A Agrishow, que começa na próxima segunda-feira, 1º de maio, é a principal vitrine da indústria de máquinas agrícolas no Brasil. É lá que as grandes marcas do setor apresentam seus lançamentos e apontam as tendências para os próximos anos.
Potência, tecnologia embarcada, conforto, design. A profusão de modelos de tratores, colheitadeiras, implementos encanta até quem não é do setor e, por isso, esses atributos foram, durante anos, a tônica das conversas nos estandes de fabricantes ou sob o sol escaldante de Ribeirão Preto (SP).
Este ano tudo indica que o assunto começa a mudar. Antes mesmo de a feira começar, as primeiras informações sobre as novidades a serem apresentadas têm como foco o papel da indústria de máquinas para a produção responsável.
Dos tratores movidos a biometano aos robôs pulverizadores, os lançamentos ressaltam a preocupação do segmento em contribuir para a redução do impacto ambiental da atividade agropecuária.
Recentemente, em uma apresentação no Zero Summit, em São Paulo, Luís Felli, Head Global da Massey Ferguson, resumiu de forma bem clara como essa questão impacta hoje as decisões da indústria de máquinas.
“Temos um papel importante no desafio de contribuir para buscar a sustentabilidade em toda a cadeia de alimentos”, afirmou.
Segundo ele, as emissões das máquinas, oriundas da queima de combustíveis, representam 6% do total da atividade agropecuária, que por sua vez contribuem com 25% do total das emissões do planeta.
Ainda assim, entende, não é possível aos fabricantes fixar seus olhos apenas nesse quesito – que por si só já é difícil de equacionar.
O desenvolvimento de motores mais eficientes para as máquinas é o movimento mais imediato e óbvio do setor. Na AGCO, dona da marca Massey Ferguson, por exemplo, Felli afirma que os propulsores mais modernos permitem reduções de cerca de 30% nas emissões.
Da mesma forma, fabricantes já oferecem aos agricultores máquinas movidas a partir da queima de combustíveis alternativos, como biometano, produzido a partir de resíduos das próprias propriedades rurais, ou óleos vegetais.
Há, aqui, um ponto relevante a se considerar. A adoção pelos produtores rurais desses equipamentos deve ser lenta, por ainda não ser economicamente interessante para a maioria. Eles geram custos adicionais e não há incentivos para o esforço para descarbonização da operação agrícola.
Outra tendência avaliada pela indústria são os tratores elétricos. Também já há alguns modelos à venda, mas seu uso ainda é restrito em função da tecnologia atual para a produção de baterias.
Segundo Felli, motores elétricos são potencialmente eficientes para máquinas com potência de até 140 cavalos. Não existe, no entanto, tecnologia disponível para máquinas maiores e em atividades que demandam operação durante 24 horas, 7 dias por semana, como ocorre em operações de culturas como a da cana, por exemplo.
Por esse motivo, a atenção de alguns fabricantes tem se voltado para a incorporação de tecnologias que permitam a redução das emissões em outras áreas.
Incorporando mais sensores e inteligência às máquinas, elas poderão indicar ao produtor uma melhor gestão do uso de insumos e obter mais dados que o ajudem a comprovar o sequestro de carbono em suas propriedades, trazendo assim a possibilidade de ganhos financeiros com a venda de créditos – além do ganho de imagem para todo o setor.
“Precisamos ser melhores nisso do que as fotos de satélite”, afirmou Felli. “Medir melhor o que ocorre dentro das operações pode ajudar o produtor a reivindicar uma recompensa pelo seu esforço”.
Assim, a vitrine da Agrishow deve ter cada vez mais máquinas inteligentes, com capacidade de contribuir com a produção responsável. É uma corrida que está apenas no começo.