Apesar dos seus benefícios, estratégia deve ser vista como a última alternativa do produtor
Incêndios florestais estão entre os principais inimigos do produtor rural. Além de causar danos ao meio ambiente e à produção agrícola, podem provocar sérios problemas à saúde humana.
Como prevenção, existem algumas estratégias que podem ser adotadas durante a estação chuvosa, de forma a reduzir os riscos de ocorrência de focos de incêndio quando o período seco chegar. Ironicamente, umas das mais antigas e utilizadas, principalmente por pequenos produtores, é a utilização do fogo na chamada queima prescrita – que, ao contrário dos incêndios florestais, ocorre de maneira planejada e controlada.
A queima controlada é uma das ações incluídas no Manejo Integrado do Fogo (MIF), conjunto de técnicas que tem como objetivo reduzir a quantidade de materiais combustíveis nas lavouras — como palhadas, folhas e galhos secos —, assim como a eliminação de problemas fitossanitários e a prevenção de grandes incêndios florestais.
Apesar de ser aprovada por órgãos ambientais e realizada somente com autorização e planejamento detalhado, a queima prescrita merece uma atenção especial, pois pode provocar sérias consequências.
Além da possibilidade de perder o controle do fogo, o produtor corre o risco de eliminar parcial ou totalmente a vida biológica presente no solo, responsável pelo transporte de nutrientes para a planta. Isso pode provocar quedas na produtividade e rentabilidade de suas culturas.
Por esse motivo, a prática da queima prescrita não costuma ser indicada nas propriedades adeptas da produção responsável. Além do enfraquecimento do solo, ela pode estar relacionada à poluição de nascentes e à extinção de habitats espécies animais.
“Quando se pensa em sustentabilidade, imagina-se zero queimadas dentro de uma propriedade. Também precisamos pensar que, no que envolve certificações, costuma haver um indicador somente para queimadas. Então, se o produtor colocar fogo na propriedade, essa certificação [de sustentabilidade] pode não vir”, explica o especialista em sustentabilidade Willian Campos, coordenador de campo da Produzindo Certo.
Ele recomenda que o uso de fogo deve ser feito somente em último caso, quando não há outra alternativa. E, de fato, o método tem sido cada vez menos utilizado em campo.
Como fazer a queima prescrita da forma correta
Ainda que a técnica não seja indicada para a prática da agricultura sustentável, o especialista em sustentabilidade da Produzindo Certo, Vinicius Maciel de Vasconcelos Lima, que já atuou como brigadista, traz algumas orientações sobre como realizá-la da maneira correta.
O primeiro passo, segundo ele, é obter a autorização de um órgão ambiental da região. Para isso, é necessário a consultoria de um engenheiro agrônomo ou ambiental, que poderá emitir a ART (Anotação de Responsabilidade Técnica), documento que delimita a área ideal para a prática.
Depois de aprovada a ação, é necessário fazer aceiros em torno do espaço que será queimado, para remover todo material que possa intensificar as chamas. A fim de evitar que o fogo se alastre, é fundamental que a técnica seja feita em áreas pequenas e com a presença de pessoal devidamente treinado.
O uso de equipamentos de segurança (EPIs) também é imprescindível. Contar com um abafador, uma bomba costal, um rastelo e uma enxada, é essencial nessa ação, pois esses equipamentos facilitarão a limpeza do local e o controle do fogo.
Com relação ao melhor momento para fazer a queima, o especialista indica o período da manhã, a noite e o início da madrugada, em que a temperatura e a umidade relativa do ar estão mais adequadas.
Apesar das dicas, Vinícius ressalta que há uma grande variedade de tecnologias à disposição do produtor que podem substituir o método. “Hoje temos no mercado várias boas práticas agrícolas com os mesmos efeitos da queima, porém com menos danos. Isso vai desde escolher qual tipo de capim plantar em sua região até as melhores técnicas de planejamento”, finaliza.