Produtores que realizaram a emissão do primeiro CRA Verde do Brasil têm oportunidade de renovar acesso a recursos
Há pouco mais de um ano, um grupo de sete agricultores do Centro Oeste realizou um feito até então inédito no mercado financeiro: a primeira operação de emissão de CRA Verde realizada por produtores, de forma coletiva, sem ligação com um grupo empresarial. Resultado de parceria entre a Produzindo Certo e as empresas Traive e Gaia Impacto, a operação captou no mercado de capitais o valor total de R$ 63,3 milhões para o financiamento, a taxas competitivas, das operações dos produtores que seguem as melhores práticas socioambientais nas suas propriedades.
Parte do grupo se reuniu, no início de abril, em um estande na Tecnoshow, exposição agrícola organizada pela cooperativa Comigo em Rio Verde (GO). Eles receberam placas comemorativas pela operação, que inaugurou uma nova e vantajosa alternativa para que produtores acessem recursos para o custeio de sua produção. Mais do que isso, eles puderam conversar com o COO da Produzindo Certo, Charton Locks, e os demais parceiros da iniciativa sobre a oportunidade de renovação da operação para mais uma safra.
A revolvência, como é chamada essa renovação, é um dos benefícios do modelo do CRA Verde.Tech, como foi batizada a emissão. Por ter vencimento apenas em 2025, o instrumento garante aos agricultores participantes o acesso a novas liberações de crédito por novas safras, tendo como base as mesmas condições e os mesmos compromissos estabelecidos no lançamento, em março de 2021. O trâmite para essas novas liberações de crédito é simplificado, podendo ser renovado em até três anos. A opção pela revolvência pode ser exercida pelo produtor, condicionada ao cumprimento dos compromissos assumidos na emissão do CRA Verde.
A operação teve como lastro a emissão, por parte dos produtores, de 17 CPRs (Cédulas de Produto Rural), em que estão vinculados, além de compromissos produtivos e financeiros, uma série de metas de desempenho socioambiental em suas propriedades. Antes do CRA Verde.Tech, apenas empresas de grande porte haviam realizado a emissão de títulos verdes com essa finalidade.
Entre os compromissos assumidos pelos produtores estão a preservação de 24.667 hectares de áreas protegidas com vegetação nativa intacta – sendo 2.505 hectares de matas ciliares no entorno de 387 quilômetros de rios e 141 nascentes.
“Um dos maiores benefícios dessa operação é a valorização dos ativos ambientais e do trabalho de preservação feito pelos produtores através da obtenção de recursos e taxas diferenciadas, o que não acontece na comercialização de sua produção ou mesmo nos modelos tradicionais de crédito rural”, afirma Aline Locks, CEO da Produzindo Certo.
Os produtores que aderiram ao CRA Verde.Tech têm liberdade para a utilização dos recursos em suas propriedades. Seus compromissos com ações socioambientais, verificados pela Produzindo Certo, são valorizados pelos investidores, o que contribui para a captação dos recursos com taxas mais vantajosas.
O uso de tecnologia na análise do crédito possibilitou a exclusão de custos normalmente adicionados a operações de securitização que visam a redução do risco para o investidor final nos papéis. Somando-se à desburocratização na formalização de documentos e à participação de investidores com o perfil da operação, obteve-se um custo final para os produtores significativamente inferior aos normalmente praticados no mercado. Os produtores podem ainda contar com um seguro agrícola sob medida, com maior flexibilidade para escolher as condições de cobertura, conforme seu histórico produtivo e atendendo suas reais necessidades.
“Meu plano foi para financiar 5% da produção da safra, e quero fazer mais nesse sistema. Seria bom ter prazos maiores, para investir em adubação verde e ter um pouco mais de resultados. Os juros menores dão condições para produzir melhor”, afirma Benildo Teles, produtor de grãos e pecuarista que mantém propriedades próprias ou arrendadas em Goiás, Mato Grosso e Pará e um dos agricultores participantes do grupo na emissão pioneira.
Teles aplicou os recursos principalmente na compra de calcário e fertilizantes e também para aperfeiçoar práticas como Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIPD), implementação de um programa de manejo e mitigação do uso de fertilizantes e corretivos agrícolas, com rotinas de monitoramento e manejo das propriedades de fertilidade do solo e monitorar os avanços na conservação do solo e da água dentro da propriedade, além de buscar a máxima eficiência nos recursos energéticos. Duas das propriedades de Teles integram a Plataforma Produzido Certo, que ele considera um importante apoio para manter os funcionários atentos a todas as medidas e perseguir a evolução contínua.
O CRA Verde.Tech recebeu certificação da Climate Bonds Initiative (CBI), uma organização internacional e referência global em critérios de rotulagem desse tipo de transação. Segundo a CBI, a operação é a primeira realizada coletivamente por produtores a poder exibir certificação de acordo com os seus novos critérios agrícolas, estabelecidos em outubro de 2020. E apenas a terceira no mundo, se consideradas as feitas também por grandes grupos agrícolas.