Brigada Aliança fecha acordo com empresas e governos e multiplica número de equipes para prevenção e combate a incêndios em várias regiões
As cenas impactantes de grandes áreas em chamas, devastando reservas nativas e vitimando milhares de animais, marcaram a estação de seca no Pantanal e em outras regiões brasileiras no ano passado. Diante das perspectivas de que elas se repetissem em 2021, no entanto, uma mobilização de forças públicas e privadas gerou um reforço importante para a prevenção e combate focos de incêndios florestal.
Apenas a Brigada Aliança – criada em 2009 e que reúne experientes guerreiros do fogo, equipados e preparados com apoio da elite do Serviço Florestal Americano dos Estados Unidos (USFS), os Smokejumpers – implantou 12 novas equipes. Elas são parte de um projeto Agrobrigadas, idealizado em 2019 para a formação de grupos privados, que este ano vão a campo no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e em Goiás. O objetivo é ampliar a prevenção, o monitoramento e o combate não apenas na estação de seca, mas de forma contínua para que as ações sejam mais efetivas.
PANTANAL SEM FOGO
A ampliação do número brigadistas no campo foi possível graças à parceria da Aliança com diferentes instituições, em uma ação articulada com empresas e organizações de governo. Uma das mais amplas foi realizada em áreas do Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul, onde cinco agrobrigadas financiadas pela JBS e coordenadas pela Brigada Aliança passam a apoiar produtores rurais no entorno do Pantanal, uma das áreas mais atingidas por incêndios florestais no ano passado. Além das ações diretas de supressão de incêndios, a equipe também oferece treinamento aos produtores rurais e comunidades locais para aumentar a capacidade de prevenção e enfrentamento nas respectivas regiões.
A JBS é a segunda maior empresa de alimentos do mundo. Ações como essa integram sua estratégia de assegurar a sustentabilidade dos seus negócios, incluindo a meta de desmatamento ilegal zero para sua cadeia de fornecimento de bovinos até 2025.
“O planejamento, a prevenção e a capacitação evitam prejuízos. E qual interesse da indústria nisso? Precisamos de mais pecuaristas produzindo certo, para manter seus negócios de forma sustentável e abastecer a indústria e o mercado de alimentos”, afirma Liège Vergili, diretora de sustentabilidade da Friboi (JBS). “Estamos do lado da produção coerente e sustentável. Esse papel das brigadas é muito importante. Não tem solução pronta ou que você faça sozinho. A JBS não poderia ficar fora de uma solução coletiva e de uma preocupação que é consenso de todos os elos produtivos”.
Além dos danos ao meio ambiente, os incêndios provocam prejuízos para os produtores rurais, com a perda de pastagens, da produção agrícola, de maquinários e benfeitorias, além de causar danos ao solo que levam anos para ser recuperados, especialmente para quem adota o plantio direto.
Segundo a gerente de projetos da Brigada Aliança, Caroline Nóbrega, a ampliação da atuação dos brigadistas da Aliança era um desejo que ganhou força em função das cenas tristes de incêndios do ano passado e com a previsão de mais uma estação de seca extrema.
“A nossa equipe é muito bem treinada, com experiência em diferentes regiões como os biomas Cerrado e Amazônia, áreas de preservação, terras indígenas e propriedades privadas pequenas ou de grandes extensões. A gente sabia que podia fazer mais em parceria com outras organizações e iniciativas.”, afirma Caroline.
Em mais de 10 anos de atuação, os brigadistas acumulam cerca de 500 incêndios combatidos e mais de 133 mil horas/homem de ação. “Para se tornar um líder é necessário pelo menos um ano de formação, incluindo treinamento básico, experiência prática e uma formação específica sobre liderança”, completa.
AÇÃO NO CERRADO
Em Goiás, a parceria é com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, que deu origem a cinco brigadas regionais. Elas atuam desde maio passado na proteção de 12 unidades de conservação. Em 2020, brigadistas foram responsáveis por dois parques no estado e os resultados desse trabalho impulsionaram a ampliação da parceria neste ano, segundo o superintendente de Unidades de Conservação e Regularização Ambiental, Flavio Ribeiro.
“A gente viu o efeito em Caldas Novas. A Brigada atuou em um ciclo completo com resultados excelentes. E aí contratamos as brigadas e colocamos em cinco pontos estratégicos do estado, cobrindo 12 das 14 unidades do estado. E com essa força humana, investimos muito em materiais como EPIs, motosserra, motobomba, drones e horas máquinas também”, conta Flavio.
O trabalho em Goiás está focado na proteção das áreas de conservação, mas os brigadistas fazem contato com proprietários de terras do entorno dos parques para trabalhar a conscientização e educação ambiental da comunidade. Os profissionais auxiliaram ainda governo do Estado e prefeituras em treinamentos de voluntários para prevenção e combate. As orientações incluem a construção e manutenção de aceiros, identificação de áreas de risco de incêndio e os equipamentos necessários para fazer o primeiro combate no início de focos de incêndio.
Os recursos para a organização das agrobrigadas, aqui, vêm de empresas privadas que assinaram termos de ajustamento de conduta em função de passivos ambientais com o Estado. Em campo, os líderes da Brigada da Aliança são os responsáveis por coordenar as novas brigadas. E o trabalho é diário, com estudo sobre a localização e o contexto, treinamentos, fazendo manutenção de aceiros, roçagem, falando com as comunidades, monitorando os focos de calor, entre outras ações.
A preocupação com o fogo só aumenta nessas regiões com a seca extrema e uma temporada de chuvas com níveis abaixo do histórico. As equipes das brigadas já precisaram atuar em combate a incêndio em Goiás neste ano.
Flavio destaca outro ponto relevante de uma atuação efetiva contra incêndios florestais: o trabalho integrado focado em prevenção. “Temos planos operativos, fizemos um mapa de setorização com o Corpo de Bombeiros, que divide as unidades em setores, marcam onde deveriam ser os aceiros. Fizemos um mapa para saber onde tem o combustível, para onde vai o vento. A gente segue o boletim diário do hidrológico, temos parceria com a defesa civil, para monitorar os focos de calor”, conclui.
SOJA E PREVENÇÃO
Além das ações com produtores da cadeia de suprimentos da JBS e da parceria com o governo do Estado de Goiás para guarnecer unidades de conservação, duas novas brigadas foram formadas para atuar com agricultores de soja dos municípios de Campos de Julio e de Planalto da Serra, ambos no Mao Grosso.
O investimento é uma continuação de um projeto internacional para expansão da produção sustentável de soja que envolvem as seis principais traders globais, reunidas no Soft Commodities Forum (SCF), e conta com a participação da Produzindo Certo.
As duas brigadas estão apoiando os produtores que integram o projeto nos dois municípios que contam com ocupação relativamente recente, com crescimento principalmente na produção de soja nos últimos anos e regiões sob pressão de desmatamento.
Resultados e comprovação científica
Um estudo publicado nesse ano, realizado pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), demonstrou o custo e a efetividade do investimento em manejo dos incêndios florestais na Amazônia e no Cerrado. Se, por um lado, o estudo confirmou que se investe muito pouco em prevenção e manejo, também conseguiu calcular os benefícios desse investimento quando realizado de forma planejada, integrada e sistemática. Ao avaliarem as propriedades que fazem parte da Plataforma Produzindo Certo, os pesquisadores concluíram que o investimento – cerca de 16 dólares por hectare, 200% mais que a média do Cerrado de 2012 a 2016 – levou a uma redução de 50% das áreas queimadas.
As agrobrigadas
Na região do Pantanal (Mato Grosso e Mato Grosso do Sul)
- Pedra Preta (MT)
- Cáceres (MT)
- Araputanga (MT)
- Poconé (MT)
- Anastácio (MS)
- Área total: 2 milhões de hectares
- Financiador: JBS/Friboi
Unidades de conservação de Goiás
- Parque Estadual do Araguaia
- Floresta Estadual do Araguaia
- Parque Estadual dos Pireneus
- Parque Estadual da Serra de Jaraguá
- Parque Estadual da Serra Dourada
- Parque Estadual de Terra Ronca
- Estação Ecológica Chapada de Nova Roma
- Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco
- Parque Estadual João Leite
- Parque Estadual Tema Orgal
- Parque Estadual da Mata Atlântica
- Parque Estadual da Serra de Caldas Novas
- Área de atuação: 130.671,21 há
- Parceira: Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás
Produtores de soja do MT
- Área de atuação: municípios de Campos de Julio e Planalto da Serra (MT)
- Parceira: Soft Commodities Forum (SCF)/REM-MT