Negócios da China, para o Brasil, são grandes negócios. Os maiores da nossa pauta comercial – em 2022, o país asiático foi o destino de 27,2% das exportações brasileiras e foi o vendedor em 22,6% das nossas importações. Fechado o balanço, o Brasil ficou com um saldo positivo de cerca de US$ 30 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Não é de se espantar, portanto, o alvoroço provocado pela missão oficial brasileira que desembarcou na semana passada em Pequim. Mais de 200 representantes de empresas privadas reforçando o time de ministros e funcionários de altos escalões do governo.
Tudo bem justificado pela relevância de negociações que afetam setores cruciais da economia, agronegócio (como deve ser) à frente. E a iminência de alguns anúncios importantes, a serem feitos após o encontro dos presidentes das duas nações.
Ocorre que, combalido por um quadro de pneumonia, o presidente Lula adiou – ainda sem nova data – sua ida à China. Como a delegação já estava no Oriente, as conversas avançaram. Mas, pelo menos no discurso, faltou entrosamento no time brasileiro. E, na casa do nosso melhor cliente, teve vendedor falando o que não devia, e justamente sobre o agronegócio, principal tema da pauta comercial.
O apetite chinês por nossas commodities agropecuárias é tão grande quanto o país. Mas eles não compram de olhos e ouvidos fechados. Assim como outros clientes, eles querem saber o que estão comprando. Cabe a nós, vendedores, mostrar os atributos dos nossos produtos.
O Brasil vende soja, milho, algodão, carnes e muito mais. Quer vender, também, sustentabilidade. Ou seja, agregar valor às nossas commodities e driblar eventuais barreiras socioambientais mostrando a origem responsável de grande parte delas.
Não por acaso, nossa delegação ombreava os ministros da Agricultura, Carlos Fávaro, e do Meio Ambiente, Marina Silva, reforçando o discurso de Nação Agroambiental que precisamos fazer ecoar cada vez ao redor do mundo.
Quando alguém sai do tom, abre-se espaço para o barulho de uma minoria problemática abafar as vozes do agro responsável. Foi o que aconteceu na última segunda-feira, em Pequim. Jorge Viana, ex-governador do Acre e atual presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) usou parte de seu discurso a empresários chineses em um evento em Pequim para relacionar a produção agropecuária brasileira a problemas ambientais.
O desalinhamento fica explícito quando se percebe os esforços e os primeiros resultados em outras frentes. Poucos dias antes, a comitiva agro comemorava a reabertura do mercado chinês à carne bovina brasileira – as principais empresas do setor estavam bem representadas por lá.
E, na equipe do ministro Fávaro, falava-se com otimismo das conversas que visavam a trazer recursos chineses, em volumes consideráveis, para financiar a recuperação de áreas com terras degradadas, convertendo-as para a produção agrícola.
Percebe-se, assim, que estamos longe de vencer o grande desafio de nos posicionarmos diante do mundo. Isso não significa que temos que fechar os olhos para os nossos problemas. Devemos reconhecê-los e demonstrar protagonismo na busca e implementação de soluções.
Questões ambientais estão dispersas entre 28 dos 37 ministérios do atual governo, cada um com sua visão e pauta. Descoordenados, batem cabeças.
Falta um maestro capaz de entregar a todos a mesma partitura. E faça o Brasil Agroambiental soar como música aos ouvidos do mundo.