Lucas Luís Faustino usa a ciência para decifrar o que acontece no solo, sob os nossos pés, e, assim, gerar benefícios para os produtores rurais
“O solo é um bem que precisa ser conservado e a gente depende dele para a agricultura. Não é simplesmente um substrato que a gente põe a semente e germina. Ele tem vida, tem microrganismos, ele respira, faz troca de gases”.
Lucas Luís Faustino, 34 anos, não esconde o entusiasmo ao falar sobre o tema que escolheu para guiar sua carreira. Agroecólogo de formação, ele fez mestrado e doutorado em solos e nutrição de plantas e pós-doutorado em carbono. É um cientista da terra, dedicado a desvendar todos os segredos para recuperação e conservação da fertilidade no campo.
Nos últimos anos, ele se dedicou a aperfeiçoar seu conhecimento na academia. Desde o início deste ano, emprega esse saber na prática, em benefício dos produtores cadastrados na Plataforma Produzindo Certo.
Em julho passado, por exemplo, ele participou da coleta de amostras de solo de propriedades em Campos de Julio (MT). O material passará por análises científicas para aferir a quantidade de carbono armazenada, em um projeto que busca melhorar o método de cálculo sobre estoque de carbono no solo e de outros serviços ambientais que a atuação responsável de produtores rurais oferece.
O projeto é financiado pela Aliança pela Floresta Tropical (TFA), plataforma do Fórum Econômico Mundial, e conta com parceria do PSA Soja Brasil. A Produzindo Certo é o parceiro técnico, que foi responsável por selecionar as propriedades participantes do estudo e realizou o diagnóstico socioambiental em cada uma delas.
Lucas reforça que as boas práticas agrícolas colaboram com serviços ecossistêmicos, como disponibilidade hídrica e fertilidade do solo, que beneficiam bem mais gente, além do produtor rural. “Tem propriedade que preserva 10 nascentes de água. Qual o volume de água que ele não está gerando ali? Esse mercado vai crescer muito. O produtor terá, todo fim de safra, um crédito na conta dele referente a esse monitoramento e a essa proteção que faz das fontes de água na área dele”, explica.
Mas é preciso driblar barreiras. “O protocolo que certifica o crédito de carbono é internacional, chamado VERRA, se orienta por uma cultura e uma realidade muito diferente da nossa. Então a gente precisa ir pra frente com muito mais robustez”, completa.
Nova fase na carreira e na vida
A mudança do ambiente acadêmico para o dia a dia do campo traz novas oportunidades e uma nova fase na carreira. Mas essa não foi a única mudança na vida desse mineiro de Viçosa. Após concluir o mestrado e o doutorado pela Universidade Federal do Norte Fluminense, no Rio de Janeiro, ele se mudou em 2018 para o coração do Cerrado para sua especialização em carbono, formação realizada em Morrinhos, a 128 quilômetros de Goiânia (GO).
Em junho, nasceu o pequeno Benício e, junto com a esposa, Nádia, ele agora se especializa na função de pai. Como o casal é de Minas Gerais, eles não podem contar com o apoio da família por tempo integral. A experiência é intensa, mas gratificante. “Com a pandemia e o home office foi possível ficar mais tempo em casa, ajudando nos cuidados e curtindo esse momento especial. E quando viajo, temos ajuda”, explica.