Com a criação de gado, muares e porcos caipira, a propriedade é exemplo de preservação e diversificação
A natureza estonteante da Serra do Roncador, no interior do Mato Grosso, emoldura o trabalho de Carlos Roberto Della Libera na fazenda Paraná. Com 34 mil hectares, a propriedade é modelo de produção diversificada, sustentável e rentável.
Tudo começou em 1995, quando o agropecuarista comprou a fazenda e iniciou a criação de gado Nelore. Apesar da vastidão de terras, cada vez mais ele se viu encantado pelas belezas naturais da região e decidiu que não iria abrir mais pastagens, mas sim recuperar áreas. Ao longo dos anos, construiu uma trajetória de muito aprendizado – e hoje é ele quem tem muito a ensinar.
Para o início de sua empreitada, após uma simples pesquisa na internet, ele resolveu investir no plantio de acácias, árvores de origem australiana que captam nitrogênio da atmosfera e depositam na terra, o que ajuda a nutrir e restaurar o solo.
O passo seguinte seria cortar as árvores e comercializar a madeira. No entanto, Della Libera descobriu com o tempo que as acácias tinham muito mais a oferecer do que ele imaginava. Elas atraíram muitas abelhas que iniciaram a produção de mel na fazenda, além disso as folhas têm alto índice proteico, o que é ótimo para o volumoso do gado.
Diversificação com respeito a natureza
Hoje a fazenda desempenha várias atividades diferentes, mas integradas entre si. A criação de gado Nelore, com mais de 20 mil cabeças, compreende o ciclo completo da pecuária, com cria, recria e engorda. O foco é a venda de animais, do bezerro ao boi gordo.
A produção de mel é orgânica e já alcança 150 toneladas por ano. A comercialização ocorre em 18 estados do Brasil, entre eles São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás.
De acordo com o produtor, ainda não compensa vender para o exterior, que não paga pelo produto premium como o mercado doméstico. Aqui a valorização é maior, principalmente na gastronomia.
Outra atividade importante é a criação de burros e mulas para uso próprio no trabalho dentro da fazenda e também para a venda a terceiros. E a mais recente paixão e investimento é a criação de porcos caipiras, que começou só em 2018, quando Della Libera recebeu exemplares do animal como pagamento. Já são 3.500 cabeças no rebanho, que é criado livre dentro da propriedade.
A produção orgânica dos animais rende iguarias artesanais de qualidade, como linguiça artesanal, costelinha, banha e almôndegas. Por enquanto a venda se restringe a Barra do Garças e região. Ainda estão em busca da liberação do SIF (Serviço de Inspeção Federal) ou do Selo Arte para a comercialização fora do Mato Grosso.
A comercialização da madeira das acácias existe, mas ocorre em pequena escala. O papel principal das árvores é mesmo nutrir o solo e as pastagens, atrair as abelhas, servir de sombra para os animais e ainda alimentar as criações com as folhas ricas em proteína.
O couro também é sustentável
A Fazenda Paraná é uma das propriedades indicadas pela Produzindo Certo para participar de um projeto piloto para a criação de um mercado internacional de créditos de couro sustentável. O projeto, liderado pelo programa Leather Impact Accelerator (LIA), da Textil Exchange, entidade que reúne as principais grifes globais de moda, pretende combater o desmatamento e incentivar a adoção de práticas de bem-estar animal e gerar receita adicional para os produtores responsáveis.
No projeto, o pecuarista que demonstra compromisso e responsabilidade na produção a partir de um protocolo determinado faz jus a um crédito de couro, calculado a partir da quantidade de animais que estiveram na fazenda durante o ano.
“A criação de um mercado de couro sustentável vai estimular muito, por tabela, o pecuarista a praticar o bem-estar animal”, destaca Della Libera. Até agora, ele nunca havia sido remunerado pelo couro quando vende os animais para o frigorífico. “Esse é um desejo de todo pecuarista”, destaca.
Tudo é equilíbrio
“A gente tenta tirar o que tem de melhor, sem prejudicar a natureza”, conta seu Carlos Della Libera. Encontrar essa aliada trouxe muitos benefícios e ganhos para a sua produção agropecuária. Pragas e doenças, por exemplo, não são problema nem nas pastagens e nem na criação dos animais.
Diferente de muitas fazendas vizinhas, a dele não enfrenta problemas com lagartas e a cigarrinha, que prejudicam o pasto, e nem com as moscas-do-chifre, que atacam o gado.
“Aqui não é um problema. Lógico que temos [essas pragas], mas não nos prejudica. Temos inimigos naturais. Tudo é harmonia. A natureza é equilibrio”, diz ele com a convicção de quem sabe o valor de cada uma dessas palavras.
Os 14 mil hectares preservados da fazenda também contribuem para a preservação das inúmeras nascentes. São 28 córregos de água mineral que servem para o consumo humano e dos animais. “O maior patrimônio é a água, não é a terra. É uma riqueza que a gente preserva. Nunca temos problemas com água”, se orgulha seu Carlos.
Uma das metas para o futuro é ampliar a área de preservação, além de consolidar todo trabalho já feito. “A gente vende qualidade. Precisamos consolidar isso e atingir novos mercados”, conclui.
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