O que define a Bioeconomia e como o agronegócio pode se beneficiar dela
O açaí, as castanhas e óleos essenciais da Amazônia ou mesmo os defensivos biológicos cada vez mais utilizados na agricultura podem fazer parte de um conceito cada vez mais valorizado pelos mercados ao redor do mundo. Com uma definição ampla, que se aproxima de um modelo produtivo, a Bioeconomia é uma tendência recente e oferece oportunidades em diferentes áreas da imensa cadeia produtiva do agronegócio.
Engana-se quem pensa que basta ser de fonte biológica para se enquadrar no termo. Seu principal diferencial em relação ao sistema convencional é o uso sustentável dos recursos naturais, ou seja, a partir de práticas que equilibram capacidade produtiva sem comprometer a disponibilidade futura dos insumos.
Na agricultura, a Bioeconomia se expandiu, principalmente, nas áreas de energia, com a produção de biocombustíveis oriundos da cana-de-açúcar, celulose e madeira nativa ou plantada, além da já citada produção de defensivos biológicos.
Mas seu potencial é bem maior. Ainda mais considerando que o Brasil é o país mais biodiverso do mundo. Os produtos de base biológica podem complementar ou até mesmo substituir os convencionais no valor de US$ 7,7 trilhões até 2030, especialmente em setores de alimentos, rações e energia, segundo projeção do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) em parceria com o Boston Consulting Group.
Nesse mês, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lançou um documento em que sugere nove pontos para promover a bioeconomia brasileira, e ressalta a importância do papel do governo para que o seu potencial se concretize. A visão de bioeconomia proposta pela Coalizão associa a agricultura, a pecuária e as florestas para alavancar sistemas produtivos sustentáveis e biodiversos que promovam restauração de paisagens, regeneração do solo, conservação de biodiversidade, valoração dos serviços ecossistêmicos e eficiência agropecuária.
A principal recomendação do documento é a criação de uma política nacional que inclua incentivos fiscais para posicionar o país na vanguarda desta nova frente econômica, além de destravar o acesso a linhas de crédito disponíveis e otimizar o uso de linhas de financiamento voltadas à bioeconomia e à descarbonização.
O documento lista ainda exemplos de indústrias que poderiam ampliar o uso de recursos naturais renováveis, como produção de plásticos biodegradáveis, biopolímeros, biopesticidas, pigmentos, alimentos funcionais e biofortificados até medicamentos, fragrâncias e cosméticos. Além, é claro, de produtos da biodiversidade como açaí, copaíba, castanha, babaçu, juçara, pupunha e outros.
A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) incluiu em seu Plano Diretor a inserção estratégica e competitiva da bioeconomia brasileira no contexto mundial e, para isso, investe em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Até 2030, a Embrapa prevê adoção de novas soluções tecnológicas alternativas a produtos de base não renovável, novas matérias-primas renováveis e bioativos e bioinsumos a partir dos recursos genéticos da Amazônia, Pantanal e da Mata Atlântica.
O avanço da bioeconomia também poderia reforçar a resposta brasileira para as mudanças do clima, estimulando o desenvolvimento de recursos renováveis em substituição a fontes de energias fósseis. Reportagem publicada no jornal Valor Econômico indica que o Brasil está ficando para trás nessa agenda. Pelo menos 30 países já estruturaram programas nacionais de bioeconomia.
Exemplos de bioeconomia e medidas para impulsionar esse mercado serão apresentados no mês que vem no Fórum Mundial sobre Bioeconomia, que será realizado no Pará. A liderança é da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e da Coalizão. O encontro internacional existe desde 2018 e até então era realizado na Finlândia. Naquele país, o segmento que mais avançou na bioeconomia foi a indústria de papel e celulose, com um importante componente de economia circular (reciclagem e reinserção dos recursos na cadeia produtiva). Na Europa de maneira geral, a reciclagem de papel chega a 72% e as fibras podem ser reutilizadas, em média, 2,5 vezes.