Nessas cinco décadas, a principal empresa de pesquisa agropecuária do Brasil – e uma das mais destacadas no mundo – desenvolveu conceitos, soluções, ferramentas e pessoas que ajudaram a construir o agronegócio que é referência global
Os últimos 50 anos foram transformadores para o Brasil da agricultura e da pecuária. O País saiu da posição de importador de alimentos para se tornar uma potência agroambiental, uma referência global da agropecuária moderna, tecnológica e sustentável, um player na linha de frente de várias commodities e um exemplo a ser seguido na produção de comida, fibras e energia limpa. Tal evolução tem relação direta com a existência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, que hoje completa cinco décadas de existência.
Nesse período, a Embrapa apresentou ao agronegócio nacional e mundial inúmeros estudos científicos e diversos profissionais de pesquisa que transformaram a maneira de se trabalhar a agricultura e a pecuária. Em meio a essa imensidão de grandes feitos, o atual presidente da instituição, Celso Moretti, lista um deles para cada década da história da empresa, são projetos que resumem e exemplificam a relevância de tudo o que vem sendo desenvolvido ao longo desse meio século.
Grandes marcos
O primeiro deles, entre os anos de 1973 e 1983, foi a tropicalização dos solos do Cerrado, que promoveu uma revolução econômica para o bioma. Por meio da ciência, as terras da região passaram de inférteis a extremamente produtivas, permitindo sobretudo a expansão de grãos e proteína animal. Mais recentemente, ganhou força o cultivo do Trigo Tropical. Só no Distrito Federal, segundo a Embrapa, já são 220 mil hectares plantados, com produtividade de 3,5 quilos por hectare e produção anual de 600 mil toneladas.
Na década seguinte (1983 a 1993), o grande destaque foi a descoberta da fixação biológica de nitrogênio (FBN) pela planta da soja. Os estudos comandados pela pesquisadora Johanna Döbereiner levaram à solução que dispensou o uso de adubos nitrogenados nas lavouras da oleaginosa, e à economia de bilhões de reais por ano. “Em 2022, os produtores de soja deixaram de gastar R$ 70 bilhões com adubos nitrogenados”, afirmou Moretti.
O zoneamento climático foi o principal diferencial em pesquisas da Embrapa no período entre 1993 e 2003. A tecnologia permitiu realizar um mapeamento que indica as melhores épocas para o plantio de diversas culturas. Segundo Moretti, esse avanço reduziu as perdas de produção causadas por eventos climáticos. “E ainda trouxe o ganho de preservação de recursos naturais”, disse.
De 2003 a 2013, foi a integração lavoura-pecuária-floresta e suas variações que evidenciaram ainda mais o trabalho da empresa. A possibilidade de colocar no mesmo espaço bovinos de corte ou leite e a produção de grãos ou de pasto, em meio ao cultivo de árvores, trouxe uma série de benefícios quanto a produtividade, bem-estar animal e preservação ambiental, além de mais rentabilidade para fazendeiro e fazendeiras. Já são 18 milhões de hectares com algum tipo de integração, sendo a maioria com agricultura e pecuária, e até 2030, segundo a Embrapa, a meta é chegar a 35 milhões de hectares.
Já na última década (2013 a 2023), é a expansão dos bioinsumos que muito tem contribuído para o desenvolvimento de uma agropecuária cada vez mais sustentável. Com um leque mais amplo de soluções biológicas melhora também a posição do Brasil na corrida global pela segurança do alimento e do meio ambiente, pois reduz o uso de insumos químicos e até garante maior durabilidade desses produtos. A própria Embrapa tem apresentado bioinsumos ao mercado, em projetos exclusivos ou em parcerias.
De olho no futuro
Toda essa trajetória de 50 anos faz da Embrapa uma plataforma de preparação do futuro. E com o radar calibrado para muito além da produtividade agropecuária, pois a empresa tem um papel social de extrema importância. Os estudos desenvolvidos em seus 43 centros de pesquisa geram conhecimento para os mais diversos perfis de atividades, fazendas e produtores, democratizando as oportunidades de evolução e profissionalização.
A exploração científica tem gerado soluções que são multiplicadas e difundidas para também melhorar as condições de vidas de mulheres e homens do campo. E servem de base para a elaboração e a definição de políticas públicas voltadas à toda a cadeia produtiva de comida, principalmente, mas também de fibras e energia. A Embrapa tem fundamental importância no âmbito da segurança alimentar e da segurança do alimento, e na associação desse fornecimento com a sustentabilidade.
Com a evolução do agronegócio, que deve produzir 312,5 milhões de toneladas de grãos, 3,1 milhões de toneladas de algodão e 610,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar (com 37 milhões de toneladas de açúcar e 26,53 bilhões de litros de etanol), entre outras commodities igualmente expressivas, o Brasil também ganha mais notoriedade. Se por um lado surgem os holofotes de curiosidade e admiração, por outro também ficam mais intensas as luzes de desconfiança, cobrança e concorrência.
Nesse ponto, a Embrapa também tem sido fundamental. São da empresa os números que comprovam um total de 66,3% do território nacional composto pelas áreas destinadas à vegetação nativa, ou seja, 564 milhões de hectares. Segundo a empresa, esse espaço equivale a 43 países e cinco territórios da Europa. Vale ressaltar que 22% dessa área preservada estão dentro das propriedades rurais. E aí reside outro desafio do presente e do futuro. “Precisamos avançar na questão do pagamento por serviços ambientais”, afirmou Moretti.
A Produzindo Certo está totalmente alinhada com a Embrapa nessa questão, pois o trabalho que desenvolve para guiar as fazendas na trilha da sustentabilidade também visa à remuneração mais compatível com o serviço prestado em termos de preservação. Essa sintonia foi um dos motivos para que Aline Maldonado Locks, diretora-executiva da empresa, fosse convidada a participar de uma publicação comemorativa dos 50 anos da Embrapa.
Aline é autora de um dos artigos do livro O Futuro da Agricultura Brasileira – 10 Visões, que será lançado hoje, durante as comemorações do cinquentenário da Embrapa. Em seu texto O Brasil plantou um futuro verde, a executiva da Produzindo Certo mostra como o País, mais do que um celeiro de commodities agrícolas, também pode se consolidar como um manancial de soluções agroambientais. Segundo ela, “o desafio é democratizar o acesso a essas soluções por meio de políticas de inclusão rural que ofereçam crédito, conhecimento e assistência técnica a um enorme contingente de pequenos e médios produtores”.
É dessa forma coletiva que a Embrapa tende a ganhar mais força e relevância no cenário nacional e global, e para isso vai precisar manter sua gestão no rumo do desenvolvimento, buscando mais recursos de toda ordem e seguindo com a aplicação dos mesmos de maneira eficiente e responsável. Este será um dos desafios – ou até mesmo compromissos – de Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática, que assumirá em breve a presidência da empresa.
Silvia será primeira mulher a ocupar essa cadeira, ampliando o grupo de lideranças femininas no alto escalão de empresas públicas e privadas e de entidades ligadas ao agronegócio. A evolução tecnológica também precisa estar em sintonia com o amadurecimento da sociedade como um todo.