O terreno em Dubai é seco e árido. Mas fértil para grandes projetos. A cidade de ares futuristas erguida com petrodólares no meio do deserto dos Emirados Árabes Unidos é cenário para ambições, não tanto para sementes.
Para quem acompanha à distância, do campo brasileiro, o noticiário da COP28, que termina na próxima terça-feira, 12 de dezembro, é difícil entender se o gigantismo dessa edição da conferência das Nações Unidas sobre o clima é um aspecto positivo ou negativo em termos de geração de resultados práticos.
Não há dúvida de que, quanto mais pessoas, empresas e países se engajarem na conversa, mais rica ela ficará. Com isso, também aumentam as probabilidades de boas propostas serem colocadas sobre as mesas – há conversações em muitas delas, governamentais, privadas, científicas… –, assim como de surgirem ideias estapafúrdias que acabam desviando a atenção daquilo que realmente interessa.
Há muitos relatos vindos de Dubai, numa proporção tão grande quanto as delegações que lotaram a cidade para a COP28. Os consensos ficam com a organização, elogiadíssima, a qualidade e o porte das instalações que abrigaram os debates e pavilhões nacionais.
Afora isso, impera a diversidade de opiniões, a começar pelo papel dúbio dos anfitriões que, sentados sobre uma gigantesca matriz energética fóssil, não teria conseguido disfarçar seu desconforto diante do apelo dos visitantes para que a indústria do petróleo aderisse a compromissos de cortes de emissão e de apoio a uma real transição a um futuro com fontes renováveis.
Quem acompanha as COPs há mais tempo – nunca é demais lembrar que, com essa, são 28 anos de conferências – tem demonstrado doses crescentes de frustração pela recorrência de assuntos que já deveriam ter evoluído para soluções, mas que continuam a esbarrar na falta de efetividade do fórum.
Cada vez maior, a COP estaria ficando grande demais para ser prática? Quase três décadas sem ter resultado real na redução das emissões de gases de efeito estufa – que bateram novo recorde este ano.
O 1 + 1 dos anúncios feitos por empresas e governos nesta edição, assim como em anteriores, não soma dois. E aí, a sensação é a de que o desfile de promessas (e até vaidades) apresentado no evento não seria, para falar a linguagem da conferência, sustentável.
O gigantismo e a disputa pelos holofotes geram uma poluição informativa em que é difícil, mesmo para quem acompanha o setor, visualizar o que é bom de fato daquilo que é só espuma.
A percepção é de que faltaria uma coordenação, uma governança global capaz de orientar pelo menos em que sentido devemos remar. Sem isso, fica sempre a dúvida: empresas, governos e ciência estão sobrepondo esforços ou sendo complementares?
Estabelecida dentro do concerto das Nações Unidas, a COP não tem poder de imposição e representa, assim como a própria ONU, apenas um ambiente para dar voz a muitos e buscar o possível. Seria isso insuficiente para as questões climáticas e os interesses envolvidos nela?
A COP21, em Paris, deixou um legado e uma esperança – o famoso Acordo de Paris, ainda que não implementado da forma como foi assinado – pelo menos estabeleceu um roteiro para os anos seguintes e o estabelecimento de metas nacionais e até privadas.
A conferência de Dubai talvez seja lembrada como o evento que levou à reflexão sobre a natureza das próprias COPs. Dentro de dois anos, Belém deve sediar a 30ª edição e já se pode adiantar que ela não será, nem de longe, tão grandiosa.
Debate-se, desde já, a falta de infraestrutura da cidade amazônica para receber tanta gente e tantos chefes de Estado. Talvez seja oportuno mesmo que ela encolha e seja realizada em um cenário mais natural, em que os visitantes possam entender o real impacto de suas decisões.
Uma COP com menos gente e selfies, com mais foco e resultados.