Projeto que faz o link entre pecuaristas brasileiros e empresas da moda completa primeiro ano com avanços nas propriedades. Resultados são apresentados em evento nos Estados Unidos
Criar um mercado mundial de créditos de couro responsável e, assim, gerar valor para o pecuarista com um material que, muitas vezes, é descartado. E, ao mesmo tempo, ser um exemplo de sustentabilidade da indústria da moda, sempre pressionada pelos consumidores e entidades ambientalistas sobre a origem das suas matérias primas e em defesa do bem-estar animal.
Esses são os principais objetivos de um projeto piloto de coordenação da cadeia do couro com produtores brasileiros liderado pela Produzindo Certo e pela Textile Exchange, organização global sem fins lucrativos direcionada a gerar impactos positivos em temas ligados às mudanças climáticas entre as principais empresas têxteis e de moda, com o apoio de gigantes internacionais, através da iniciativa Leather Impact Accelerator.
Os primeiros resultados da iniciativa serão apresentados nesta quinta-feira, 17 de novembro, em Colorado Springs, nos Estados Unidos, durante a Conferência Textile Exchange 2022. O projeto Couro Sustentável, que já conta com suporte de empresas como a marca sueca H&M Group, será destaque em um dos painéis da conferência, que terá a presença de Charton Locks, diretor de Operações da Produzindo Certo. Charton dividirá o painel “The Brand & Producer Connection” com a líder de sustentabilidade da Ralph Lauren, Samantha Fahrbach. A mediação será feita pela diretora do Leather Impact Accelerator, Anne Gillespie.
Durante o encontro, a intenção é apresentar a outras empresas da moda, que também estão preocupadas com a origem do couro que utilizam, o projeto piloto como uma solução. “No projeto, elas remuneram o produtor para que ele invista em adequações, certificação de bem-estar animal e não realize desmatamentos em sua propriedade. Em contrapartida, as grifes podem comunicar para a sociedade que estão contribuindo para uma produção de couro responsável, em biomas importantes, como Amazônia e o Cerrado brasileiro”, explica Locks.
Primeiros resultados
O trabalho de campo do projeto Couro Sustentável começou em janeiro, com a visita dos técnicos da Produzindo Certo a cinco fazendas selecionadas. “Fomos até as propriedades para fazer uma avaliação, tanto de sustentabilidade quanto de performance para atingir o nível de certificação de bem-estar animal”, conta Locks.
Depois dessa etapa de análises e orientações técnicas, os pecuaristas iniciaram os investimentos na adequação das fazendas para alcançar a certificação. Entre as ações realizadas, por exemplo, estava a reforma de currais para reduzir as chances dos animais se machucarem durante o manejo. Eles também fizeram treinamentos para a adoção do manejo racional desde o nascimento dos animais até o embarque para a saída da fazenda, aprimoraram as ferramentas de gestão, entre outras melhorias.
“A gente implantou sombra em volta das baias do confinamento, fizemos um curral novo em prol de melhorias do bem-estar animal e humano para desenvolver um trabalho com melhor qualidade. Estamos também investindo muito em água potável de poço artesiano com reservatórios e bebedouros artificiais para evitar que o gado vá tomar água em nascentes ou represas”, afirma Thiago Fabris, da Agropecuária Jatobá, em Paranatinga (MT), uma das cinco propriedades que participam do projeto.
Próximos passos
Além dos investimentos em bem-estar animal, os produtores também têm investido em outras ações de sustentabilidade, como a compra de equipamentos para o combate a incêndios, a construção de aceiros, a implantação de fábricas de biofertilizantes para reaproveitar os resíduos dos currais e em técnicas de construção de cacimbas para a conservação do solo.
Recentemente os pecuaristas selecionados para o projeto passaram por uma segunda checagem técnica. A partir dela, estão recebendo orientações para adequarem os pontos que continuam em aberto nas fazendas e, assim, poderem receber o nível de certificação que o programa exige.
Uma nova auditoria está prevista para janeiro próximo e os produtores devem receber novo aporte financeiro para seguirem com as melhorias nas fazendas. A expectativa é que eles tenham condições de passar por uma auditoria de certificação de bem-estar animal entre o final de 2023 e início de 2024. “Estamos confiantes de que vamos conseguir fazer com que as cinco fazendas sejam certificadas. Além disso, estamos trabalhando para a expansão do projeto com a inclusão de novas fazendas e adesão de mais empresas que atuam na moda”, finaliza o diretor da Produzindo Certo.
Conheça as fazendas que participam do projeto:
Fazenda: Grupo Morena
- Localização: Campo Novo do Parecis – MT
- Área da fazenda: 13.599 ha
- Área de floresta protegida: 2.469 ha
- Desmatamento no último ano: 0 ha
- Rebanho envolvido: 4.349
- Melhorias feitas no 1º ano: Aquisição equipamentos de combate a incêndio, local destinado para enterro dos animais, suspensão do uso de bastão elétrico.
Fazenda: Globo
- Localização: Sapezal – MT
- Área da fazenda: 12.011 ha
- Área de floresta protegida: 3.996 ha
- Desmatamento no último ano: 0 ha
- Rebanho envolvido: 4.271
- Melhorias feitas no 1º ano: Curral anti-estresse, treinamentos em bem-estar animal e Plano de Gestão de Resíduos Sólidos.
Fazenda: Paraná
- Localização: Barra do Garças – MT
- Área da fazenda: 31.923 ha
- Área de floresta protegida: 19.087 ha
- Desmatamento no último ano: 0 ha
- Rebanho envolvido: 24.493
- Melhorias feitas no 1º ano: Aceiros, controle de erosões e equipamentos de combate a incêndio. Curral anti-estresse e refeitório em construção.
Fazenda: Uvá
- Localização: Goiás-GO
- Área da fazenda: 10.897 ha
- Área de floresta protegida: 4.435 ha
- Desmatamento no último ano: 0 ha
- Rebanho envolvido: 10.530
- Melhorias feitas no 1º ano: Curral anti-estresse, aceiros, treinamentos em bem-estar animal e suspensão do uso de bastão elétrico nos animais.
Fazenda: Jatobá
- Localização: Paranatinga-MT
- Área da fazenda: 20.449 ha
- Área de floresta protegida: 13.356 ha
- Rebanho envolvido: 5.568
- Melhorias feitas no 1º ano: Novo curral, treinamentos para o bem-estar animal, reservatório de água em construção, reforma de pastagens em 700 ha, plantio de Eucalipto e Nim.