O risco de perda de rentabilidade, por conta da queda de preços dos grãos, não deve afastar os produtores da trilha da sustentabilidade. Aliás, manter-se nesse rumo pode ser o diferencial para ajudar na comercialização
Os acontecimentos dos últimos anos, trouxeram uma mudança no patamar de preço das commodities, mas recentemente o mercado agrícola vem testemunhando uma frequente queda de preços nos grãos, o que certamente pode reduzir a rentabilidade do agricultor caso os valores dos insumos e os custos de produção não sigam na mesma direção.
A saca de 60 quilos da soja, por exemplo, foi cotada a R$ 136,08 na última quarta-feira (24 de maio), de acordo com o índice Cepea/BM&FBovespa – Paranaguá. Em janeiro, essa mesma cotação estava em R$ 174,67, valor 22,1% superior, e em 24 de maio do ano passado, esse índice era de R$ 191,28, uma diferença de 28,8%.
Diante dessa variação de preço, que em maior ou menor proporção também é notada em outras commodities, como manter a dedicação e o investimento em uma produção agrícola sustentável?
Essa é uma equação mais do que importante para o produtor resolver, pois, na verdade, a sustentabilidade da atividade em si tende a ser o diferencial que necessita para agregar valor à colheita e viabilizar uma comercialização mais rentável. Afinal de contas, o mundo inteiro está de olho nos “negócios verdes”.
O fator produtividade continua em evolução, ao menos de acordo com o levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o período 2022/23. A estimativa é de que a colheita de grãos chegue a 313,9 milhões de toneladas, volume 15,2% superior ao da temporada passada.
Já a soma da área plantada, que chega a 77,5 milhões de hectares, é apenas 4,5% maior do que no período anterior. Segundo a Conab, portanto, a produtividade deve contribuir com 10,7% na evolução de produção, na comparação da safra atual com a anterior.
Colheita de benefícios
Para Thiago Brasil, CFO da Produzindo Certo, o fator sustentabilidade pode representar um prêmio no pagamento sobre o produto tradicional. Créditos de sustentabilidade, como os Créditos RTRS (Round Table Responsible Soy), relacionados à soja responsável, ou como os Créditos de Couro (Leather Impact Accelerator – LIA), relacionados à produção de couro livre de desmatamento e ao bem-estar animal, representam uma receita adicional sobre o valor de comercialização da commodity.
“Essa valorização pode ajudar a recompor a margem perdida com a queda no preço dos grãos”, afirma o executivo. “Além disso a falta de sustentabilidade pode ser uma barreira para a comercialização, em um cenário já estressado de preços baixos.”
Uma mostra dessa relação é que o próximo Plano Safra, que deve ser anunciado em breve pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), vai beneficiar projetos agropecuários mais sustentáveis. A intenção do MAPA é que todo o plano 2023/2024 seja focado no Programa ABC + (Agricultura de Baixo Carbono).
O próprio ministro Carlos Fávaro chegou a discutir com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) opções de incentivos para produtores que adotarem boas práticas agropecuárias, como benefícios bancários por parte das instituições financeiras. “A gente tem que premiar o produtor que está fazendo sua parte. Ele precisa ser reconhecido”, afirmou.
Como divulgado no portal do MAPA, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, reagiu positivamente à colocação do governo federal no sentido de apoiar uma agropecuária mais sustentável, e disse que o grupo se alinhará à proposta.
Outra razão significativa para o produtor rural não abrir mão da sustentabilidade é o fato de essa condição resultar em benefícios duradouros. “Os investimentos são feitos no curto prazo, como no caso de implantação de energia solar ou substituição de defensivos químicos por bioinsumos. Mas os benefícios são colhidos no médio e no longo prazos, com a redução dos custos de produção, a diminuição dos riscos associados a multas e penalidades, ou o aumento de competitividade no mercado”, comenta Thiago Brasil.
O plano ABC, portanto representa ainda uma importante fonte de financiamento, que visa a atenuar o fator temporal na relação investimento em sustentabilidade x retorno, por meio da adoção de taxas de juros mais competitivas ao exemplo da Safra 2022/23, com taxas entre 7,0% e 8,0% a.a.
A falta de conhecimento sobre o plano, no entanto, associada às dificuldades no processo de captação, fizeram com que historicamente o volume contratado na linha ABC tenha ficado abaixo do disponibilizado pelo Governo. Na safra 2021/22, o percentual de contratação foi de cerca de 61%, próximo aos níveis da safra 2016/17.
Isso só reforça o argumento de que existe uma grande oportunidade para produtores que buscam transformar sua produção, e boa parte passa por maior conhecimento dos instrumentos e ferramentas disponíveis. Para esta safra 2022/23, por exemplo, o Governo disponibilizou aproximadamente R$ 6,2 bilhões para o plano ABC, sendo que até a ultima atualização disponível (24/5) menos de R$ 600 milhões haviam sido comprometidos.
O avanço que vem desse equilíbrio está diretamente relacionado à uma gestão profissional, que leve em conta questões atuais sobre a construção de negócios sustentáveis, como o conceito de ESG, baseado nos pilares social, ambiental e de governança. E numa remuneração diferenciada que valorize esse comprometimento com a preservação ambiental. O trabalho desenvolvido pela Produzindo Certo há mais de 17 anos está totalmente alinhado com esse cenário, tanto que já contribui para evitar a emissão de 1,5 bilhão de toneladas de CO2 na atmosfera.