Uma das primeiras a adotar o plantio direto no Cerrado, a Fazenda Vargem Grande, da família Peeters, se destaca também por avanços na agenda social
Wendy Peeters seguia caminho para desenvolver sua carreira no mundo corporativo, longe da Fazenda Vargem Grande, propriedade da família Peeters em Motividiu (GO). Após a formatura em Relações Internacionais, na Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Franca (SP), ela se mudou para a capital paulista e foi admitida no programa de trainees da BRF, uma das maiores agroindústrias no Brasil e no mundo. Ali, passou três anos focada na área comercial e mercado externo.
O ano era 2013 e uma notícia que preocupou a família foi o sinal para Wendy voltar para o campo. O pai, Andreas Peeters, iniciou tratamento contra um câncer e ela considerou que era o momento de ficar mais perto da família. Acabou entrando de cabeça nos negócios da fazenda e, junto com os irmãos, descobriu o que lhe trazia satisfação.
Mas essa transição na gestão familiar não planejada apresentou desafios e dificuldades que hoje fazem com que ela valorize ainda mais os avanços administrativos e em gestão de pessoas que a fazenda conquistou.
Não que a rotina entre o gado e as plantações de soja e milho fosse algo distante da profissional, hoje com 33 anos. Wendy, o irmão mais velho Charles e a caçula Kitty cresceram vendo o pai descobrir e se empolgar com técnicas agrícolas. No início da década de 90, Andreas foi um dos primeiros a aplicar o Sistema de Plantio Direto (SPD) no Cerrado, depois participou da criação do modelo de consórcio de capim com o milho (Sistema Santa Fé), buscando sempre uma cobertura permanente do solo durante o ano todo e uso intensificado dos sistemas produtivos.
“Ele era muito aberto à pesquisa e tecnologia. Via uma novidade e se acreditava naquilo era o primeiro a implementar e chamar todo mundo para mostrar como funcionava. Ele gostava de compartilhar o que dava certo. Foi assim também que saiu do interior de São Paulo e foi para o Centro-Oeste há mais de 30 anos”, relembra ela sobre o pai, que faleceu em 2015.
A família é de origem holandesa. Os avós de Wendy saíram da Europa recém-casados para se instalar em Holambra, no interior de São Paulo. A neta já nasceu em Rio Verde (GO), para onde o pai se mudou para ampliar os negócios de agricultura da família.
Com a assunção dos filhos na administração da fazenda – o irmão Charles é agrônomo – eles deram continuidade à busca do pai por boas práticas agropecuárias e somaram o conhecimento de suas formações acadêmicas. Há quatro anos, quando se interessaram em buscar a cerificação RTRS para a soja, conheceram o trabalho da Produzindo Certo.
“Sempre houve uma parceria aberta e franca com a equipe da Produzindo Certo. Aprendemos muito desde então. A avaliação (o diagnóstico socioambiental) valorizou o que já fazíamos e indicou onde a gente tinha que focar para melhorar ainda mais”, afirma Wendy.
Com o apoio para garantir o atendimento a todos os requisitos do principal selo para produção da soja sustentável, eles alcançaram a certificação RTRS em 2018.
Gestão de pessoas
Entre os temas que ganharam força na agenda estão gestão de pessoas e tecnologia para a administração financeira. Há dois anos, eles criaram o primeiro programa de gestão de metas e remuneração variável para a fazenda.
“Mesmo com uma equipe pequena, hoje temos 22 funcionários, sempre acreditamos que era importante ter meritocracia e participação nos resultados, mas de uma forma concreta e baseado em um plano de metas. Desenhamos nosso plano e apresentamos a alguns especialistas. Queríamos um conjunto de indicadores que fizesse sentido pra gente e que conseguíssemos mensurar de fato, para que fosse possível acompanhar os avanços”, explica.
O plano criado pela família Peeters considera metas individuais e coletivas e está ligado a indicadores produtivos e de sustentabilidade, como a correta separação e destinação de resíduos à coleta seletiva, o uso de equipamento de proteção individual (EPIs) e estatísticas de segurança no trabalho, além de objetivos específicos para as safras de milho e de soja, como o controle da ocorrência de deriva.
“Acredito muito que a gente pode melhorar sempre levando em consideração tudo o que tem em volta. Não só a fazenda tem que ser produtiva e viável. Temos que considerar as famílias que sobrevivem dela e a sua qualidade de vida, a biodiversidade precisa ser preservada da melhor forma possível. E acredito em um modelo de gestão de pessoas que as valorize da forma que elas mereçam”.
Apesar de não abrir os números de desempenho, Wendy destaca que toda essa organização contribuiu muito com os avanços que eles conseguiram, incluindo a produtividade. Hoje, os índices da fazenda Vargem Grande são maiores que a média da região.
“Evoluímos muito os sistemas e hoje temos muita informação sobre resultados, sobre o custo de cada coisa. Tomamos decisões embasadas pelos números. O produtor precisa enxergar valor, não só o financeiro. Isso agrega valor de mercado, reconhecimento pelo nosso trabalho e é uma oportunidade de mostrar para a sociedade que é possível sim produzir de forma sustentável”, explica.
Com os ensinamentos do pai, que sempre buscou novidades, Charles e Wendy não param de testar possíveis soluções, como novas plantas de cobertura e seu uso integrado a diferentes tipos de manejos, como consorciado com o milho.
A manutenção da certificação RTRS também é um impulso para seguir em melhoria contínua. E o diálogo com a Produzindo Certo ajuda a sanar dúvidas. “Sabemos que ainda há pontos a melhor, sempre há. Todo dia a gente aprende”, conclui.