Benildo Teles, um dos sete produtores pioneiros que participaram da primeira emissão coletiva de CRA Verde, fala sobre seu compromisso com os resultados do negócio e o equilíbrio socioambiental
“Não é a quantidade de áreas (que mais importa), precisamos produzir mais nas áreas já abertas. Produzir verticalmente. O mais importante é a produtividade”. O agricultor e pecuarista Benildo Carvalho Teles pratica o que diz desde quando adquiriu os primeiros lotes de terra para atividade agrícola, ainda na década de 1980.
Na época, o conceito de sustentabilidade ainda não existia e, no campo, a premissa era expandir as áreas produtivas com intenso movimento migratório do Sul e do Sudeste para o Centro-Oeste por empreendedores que descobriram no Cerrado condições de clima e solo excelentes para a produção de grãos.
Benildo Teles, mineiro de Bambuí, se mudou para Jataí (GO) e aproveitou a experiência em empresas ligadas ao agronegócio para criar com mais dois sócios a Rural Brasil (que nasceu como Rural Técnica), hoje referência em distribuição de insumos agrícolas e originação de grãos. Posteriormente, também formou o Grupo Teles para investir na produção agrícola.
Mesmo ouvindo de outros produtores que precisava utilizar toda a área permitida legalmente para a produção, ele acredita que o segredo para a rentabilidade está mesmo na forma de trabalhar a terra e aplica essa teoria em todas as fazendas, próprias ou arrendadas, que mantém em Goiás, Mato Grosso e Pará.
Há pelo menos 17 anos, as fazendas do Grupo Teles adotam sistema de plantio direto e a Integração Lavoura Pecuária (ILP), conseguindo ganhos de produtividade anualmente, ele garante. “Em 1987, quando comecei, a média era 30 e poucas sacas por hectare, hoje eu faço 65 sacas”, conta ele que produz soja, milho, feijão mungo e gergelim. “É claro que no início o custo é maior, mas ele vai se dissolvendo ao longo dos anos. Procuramos fazer uma palhada muito forte, fazer material orgânico. E produzimos bem sempre, sem derrubar um pé de árvore, só usando as áreas consolidadas”, explica.
Seu compromisso com sistemas produtivos mais intensivos, alinhado a princípios da agricultura sustentável e a visão de que é possível buscar novos caminhos de melhoria habilitaram Teles a participar do CRA Verde.Tech. Ele foi um dos sete proprietários rurais pioneiros na emissão coletiva de títulos de CRA (Certificado de Recebíveis Agrícolas) Verde.
A operação, inédita ao reunir produtores sem vínculo a um grupo empresarial, captou R$ 63 milhões para financiar a atividade agrícola e promover a preservação ambiental e foi estruturada pelas empresas Produzindo Certo, Traive Finance e Gaia Impacto. Nela, os produtores tiveram acesso a um novo formato de financiamento para a produção, com menor burocracia e juros mais baixos atrelados ao compromisso de seguir obtendo ganhos socioambientais em suas fazendas.
“Meu plano foi para financiar 5% da produção dessa safra, e quero fazer mais nesse sistema. Seria bom ter prazos maiores, para investir em adubação verde e ter um pouco mais de resultados. Os juros menores dão condições para produzir melhor”, opina.
Teles aplicou os recursos principalmente na compra de calcário e fertilizantes, e também investirá para aperfeiçoar práticas como Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD), implementação de um programa de manejo e mitigação do uso de fertilizantes e corretivos agrícolas, com rotinas de monitoramento e manejo das propriedades de fertilidade do solo e monitorar os avanços na conservação do solo e da água dentro da propriedade, além de buscar a máxima eficiência nos recursos energéticos. Duas das propriedades de Teles integram a Plataforma Produzido Certo, que ele considera um importante apoio para manter os funcionários atentos a todas as medidas e perseguir a evolução contínua.
“Isso nos dá segurança, principalmente porque também estamos no bioma amazônico, de que estamos produzindo em equilíbrio com o meio ambiente. A gente também adota a NR 31 (normas de saúde e segurança para trabalhadores do agro), as práticas de armazenamento de agroquímicos e destinação final, APPs preservadas e áreas de Reserva Legal consolidadas”, conclui.