Como a propriedade de Paranatinga, em Mato Grosso, soma pecuária, agricultura e floresta em uma receita de sucesso e preservação
“A agropecuária responsável é um somatório de ideias, de adequações, de melhorias, que culmina para fazer um animal mais rápido, com um ganho de peso maior e que não agrida o meio ambiente”. É com essa visão que o agricultor, pecuarista e engenheiro agrônomo Thiago Fabris, comanda a Fazenda Jatobá.
A propriedade fica em Paranatinga, município entre Primavera do Leste e Sorriso, no Mato Grosso e Thiago representa a segunda geração da família à frente da propriedade. Desde 2004, ele investe na Integração Lavoura Pecuária. Na agricultura, predomina o cultivo de soja, milho e arroz. Além da comercialização dos grãos direto com as trades, a produção própria também é importante para a alimentação do gado.
O farelo de soja e a quirera, que é o milho triturado, são industrializados dentro da própria fazenda, além da produção de silagem. “A única parte que a gente traz de fora é o mineral, que a gente compra por enquanto, e a parte do volumoso. Quando a gente chega num nível que a gente não tem volumoso suficiente para dar sequência, a gente vai em busca de volumoso diferente, um capulho ou um bagaço de cana, alguma coisa dessa forma”, diz o gerente geral da fazenda, Everton Rodrigo Schneider.
Nos pastos, a fazenda faz o ciclo completo, cria, recria e engorda, na produção das raças espanholas Rubia Gallega e Asturiana para a produção de carne. É um dos nove ou dez grupos da região que investem nesse tipo de gado e comercializa diretamente com os frigoríficos.
Couro valorizado
A consistência na gestão socioambiental da fazenda fez com que a Jatobá fosse uma das cinco propriedades indicadas pela Produzindo Certo para participar de um projeto piloto para a criação de um mercado internacional de créditos de couro sustentável. O projeto, liderado pelo programa Leather Impact Accelerator (LIA), da Textil Exchange, entidade que reúne as principais grifes globais de moda, pretende combater o desmatamento e incentivar a adoção de práticas de bem-estar animal e gerar receita adicional para os produtores responsáveis.
Uma vez no programa, o pecuarista que demonstra compromisso e responsabilidade na produção a partir de um protocolo determinado é recompensado com créditos de couro, calculados a partir da quantidade de animais que estiveram na fazenda durante o ano.
Recentemente, a Jatobá e as outras quatro participantes receberam uma boa notícia: o processo de auditoria externa nas propriedades aprovou todas as participantes, que receberam sinal verde para a primeira emissão dos inéditos créditos de couro.
A esperança do proprietário Thiago Fabris é conseguir finalmente remuneração pelo produto. “Hoje a gente não é remunerado pelo couro. Não tem nenhuma entidade ou frigorífico que pague. O foco é a carne”, reforça ele.
Fabris considera que o valor prometido pelo couro ainda não é o ideal, devido a todo investimento e adequações que precisam ser feitas para a produção sustentável, mas o incentivo é válido para iniciar, tendo em vista o cenário atual dos produtores.
“A questão do crédito sustentável em cima do couro engloba um universo amplo. Por trás disso tem o trabalho sustentável, o zelo pelo humano, tem as técnicas de trabalho dentro da fazenda, as questões de preservação”, destaca.
Segundo ele, a cobrança por uma produção responsável, com respeito ao bem-estar animal, por exemplo, está presente em todos os momentos, embora não haja remuneração diferenciada para quem segue os protocolos.
“Por trás da negociação a gente não é cobrado claramente, mas no decorrer da negociação, do carregamento, a gente tem as cobranças. O motorista mesmo identifica como está sendo o manejo. Se é com pau, com bandeira, com grete, né? Então, essa cobrança está claramente visível hoje com relação aos frigoríficos”.
Manejo florestal sustentável
Dos cerca de 20,5 mil hectares da fazenda, pouco mais de seis mil foram abertos para o uso na agricultura e na pecuária. Todo o restante está preservado. A produção legal e sustentável de madeira nos 12 mil e 300 hectares de reserva legal é outra fonte de renda importante.
A extração das toras é criteriosa e seletiva e todo processo é fiscalizado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA/MT). “É feito um levantamento de árvore em árvore, com a volumetria aproximada e as espécies, dentro da reserva legal. Esse projeto é encaminhado para a SEMA, que libera a documentação e a gente faz a extração apenas das árvores permitidas pelo órgão competente. Respeitando as árvores finas, as árvores porta-sementes e as que não têm fim comercial”, explica o agropecuarista.
Apenas as árvores consideradas “maduras” podem ser extraídas. Por terem atingido uma altura significativa, elas começam a limitar o espaço das outras que ainda estão em desenvolvimento. Dessa forma, quando são retiradas, beneficiam o crescimento de árvores novas na floresta. “Acaba abrindo clareiras e abre espaço para essas outras árvores que estão na floresta”.
A madeira extraída é toda documentada, separada, analisada e até o final segue com uma numeração que identifica de onde ela saiu e a coordenada que foi retirada dentro da floresta.
Parceira da Produzindo Certo há cerca de quatro anos, a propriedade iniciou o processo de diagnóstico e adequação socioambiental a partir das exigências de uma grande rede de supermercados. “O trabalho da Produzindo Certo dentro da propriedade hoje tem nos auxiliado muito na identificação das melhorias que a gente precisa atender para alcançar o objetivo proposto [a produção responsável]”.