Gestão da água é estratégica para reduzir perdas na seca e pequenas ações somadas podem render importantes economias
A água é um dos recursos mais importantes para a atividade rural. A preocupação com a sua disponibilidade e os recentes períodos de estiagem, cada vez mais longos, tiram a tranquilidade do produtor mesmo diante do aquecido cenário para a produção agrícola brasileira. O insumo é essencial na irrigação das fazendas, na alimentação dos animais, para gerar energia – e não pode faltar à população.
Além de buscar no céu algum sinal de que as previsões de crise hídrica não se confirmem, o produtor pode lançar mão de algumas ferramentas para garantir o manejo eficiente do recurso em sua fazenda e amenizar prejuízos nos períodos de maior estiagem em diversas regiões do país.
Mesmo na irrigação, maior fonte consumidora de água na agricultura, é possível contar com medidas para reduzir o consumo. E aí a soma de boas práticas agrícolas é um diferencial. O plantio direto e a manutenção da palhada no solo, por exemplo, ajudam a segurar por mais tempo a umidade na terra.
Além disso, o ideal é fazer a irrigação nos momentos do dia de temperatura mais amena, pois a rápida evaporação causada pelo sol forte aumenta a perda de água e ainda pode contribuir para o estresse hídrico das plantas.
Conhecer profundamente sua produção é outro fator estratégico para ganhar eficiência, conta Jaime Dias, especialista ambiental do time de profissionais de campo da Produzindo Certo. Saber exatamente a quantidade de água que cada cultura necessita conforme o estágio de desenvolvimento ajuda a usar a água com mais eficiência.
“O manejo correto da irrigação é fundamental. Existem empresas que oferecem esse gerenciamento. Já fizemos um levantamento da água em uma propriedade que economizou 100 mil litros com gerenciamento tecnológico e boas práticas, como boa cobertura do solo, Manejo Integrado de Pragas (MIP) e ouras ações”, afirma Dias.
A contribuição do MIP passa pela gestão mais racional dos defensivos agrícolas. Quando o produtor lança mão de todo o arsenal de recursos e ferramentas, incluindo a manutenção de inimigos naturais das pragas, monitoramento para detecção precoce de problemas na lavoura, uso de biológicos, entre outras ações, reduz o uso de agroquímicos e também o consumo de água, que pode chegar a 10 mil litros por aplicação.
“Temos produtores que são muito conscientes e sempre buscam melhorar. Em uma fazenda no Piauí, eles criaram um sistema pra reaproveitar a água do sistema de ar-condicionado dos tratores. Um colaborador sugeriu a instalação de um recipiente e agora a água que iria fora é usada para lavagem das mãos e abastecimento do radiador e do limpador de para-brisas. Parecem ações pequenas, mas é a soma delas que gera o resultado”, acrescenta Dias.
A captação da água da chuva é uma prática de baixo investimento e pode contribuir muito com a gestão do consumo na propriedade, além de gerar economia financeira. Os telhados dos armazéns podem captar grandes quantidades de água a depender do regime de chuvas na região.
A água da chuva é utilizada, inclusive, para hidratação de animais, especialmente em regiões com muita restrição de água, conforme explicou o médico veterinário Fernando Loureiro nessa entrevista recente para o Canal Rural.
Também na prática de reuso, água de pia, chuveiros e lavanderia podem e devem ser reaproveitadas em atividades de limpeza e manutenção de galpões, máquinas e equipamentos.
Os proprietários rurais ainda precisam estar sempre atentos à proteção da vegetação nativa e de APPs para garantir a fonte de água e sua qualidade. As fazendas que fazem parte da Plataforma Produzindo Certo, além de comprovarem estar em dia com os critérios ambientais, também passam por análises da qualidade da água a cada visita dos técnicos de campo.
“As visitas também ajudam identificar se há uso indiscriminado de agroquímicos na fazenda. Nesses casos, comunicamos o proprietário e precisamos incluir medidas de mitigação”, completa Dias. A assistência técnica realizada pelo time da Produzindo Certo inclui o estímulo ao reaproveitamento da água e a construção de planos de ação para isso junto com os proprietários rurais.