No imenso debate global em que se transformou a produção sustentável de alimentos, talvez nenhum segmento seja tão escrutinado quanto a pecuária. Se ela for praticada na Amazônia, então, há um prato cheio de opiniões e preconceitos, com todos os molhos possíveis.
Isso é, de certa forma, compreensível. A imensa floresta tropical sulamericana é o maior símbolo natural do planeta, tão majestosa quanto mitificada. Valorizadíssima nos discursos, nem tanto em ações.
Da mesma forma, a pecuária vive um momento de transformação, mas a grande maioria das referências nas discussões entre leigos tratam do que a atividade era – e não do que é e, sobretudo, no que está se tornando.
Na confluência de duas narrativas enviesadas, a pecuária da Amazônia se depara com dupla pressão. E só tem uma forma de enfrentá-la: expor-se e se propor a conversar.
Não há momento mais oportuno que o atual. Estamos há cerca de um ano e meio da realização da conferência das ONU para o clima, a COP 30, em Belém. O mundo virá à Amazônia discutir a Amazônia. Temos de estar preparados para falar nossas verdades – e isso inclui as positivas e as negativas. O saldo pode ser bem mais positivo do que parece.
O primeiro ponto é mostrar que a tal Amazônia é bem mais do que aquela imensa mancha verde nos mapas. E, a partir da compreensão da enorme diversidade escondida sobre a quase impenetrável floresta de opiniões a seu respeito, passar a tratá-la como um ecossistema complexo, em que ambiente, pessoas e atividades econômicas, inclusive a pecuária, precisam conviver gerando desenvolvimento.
Nas próximas semanas, a Produzindo Certo se propõe a colaborar com essa discussão dando voz a personagens que estão intimamente inseridos nela. Em uma nova edição da série Vozes Responsáveis, especialmente dedicada à Pecuária Sustentável na Amazônia, traremos a visão de quatro personagens que estão em posições de liderança em projetos que espelham de forma concreta a transformação da atividade na região.
No Pará, nossa head de Pecuária, Carolina Barretto, mostrará, em conversas com especialistas como Guilherme Minssen, diretor da Faepa, Marcia Centeno, pecuarista e diretora da APAF, Rosirayna Remor, médica veterinária e assessora técnica do Fundepec, e Cristina Malcher, presidende da Comissão de Mulheres do Agronegócio do Pará, um retrato dos desafios que vem sendo enfrentados pelo setor no Estado.
A começar por mostrar que, mais do que um território ameaçado, o Pará deve ser visto como um laboratório de soluções, tão diverso quanto seu território. Com luz, solo, água e temperatura em doses únicas, dali se pode extrair modelos sustentáveis capazes de intensificar a atividade pecuária, permitindo produtividades que garantam a sustentabilidade econômica das propriedades rurais sem afetar sua sustentabilidade socioambiental.
As diversas regiões paraenses são distintas amostras de diferentes Amazônias e devem ser vistas como tal. Conhecê-las e dar nome aos bois é fundamental para desenvolvê-las e preservá-las.