Como algumas grandes empresas estão associando suas marcas a iniciativas que utilizam matéria-prima de produção responsável
O agronegócio responsável é, em geral, pauta para boa notícia. A produção correta, dentro dos melhores padrões socioambientais, é o ponto de partida para a formação de cadeias produtivas mais justas e preocupadas com seu impacto no meio ambiente e na sociedade. Traders, indústrias de insumos, alimentos, vestuários e máquinas, e varejo disposto a valorizar os produtos com boa origem verificada completam um círculo virtuoso, que se fecha com o consumidor consciente tendo acesso a novas categorias de artigos feitos para atender à sua demanda.
Para o produtor rural, compreender como as relações comerciais são (e serão cada vez mais) impactadas pelo modo com que ele se relaciona com a terra e seus recursos é imperativo. Neste espaço, da série Notícias Responsáveis, um dos nossos focos é contribuir para essa compreensão trazendo uma curadoria de temas e reflexões realizadas a partir de uma curadoria do que é publicado sobre agronegócio responsável.
Nos últimos dias, por exemplo, uma série de boas notícias surgiu do campo corporativo, mostrando uma preocupação mais frequente de grandes grupos em associar suas marcas a iniciativas que utilizam matéria-prima proveniente de produção responsável.
– A Havaianas, famosa por suas sandálias de borracha, lançou um tênis que tem em sua composição casca de arroz e óleos vegetais, além de algodão. Notícia da Forbes.
– Também na Forbes encontramos a informação de que outra fabricante de calçados que costuma utilizar material de origem fóssil (plástico), a Grendene (dona da marca Melissa), lançou uma linha produzida a partir de EVA Biobased, um material renovável produzido a partir da cana-de-açúcar, com emissões de carbono 20% menores que no processo tradicional.
– Outra gigante brasileira, a fabricante de bebidas Ambev, anunciou investimento em uma startup, a growPack, com uma ideia original: produzir embalagens a partir de rejeitos agrícolas, como a palha de milho. O processo de fabricação é 100% mecânico (sem químicos e efluentes) e o resultado final é biodegradável, podendo ser descartado no lixo orgânico, em composteiras ou até mesmo reciclado na cadeia do papel, segundo noticiou o blog da AgTech Garage.
– Nos Estados Unidos, a Pepsico revelou objetivos de se tornar “hidropositiva” até 2030. Isso significa devolver ao ambiente mais água do que utiliza em seus processos produtivos. E não é pouca coisa: em 2020, foram mais de 28,1 bilhões de litros. Há uma série de ações envolvidas, inclusive a redução de 15% do uso de água em sua cadeia de fornecimento agrícola (principalmente de milho e batata). Os detalhes estão no site FoodDive.
– Com a pecuária na berlinda por conta das emissões do rebanho, buscar caminhos para reduzir esse impacto é crucial. Veio da holandesa DSM, uma das principais fabricantes mundiais de insumos para nutrição, uma solução promissora: a empresa acaba de pedir o registro, no Brasil, de um produto que, associado à ração, promete reduzir a emissão de metano dos bovinos, segundo informou a Bloomberg Linea.
– Cada vez mais pecuaristas americanos não escondem sua preocupação em apresentar a um mercado mais exigente a sua história e seus compromissos com a produção responsável. Com isso, um movimento para criação de marcas “éticas” de carne tem movimentado pequenos produtores, conforme relata o site Modern Farmer.
– Os pagamentos por serviços ambientais (PSA) são também uma tendência que ganha corpo no campo, com mais iniciativas se concretizando e beneficiando os produtores rurais comprometidos com as boas práticas socioambientais. Um grupo de 52 agricultores maranhenses inseridos no projeto PSA Soja Brasil receberam um total de US$ 40 mil como incentivo por não desmatarem áreas ainda passíveis de desmatamento nos 450 mil hectares que o projeto englobou.
O projeto é liderado pela Tropical Forest Alliance (TFA), plataforma do Fórum Econômico Mundial. A organização financia também outro projeto em Campos de Julio (MT), com o objetivo de ajudar o produtor rural a comprovar os serviços ambientais prestados pela atividade agrícola baseada nas melhores práticas. Para isso, um grupo que envolve empresas e organizações do Brasil e internacionais – entre elas a Produzindo Certo – está testando metodologias e tecnologias inéditas de precificação. Conheça clicando aqui.
– Além dos benefícios diretos aos produtores, projetos como esse trazem ganhos para a imagem do agronegócio brasileiro como um todo. Nossos clientes internacionais olham com certa apreensão para o noticiário, que tem destacado desafios ambientais e climáticos em escala global, ressaltando o papel relevante do Brasil nesse tema. Um retrato de como isso se reflete no principal comprador de nossas commodities agrícolas, a China, foi dado esta semana pela colunista da Folha de S. Paulo Tatiana Prazeres, senior fellow na Universidade de Negócios Internacionais e Economia, em Pequim, e ex-secretária de comércio exterior e conselheira sênior na direção-geral da OMC. A pergunta que ela faz: a China adotaria barreiras ao agro brasileiro por motivos climáticos? A resposta não é exatamente simples (e nem a que gostaríamos de ouvir). Por isso, é mais do que hora de refletir sobre ela.