais. Falar o que muita gente faz e como a gente do agro responsável faz. Soltar a nossa voz.
“Você tem duas opções, investimento de impacto e investimento sem impacto. Eu imagino que todo mundo queira investimento com impacto. E não é doação, estou falando de investimento. É você colocar e receber o seu dinheiro de volta, mas causando um impacto positivo no mundo”.
João Paulo Pacífico, CEO ativista do Grupo Gaia, na primeira edição da série Vozes Responsáveis
OUTRAS VOZES
Este espaço se dedica também a dar voz e apresentar notícias sobre pessoas e empresas que estão atuando em favor da produção sustentável. Nesta edição, destacamos:
– Em meio a safra recorde, Bunge quer eliminar desmatamento no Cerrado.
– A fazenda urbana que leva segurança alimentar a uma comunidade carioca.
– Danone se torna a maior empresa B de alimentos do Brasil.
– Suzano aposta em startup finlandesa que faz tecido com fibras de árvores.
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