A produção de soja em Tocantins deve ultrapassar as 4,88 milhões de toneladas na safra 2023/24, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além de representar aumento de 1,5% sobre a temporada anterior, esse número indica que a oleaginosa representará mais de 63,7% do cultivo tocantinense de grãos. Embora ainda distante dos líderes da produção brasileira – Mato Grosso, número um nesse ranking, deve colher 44,3 milhões de toneladas –, o estado demonstra evolução na sojicultura em frentes diversas. A sustentabilidade é uma delas.
Exemplo desse crescimento é que fazendas produtoras de soja de Tocantins estão sendo fertilizadas por um projeto estadual de venda de créditos de carbono florestal, oportunidade almejada pelo setor em todo o País. A iniciativa que começou em julho deste ano e deve concluir sua fase piloto em junho de 2024 é voltada a toda a agropecuária do estado.
Trata-se de um programa estadual pioneiro de REDD+ jurisdicional, ou seja, Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação Florestal incluindo conservação e aumento dos estoques de carbono e manejo sustentável das florestas.
Esta fase piloto, que tem como objetivo engajar o setor produtivo na estratégia estadual, nasceu com investimentos de US$ 1,66 milhão do Land Innovation Fund, e conta com a participação do governo de Tocantins; e da Produzindo Certo, responsável pela aproximação com os sojicultores e por sua capacitação. A ação coletiva é liderada pelo Earth Innovation Institute, organização que promove o desenvolvimento rural favorável ao clima por meio de abordagens inovadoras em agricultura, silvicultura e pesca sustentáveis em regiões tropicais de todo o mundo.
Para Charton Locks, COO da Produzindo Certo, a injeção de dinheiro decorrente do programa estadual de REDD+ ajudará o estado a investir no desenvolvimento do agronegócio de maneira sustentável e com baixa emissão de carbono. “Isso possibilita que o Tocantins, um estado ainda em desenvolvimento, passe a ter a abertura de novas áreas como uma opção para seu crescimento, e não como uma necessidade”, afirma o executivo.
Expressão global
Além de uma oportunidade comercial para a produção agropecuária responsável, essa iniciativa projeta o estado de Tocantins no cenário mundial, sobretudo na Europa, onde há uma concentração significativa de empresas interessadas em negociar créditos de carbono.
Tanto é que a empresa compradora dos créditos de carbono desse projeto é a Mercuria Energy Trading, companhia multinacional de origem suíça. Vale ressaltar que os benefícios dessa negociação chegarão ao produtor de forma indireta, o dinheiro não irá, necessariamente, para as mãos dos fazendeiros.
Até por isso, o EII, a PC e representantes do estado estão dialogando com o setor produtivo, buscando entender quais são as melhores opções para utilizar a verba destinada à agropecuária, aplicação que pode ser feita, por exemplo, em escolas, brigadas de incêndio, crédito verde, viveiros etc.
Para que esse tipo de oportunidade se multiplique, é preciso estreitar a relação entre o Brasil e as organizações internacionais interessadas em produção agropecuária responsável. Essa é uma das direções que a Produzindo Certo tem adotado em sua atuação.
Mais do que apresentar ao cenário global as possibilidades existentes no País, e as chances de gerar novos negócios, a empresa trabalha para inserir agricultores e pecuaristas nessa pauta comercial de sustentabilidade. Um dos principais desafios é encontrar o equilíbrio entre ofertas e demandas nas duas pontas para gerar sinergia.
Um caminho fundamental para se estabelecer essa conexão é ter clareza e transparência em relação às condições de cada lado. Em muitos casos, empresas interessadas na produção responsável do agro brasileiro não têm a exata compreensão do rigor da legislação ambiental no País.
Por essa razão, tem sido importante a participação da equipe da Produzindo Certo nos encontros para definição das diretrizes do projeto e nos diálogos com os agricultores. Charton Locks vem acompanhando algumas das principais reuniões com os representantes das instituições envolvidas e seus grupos de trabalho.
Segundo Locks, a comunicação é essencial durante todo esse processo, mas principalmente no início, para que todos estejam na mesma página. “Já temos mais de 60 fazendas parceiras no Tocantins, e é fundamental deixarmos claro que os agricultores não vão perder sua capacidade de evolução de produção”, afirma o executivo.
Como a negociação dos créditos de carbono envolve a redução das emissões dos gases de efeito estufa, o processo todo passa por diminuição de desmatamento e de queimadas. No entanto, conforme avalia Locks, o combate ao desmatamento ilegal e a redução dos incêndios, já seriam suficientes para atingir as metas do programa.
Esse é outro campo em que a Produzindo Certo tem atuado de forma intensa, abrangente e contínua, o de informar corretamente como é construído o agronegócio responsável no Brasil.