A caminho de completar um século de história, a cooperativa amplia as iniciativas voltadas a governança e sustentabilidade socioambiental. O alinhamento com o mercado global tende a garantir mais retorno aos cooperados
Falta muito pouco para a Frísia Cooperativa Agroindustrial se tornar secular. A instituição foi fundada em 1925, no Paraná, como Sociedade Cooperativa Hollandeza de Laticínios, por famílias holandesas que chegaram ao Brasil em 1911. As inúmeras transformações ocorridas de lá para cá colocaram a Frísia em uma posição de destaque, com atuação em diferentes segmentos, mais de mil cooperados, 14 unidades no Paraná e duas em Tocantins (a caminho de instalar uma terceira) e receita líquida superior a R$ 6,89 bilhões. A expansão comprovada por esses e diversos outros fatores aumentou também a necessidade de a cooperativa ser cada vez mais sustentável, e de comprovar tal condição. É o que vem acontecendo.
Em 2023, a Frísia apresentou seu primeiro Relatório Anual de Sustentabilidade, referente a 2022, um passo importante para ampliar a transparência de suas ações para cooperados, fornecedores, compradores e o mercado como um todo. Outra iniciativa nessa mesma direção foi a criação do Programa Fazenda Sustentável, lançado durante a ExpoFrísia, no final de abril.
A ideia é disponibilizar aos produtores uma série de ferramentas para que otimizem a gestão dos mais diversos setores da fazenda e, dessa forma, agreguem valor à produção, gerem maior segurança alimentar, garantam a rastreabilidade, além de mitigar riscos ambientais e acidentes de trabalho.
A CEO da Produzindo Certo, Aline Maldonado Locks, foi convidada pela Frísia para participar do evento e apresentou uma palestra com o tema ESG impulsionando o agro, para mostrar as oportunidades que podem se abrir para uma propriedade rural à medida em que passa a ter uma gestão baseada em ESG (sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa). “Falei sobre as certificações e as possibilidades de ganhos superiores em comercialização, créditos de carbono e finanças verdes”, diz Aline.
O Fazenda Sustentável é composto por vários módulos de avaliação e checagem, uma espécie de auditoria, que dão origem a certificações, garantindo inclusive que o cooperado está em dia com a legislação trabalhista e as regras ambientais vigentes. Enquanto a gestão mais apurada impacta positivamente em todos os resultados operacionais da fazenda, a clareza nas informações sobre procedimentos e processos abrem mais espaço no mundo dos negócios.
Na avaliação de Aline, a iniciativa da Frísia com esse programa é uma prova de que a cooperativa estende a mão ao produtor que está disposto a aprimorar a performance de sua propriedade. “Os cooperados têm mais facilidade de trocar experiências e compartilhar entre si os aprendizados e os desafios, além de colherem os frutos em escala”, analisa a CEO da Produzindo Certo.
Para o gerente-executivo de Estratégia e Inovação da cooperativa, Auke Dijkstra Neto, é fundamental que mantenham esse alinhamento na mesma direção dos conceitos de ESG. “Por mais que já pratiquemos a sustentabilidade como cooperativa, usando as melhores práticas e cumprindo todas as leis, o momento exige que, além de sermos sustentáveis, nos provemos como tal”, afirma.
Futuro sustentável e lucrativo
Segundo Dijkstra, a evolução da produção agropecuária em termos de sustentabilidade está diretamente relacionada a inovação. “Andam sempre lado a lado”, diz o executivo. Mas também chama a atenção para a necessidade de haver uma contrapartida, ou seja, de que essa combinação entregue de fato algum valor aos produtores. “Há sempre uma curva de adoção das novidades. E o produtor faz muita conta, então se a inovação não entrega algum valor será apenas uma invenção.”
Nesse ponto, a Frísia conta com um potente apoio da Fundação ABC, instituição de pesquisa da qual faz parte, juntamente com as cooperativas Castrolanda e Capal. “Aí está o papel da cooperativa, antecipar as soluções para os produtores”, comenta Dijkstra. “A Fundação ABC avalia as inovações, testa com o produtor para confirmar se faz sentido. A partir daí apresentamos e preparamos nossa equipe para dar assistência e fazer acontecer.” A segurança desses passos é fundamental também para os próximos, sobretudo porque os planos de investimento da cooperativa são ambiciosos.
Até 2025, quando vai celebrar seus 100 anos, a Frísia vai investir R$ 1 bilhão, recursos que se dividem entre implantação da Queijaria Unium, em Ponta Grossa (PR), ampliações em armazenagem, fortalecimento da pecuária de corte e a Maltaria Campos Gerais, empreendimento grandioso que chama a atenção do mercado e gera grandes perspectivas para os produtores de cevada. “É um projeto de intercooperação, em que nos juntamos a outras cooperativas”, afirma Dijkstra.
Além da Frísia, fazem parte da Maltaria Campos Gerais Castrolanda, Capal, Agrária, Bom Jesus e Coopagrícola. O negócio soma um investimento de R$ 3 bilhões e pode representar aumento de duas a três vezes a área plantada com cevada na região. Com previsão de ser inaugurada ainda este ano, a indústria vai processar, na etapa inicial, 240 mil toneladas por ano, como informou reportagem da Revista Globo Rural. Na segunda etapa, essa capacidade pode dobrar de volume.
Expansão em Tocantins
O fortalecimento da Frísia em pecuária de corte está bastante relacionado a sua atuação em Tocantins. A operação na Região Norte do País começou em 2015, com inauguração do primeiro entreposto em 2016, e envolve gado de corte e produção de soja. A primeira unidade do estado foi implantada no município de Paraíso do Tocantins e a segunda, em Dois Irmãos do Tocantins. Uma terceira está em prospecção, mas ainda não foi definida a localização. “O ambiente lá é muito diferente do que temos no Paraná. Em Tocantins é tudo mais amplo”, comenta o especialista ambiental da Frísia, Jean Andrusko, também responsável pelo programa Fazenda Sustentável.
Uma das prioridades da expansão naquela área é exatamente garantir as mesmas condições de sustentabilidade já alcançadas no Paraná. E é nesse cenário que Frísia e Produzindo Certo podem se aproximar. A participação de Aline na ExpoFrísia foi mais do que falar sobre o tema, o convite já previa um estreitamento dos laços. “Está se desenhando uma potencial parceria entre as duas empresas”, diz Dijkstra. Caso essa expectativa se torne realidade, a ideia é que a Produzindo Certo passe a atuar na operação de soja da Frísia em Tocantins, em 2024, para garantir o melhor desempenho nos processos de certificação da cooperativa, já de olho no mercado internacional. “Estamos avaliando como terceirizar essa parte socioambiental por lá, e poderia ser a participação da Produzindo Certo”, comenta Andrusko. Que venham as boas novas.