Na virada do ano, o bacharel em Ciências Ambientais deixou a equipe de Sustentabilidade da Produzindo Certo para se tornar cientista de dados no time de TI. E agora se dedica à transformação de dados brutos em informação
Em 1994, o Brasil do futebol voltava ao antagonismo emocional entre a expectativa e a desconfiança de conquistar novamente uma Copa do Mundo. Na última vez que o País havia levantado a taça, em 1970, no México, a seleção de Pelé, Tostão, Jairzinho e companhia apenas confirmou a ampla confiança da população. Mais de duas décadas depois, o campeonato aconteceu pela primeira vez nos Estados Unidos, e o sentimento era outro. Poucos meses antes de a bola rolar oficialmente, em meio às dúvidas se o “tetra” viria ou não, quem entrou em campo foi Guilherme Feitosa Cunha. Nascido no dia 20 de abril, sem a menor ideia do que estava acontecendo ou de como seria a vida, chegou para celebrar. O tetra veio.
Hoje, com 29 anos, Guilherme, bacharel em Ciências Ambientais pela Universidade Federal de Goiás (UFG), não tem dúvidas de que independentemente do caminho escolhido, se o desejo é mesmo seguir em frente, é melhor estar bem-preparado. O profissional chegou à Produzindo Certo no final de agosto do ano passado e, na virada de 2022 para 2023, mudou a estratégia do jogo: trocou o cargo de especialista em Sustentabilidade pelo de cientista de dados júnior, passando a integrar o time de TI.
O encanto pelas ciências ambientais já caminhava lado a lado com o interesse pela tecnologia. “Sempre tive mais facilidade com tecnologia, coisas de computador, então foi tranquilo ir para esse lado. Até os professores comentavam essa habilidade”, afirma Guilherme. Mesmo quando o olhar estava fixo na sustentabilidade, os sinais de mudança estavam por perto. “Quando entrei no curso de Ciências Ambientais, sabia da temática, mas não exatamente quais ferramentas eram utilizadas. Ao conhecer a cartografia e o geoprocessamento, entendi o que eu queria.”
Durante o segundo período da faculdade, Guilherme fez um estágio no MapBiomas, o que o ajudou a entender a importância de tais ferramentas para a agropecuária. “Fiquei um ano com eles, aprendendo. Foi ali que tive o primeiro contato com a programação.” Ainda na faculdade, havia uma professora que sempre o incentivava a ir nessa direção, mas faltava a clareza sobre onde estava a conexão.
Compreensão na prática
O dia a dia com o time de tecnologia da Produzindo Certo, desde janeiro, já mostrou a Guilherme onde está essa sinergia e como tal conexão pode ser aplicada para ajudar o agronegócio brasileiro. “É muito bom estar com muita gente que sabe muita coisa. Aproveito bem mais das informações que fui acumulando ao longo da vida”, diz o cientista, que continua: “Além disso, tenho um pensamento muito alinhado com os conceitos da empresa”.
Guilherme fala com entusiasmo sobre suas funções e realizações dentro da Produzindo Certo, e sempre com ênfase no fato de ser algo coletivo. “Nossa missão é fazer melhorias e a manutenção da plataforma”, afirma. Como exemplo, cita o aprendizado com o desenvolvimento de um novo produto. “Este ano, conseguimos criar o extrato socioambiental, um aplicativo robusto e confiável, e ajudei a estruturar o banco de dados.”
No entanto, para Guilherme, a grande contribuição da plataforma é transformar os dados brutos em informação e, consequentemente, em conhecimento. Números inseridos no banco de dados podem sinalizar alguma tendência de um determinado grupo de produtores de milho, por exemplo, em uma região específica. Essa revelação permitiria prevenir alguma situação de risco ou promover um melhor aproveitamento de um quadro que já é favorável.
“Quando alguém insere um novo dado na plataforma, esse dado vai para algum lugar. Nós definimos para onde ele vai e como será disponibilizado”, explica Guilherme. Outra mostra dos benefícios da evolução tecnológica na plataforma da Produzindo Certo é, no caso de análise e classificação de imagens, a precisão alcançada com o processo de “ensinar” o computador – o machine learning – para que identifique corretamente cada ponto da imagem. “Precisaria de muitas pessoas para realizar tal tarefa, e ainda assim correndo-se o risco de acontecer alguma falha humana”, acrescenta.
Conhecimento é uma composição
Os primeiros contatos de Guilherme com o agronegócio aconteceram ainda na infância, em viagens com seu pai, caminhoneiro que transportava grãos do Centro-Oeste para o Nordeste. As informações do tempo em que compartilhou a boleia com o pai vieram a fazer parte de seu conhecimento, transformado com o passar do tempo e a chegada de tantos outros dados.
Os quilômetros rodados na estrada eram também uma forma de estar perto do pai. “Meus pais se separaram quando eu tinha 10 anos. Mas isso nunca foi um problema no nosso relacionamento”, conta Guilherme, que até os 18 anos procurava passar as férias com seu pai no caminhão. E entrava no modo “Carga Pesada” mesmo: “A gente nunca parava em hotel. Arrumava uma rede, quando podia, ou dormia na cabine mesmo”.
As informações que foram compondo o banco de dados de Guilherme, sobretudo no quesito cultural, vieram também da mãe e do irmão, que é cinco anos mais velho. Até mesmo o conhecimento sobre vídeo game. “Tenho boas lembranças de minha mãe jogando Mario Bros no Nintendo. Ela tinha também um Atari”, conta.
A inspiração vinda do irmão trouxe, principalmente, as escolhas musicais. “Ele gosta de Rock, o estilo que também mais curto”, afirma Guilherme. Por sua playlist já passaram nomes marcantes do som bem pesado, como Black Sabbath, banda que é considerada a precursora do Heavy Metal, além de Slayer e Slipknot. Depois foram ganhando destaque alguns sons mais conceituais, como de Led Zeppelin e Pink Floyd, e hoje há bastante espaço para grupos como Arctic Monkeys, numa linha mais Indie.
Talvez as mudanças nas preferências musicais tenham acompanhado as das atividades físicas. Guilherme já foi adepto e bastante ativo na prática de lutas, como muay thai, taekwondo e capoeira. “Gosto muito de UFC”, ressalta. Mas ele mesmo conta que foi abrindo mão, e hoje mantém apenas a musculação. “Em algum momento, gostaria de voltar às lutas.”
O amadurecimento de Guilherme vem também do período em que morou fora do Brasil – passou seis meses estudando em Tucumán, na Argentina, pelo programa de intercâmbio da Asociación de Universidades Grupo Montevideo (AUGM), entidade composta por universidades da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Para participar, recebeu apoio financeiro da UFG, que bancou as passagens de ida e volta, e da Universidad Nacional de Tucumán, que pagou a moradia e os custos diários.
Guilherme dividiu a casa com mais seis intercambistas do Brasil, quatro do México, quatro da França, uma do Paraguai e um da Colômbia. Um dos principais desafios naquele segundo semestre de 2018 foi a adaptação às temperaturas. “Peguei uns 20 dias com zero grau. Para um goiano é muito difícil”, recorda. “Eu nem tinha roupa adequada para aquele frio, acabava vestindo tudo o que tinha.”
Se tem algo que Guilherme não pode reclamar agora é dos termômetros, pois há um ano desfruta da agradável temperatura de morar com a namorada (que ele já chama de esposa, na verdade). “Há todo um período de adaptação, vamos nos conhecendo, descobrindo nossos hábitos, aprendendo a conviver. Estamos nos dando muito bem”, diz o cientista sobre a vida a dois. Ou melhor, a três! Faltou falar do “Jorge”, o terceiro integrante da família, um bull terrier que já ficou famoso no prédio. “A criançada toda gosta muito dele.”